(Ueslei Marcelino/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 23 de janeiro de 2017 às 16h36.
Última atualização em 23 de janeiro de 2017 às 17h51.
São Paulo - 2016 foi um ano desastroso para a economia da Venezuela.
O Produto Interno Bruto (PIB) recuou quase 19% e a inflação chegou a 800%, segundo dados preliminares do banco central do país vistos pela Reuters.
Os números impressionam mesmo considerando o histórico recente do país: foi a maior contração econômica em 13 anos e a pior taxa da inflação já registrada.
Economistas dizem que isso é resultado das políticas de Hugo Chávez e do atual presidente Nicolás Maduro, uma combinação tóxica entre controle cambial, estímulo a demanda e controle do setor produtivo.
A situação piorou a partir de meados de 2014 com a queda abruta do preço do petróleo, a principal exportação da Venezuela.
Isso arrasou com as contas públicas, aumentou o risco de calote e secou ainda mais os recursos para compra de importados. A escassez e a pobreza aumentaram.
Mas o preço do petróleo subiu 45% em 2016 e a situação do país não melhorou: o setor petrolífero encolheu 12,7% enquanto o não petrolífero recuou 19,5%, também segundo a Reuters.
O governo culpa uma "guerra econômica" de empresários de direita e reage com anúncios que não atacam o problema ou o agravam. Veja na ordem cronológica três exemplos, todos das últimas 3 semanas:
Aumento do salário mínimo (08/01)
O salário mínimo na Venezuela foi elevado em 50% e chegou a 40.638 bolívares (60 dólares, na taxa oficial mais alta, e 12 dólares na cotação do mercado negro).
Ele é complementado por um bônus de alimentação de 63.720 bolívares (93 dólares, na taxa oficial, e um quinto disso na cotação paralela).
Foi o quinto aumento em um ano, destacou Maduro, sem notar que isso é insuficiente para manter o poder de compra corroído pela inflação.
Circulação de novas cédulas (16/01)
Outro problema trazido pela inflação é que as notas perdem valor rapidamente e quantidades enormes acabam sendo necessárias até para pequenas compras.
O valor mais alto até pouco tempo era de 100 bolívares, metade do preço de um único cigarro.
A partir da semana passada, entraram em circulação notas novas e a mais alta é de 20.000: cerca de 30 dólares, ou metade de um salário mínimo.
A mudança havia sido anunciada em dezembro; Maduro colocou a culpa do atraso em uma "sabotagem internacional".
Mudança do presidente do Banco Central (22/01)
Maduro anunciou neste domingo a substituição do presidente do Banco Central (BCV). Ele diz que o atual presidente renunciou, mas segundo a imprensa, ele foi demitido.
Sai Nelson Merentes, um matemático de 62 anos, que liderava o BCV desde 2009 (com exceção de um período de oito meses em 2013, quando foi ministro das Finanças).
Entra Ricardo Sanguino, economista de 73 anos, deputado desde 2000 e presidente da Comissão de Finanças e de Orçamento da Assembleia Nacional.
Não são esperadas grandes mudanças. A instituição não tem autonomia e nada indica que Sanguino seja um crítico das políticas do governo: no Twitter, ele se define como "bolivariano e anti-imperialista".