O TikTok é uma ameaça?

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TikTok'S CEO Says He Faces Competitors With 'Bigger Muscles'

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Tecnologia

EUA vs. TikTok: o desafio de expurgar o app que traduz uma geração

Sob a alegação de que fornece dados de usuários à China, os EUA pedem que o TikTok seja banido. Mas usuários e Pequim se opõe à decisão

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EUA vs. TikTok: o desafio de expurgar o app que traduz uma geração

Sob a alegação de que fornece dados de usuários à China, os EUA pedem que o TikTok seja banido. Mas usuários e Pequim se opõe à decisão

TikTok'S CEO Says He Faces Competitors With 'Bigger Muscles'

Por André Lopes

Publicado em 04/04/2023, às 15:59.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:14.

O TikTok é uma ameaça?

Os Estados Unidos há pelo menos três anos encaram o aplicativo criado pela ByteDance como uma questão de segurança nacional. Em 2020, na gestão Trump, a controladora entrou pela primeira vez no radar das autoridades americanas em meio a guerra comercial fortificada pelo republicano contra Pequim. Na época, para escapar do encalço, a chinesa se dispôs a transferir a gestão dos dados do ocidente para a americana Oracle, e, em medida de boa vizinhança, se disse aberta a ser vendida para uma holding dos EUA.

O plano não foi concluído. Trump saiu de cena, e a plataforma que funciona em um feed infinito e viciante, com vídeos de todos os tipos e propagados por algoritmo de recomendação poderoso, chegou a marca de 150 milhões de usuários ativos somente nos EUA, como mais de 1 bilhão de contas em todo o globo. A rápida expansão, lançou o TikTok ao posto de maior e mais influente rede social do começo da década de 2020.

De lá pra cá, a ByteDance seguiu pressionada e viu que o sucesso entre o público não seria suficiente para prosperar na América. A razão segue a mesma de anos atrás: o app é um triunfo tecnológico da China e as autoridades de Washington temem que Pequim possa subverter o aplicativo para espionar os americanos ou espalhar propaganda comunista.

Em uma camada mais abaixo, há também preocupações sobre a saúde mental de crianças e adolescentes, que representam uma parcela importante dos usuários da plataforma e hoje enxergam o aplicativo como um marco do comportamento da geração Z, grupo etário dos nascidos a partir dos anos 2000 - assim como foi o Facebook e Instagram para os millennials, a geração antecessora.

No escrutínio atual, a recente aparição do CEO Shou Zi Chew perante os legisladores americanos, ocorrida no final de março, falhou em amenizar quaisquer das preocupações inflamadas. Pelo contrário, na sequência a administração Biden emitiu um ultimato repetindo a ordem já dada por Trump aos proprietários chineses do TikTok: venda a unidade dos EUA - à qual Pequim disse que se oporia - ou enfrentará uma possível proibição. Um banimento que, por consequência, também deve trazer a fúria de milhões de jovens americanos.

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O CEO nega a proximidade com Pequim

O caso de ''segurança nacional'' alegado pelos EUA se da pelo fato de que as empresas com presença na China são obrigadas a fornecer dados se solicitadas a ajudar a inteligência do estado. E na divisão do TikTok, a controladora tem 60% de propriedade divididos entre investidores globais; funcionários têm 20%. Mas o fundador chinês, Zhang Yiming, é dono do restante e tem controle por meio de ações com um supervoto, afirmam fontes do jornal inglês Financial Times. Serie ele o elo de ligação do problema.

O CEO Chew insiste que a empresa nunca foi solicitada à enviar dados dos EUA para autoridades chinesas, e afirmou publicamente que nunca o faria. E de fato não há nenhuma evidência de haja vigilância em massa com pompa do que foi feita por pares americanos como Meta e Microsoft.

O mais próximo disso foi o relato, sem provas, de que, em 2022, funcionários da ByteDance baseados na China acessaram dados de usuários americanos, incluindo os de jornalistas.

Em um cenário no qual o TikTok não conseguiu convencer o Comitê de Investimentos Estrangeiros nos EUA (Cfius) de que uma parceria com a Oracle, de computação em nuvem, ao custo de US$ 1,5 bilhão, seria suficiente para amenizar as dúvidas sobre a companhia, e a China se opões à venda completa, proibir o TikTok  caminha para a censura das comunicações de um serviço usado por milhões de pessoas e, num cenário médio, provavelmente estará sujeito a um desafio da Primeira Emenda americana.

Pequim tende a encarar a situação como mais uma tentativa dos EUA de mitigar suas histórias de sucesso corporativo, assim como fez recentemente com o banimento da Huawei, empresa chinesa líder em telecomunicações.

Por alto, não fugiria do teor das restrições da China impostas ao Facebook, Google e Twitter, mas daria abertura para qualquer governo estrangeiro proibir empresas de tecnologia dos EUA por motivos semelhantes.[/grifar]

Vídeos no TikTok: app tem 1 bilhão de usuários ativos mensais

Além do TikTok

A perspectiva de uma proibição ainda pode persuadir o TikTok a oferecer mais salvaguardas ao Cfius, como liberar a venda da propriedade intelectual por completa do algoritmo de recomendação para que um TikTok americano fosse criado, ou, cedido para que uma plataforma já existente ganhasse um upgrade.

Qualquer que seja a decisão, a crítica de analista sobre o embate das potência se dá pelo fato de que os EUA deveriam tentar resolver a questão abrangendo todas as empresas de tecnologia, implementando uma estrutura federal completa sobre privacidade de dados para empresas estrangeiras e nacionais, no lugar da colcha de retalhos de leis atuais.

Embora o TikTok seja o favorito dos jovens, a outra grande prioridade de proteger os adolescentes de danos online seria melhor alcançada por meio de salvaguardas federais aplicadas a todas as empresas de conteúdo online.

E se o Congresso patina, muitos estados americanos já estão dando seus próprios passos; no mês passado, Utah se tornou o primeiro a exigir que as empresas de redes sociais obtenham o consentimento dos pais para que as crianças usem aplicativos e verifiquem se os usuários têm 18 anos ou mais.

Fora dos EUA, o Reino Unido multou o TikTok em US$ 15,9 milhões e pediu por mais formas de afastar crianças do app e a Austrália e Itália seguiram a posição dos EUA de banir a plataforma.

De símbolo da cultura digital propagada para jovens de todo o globo, aos poucos, o TikTok caminha para ser um negócio da China e nada mais.

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Créditos

André Lopes

André Lopes

Repórter

Com quase uma década dedicada à editoria de Tecnologia, também cobriu Ciências na VEJA. Na EXAME desde 2021, colaborou na coluna Visão Global, nas edições especiais Melhores e Maiores e CEO. Atualmente, coordena a iniciativa de IA da EXAME.

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