A década do crescimento

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10 anos de Nubank: maturidade transformou a fintech em bancão?

Com quase metade da população adulta do Brasil como cliente, Nubank busca novas avenidas de expansão para as próximas décadas

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10 anos de Nubank: maturidade transformou a fintech em bancão?

Com quase metade da população adulta do Brasil como cliente, Nubank busca novas avenidas de expansão para as próximas décadas

nubank_ipo_bolsa_nova_york_divulgacao3 (Divulgação/Nubank)

Por Beatriz Quesada

Publicado em 25/05/2023, às 15:30.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:14.

A década do crescimento

O Nubank foi um filho que cresceu mais rápido do que os pais esperavam. Em 2013, o colombiano David Vélez, a brasileira Cristina Junqueira e o americano Edward Wible colocaram a empresa para dar seus primeiros passos em uma casa no bairro do Brooklin, em São Paulo, para, 10 anos depois, ocupar um prédio inteiro ao lado da Oscar Freire, uma das ruas mais nobres da cidade.

A ambição já era grande desde o dia um: desafiar e conquistar espaço dentro do sistema bancário, um dos mercados mais estabelecidos (e concentrados) do Brasil, que tem cinco grandes bancões tradicionais: Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa. Parte do desafio já foi alcançado, uma vez que, hoje, quase metade dos adultos brasileiros é cliente do roxinho

Muitos deles vieram da parcela de desbancarizados, clientes que não tinham uma conta bancária antes do Nubank. Segundo a última versão do Global Findex Database, levantamento feito pelo Banco Mundial a cada três anos, 84% da população brasileira com mais de 15 anos tinha conta em instituições financeiras em 2021. Na pesquisa de 2014, a parcela era de 68%. Nesse meio tempo, diversas fintechs e plataformas digitais foram em busca desse público, ajudadas pela adoção do digital e pela popularização de serviços como o PIX. Nas estimativas do Nubank, a empresa incluiu 21,6 milhões de clientes no sistema financeiro na última década.

O crescimento acelerado da fintech veio na esteira da explosão das startups, com juros baixos e dinheiro barato financiando a rápida expansão de negócios que prometiam lucro no futuro. Tanto que em seu primeiro resultado após a abertura de capital, o Nubank deu prejuízo de US$ 66,2 milhões. Porém, de lá para cá, o cenário mudou. Os juros subiram, a fonte de financiamento secou e os investidores começaram a cobrar resultados das novatas de tecnologia. Como resposta, o Nubank adaptou a estratégia, focando na mudança da regra de rentabilidade da conta digital. Está dando certo: a fintech entregou no último trimestre seu terceiro balanço consecutivo no azul desde o IPO em 2020.

O balanço mostrou um lucro de US$ 142 milhões no período, pouco mais que o dobro do que era esperado pelos analistas. A maioria das casas de análise está otimista com a empresa e recomenda compra da ação. De dez recomendações compiladas pela EXAME Invest, sete casas recomendam a compra da ação, entre elas, Goldman Sachs, Citigroup e Itaú BBA. JPMorgan e BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) seguem neutros no papel e Santander indica a venda da ação. O principal fator que ainda joga contra o Nubank é o ceticismo quanto ao seu valor de mercado, que estaria inflado em relação ao valuation, métrica que busca calcular o valor intrínseco da fintech. Vale lembrar que o burburinho era maior na época do IPO, quando o Nubank chegou a ultrapassar o valor de mercado do Itaú, o maior banco do Brasil. 

A situação, agora, é diferente. O Nubank sofreu na bolsa e hoje vale menos que o Itaú. O roxinho, no entanto, está disputando o segundo lugar com o Bradesco desde que o resultado do primeiro trimestre deu um empurrão nas ações -- os dois valem cerca de US$ 32 bilhões. Seria o suficiente para dizer que, uma década depois da fundação, o Nubank passou de fintech a bancão?

Como nasce um bancão

A pergunta se o Nubank já está no grupo dos bancões não tem resposta simples. Existem algumas métricas para medir o tamanho de um banco, e o valor de mercado é apenas uma delas. Além de saber quanto o banco vale, é possível checar quanto o banco tem. Entra aí o patrimônio líquido, que mede a diferença entre ativos e passivos, ou seja, a riqueza da empresa e dos seus acionistas. Outro ponto observado pelo mercado é o ativo total, que mede a totalidade dos recursos que estão à disposição da empresa para a geração de mais riqueza no futuro. E, nesses dois indicadores, o Nubank segue bem atrás dos grandes bancos. O patrimônio do Itaú, por exemplo, é quase sete vezes maior que o do Nubank.

A discrepância já era esperada, afinal, o Nubank é um banco que acaba de completar uma década, enquanto o Santander Brasil, caçula entre os bancões, começou sua operação há quarenta anos. Já o veterano Banco do Brasil tem mais de dois séculos de história. Sem patrimônio e recursos que se igualem aos gigantes, o que realmente colocou o Nubank no mapa foi a conquista vertiginosa de clientes.

Base de clientes e busca pela rentabilidade

O Nubank chegou ao mercado como um cartão de crédito sem anuidade, em uma época em que o Banco Central começava uma jornada de flexibilização que dava espaço às fintechs. O objetivo da recém-chegada era se opor à complexidade representada pelos bancões, oferecendo uma operação completamente digital, sem agências, sem tarifas e focada na experiência do cliente. 

Fazer oposição ao tradicional, a propósito, sempre foi a norma. A cor roxa e o nome de “banco nu” fazem parte da estratégia: o “nu” vem tanto do inglês “new”, que significa “novo”, mas também representa a simplicidade de ser um “banco pelado”. 

O consumidor comprou a ideia e gostou do produto. Em outubro de 2014, o Nubank tinha mil clientes. Sete meses depois, a base já tinha crescido para 50 mil pessoas. Hoje são 79,1 milhões de clientes, com crescimento de 4,5 milhões apenas no último trimestre. Atualmente, 46% da população adulta do País é cliente do Nubank.

“Ninguém imaginava a velocidade de crescimento, [já que] serviços financeiros e cartão de crédito não são produtos virais. O interessante é como o brasileiro estava pronto para mais alternativas”, disse David Vélez, CEO e fundador do Nubank, em evento com a imprensa para comemorar os 10 anos da marca. Para além do cartão, a fintech oferece hoje conta digital, investimentos, seguros e marketplace, entre outros serviços financeiros.

A fidelidade dos consumidores é traduzida em números no que o mercado chama de potencial de engajamento da base. Esse indicador é medido principalmente pela receita que cada cliente traz para os cofres do banco. A ARPAC (receita média mensal por cliente ativo) do Nubank chegou a US$ 8,6 no último trimestre, um crescimento de 30% na base anual, mas ainda longe do patamar dos bancões, que tem uma receita por cliente próxima dos US$ 40. Isso, na visão do CFO Guilherme Lago, abre uma “avenida de crescimento” para o Nubank dentro da própria base, especialmente considerando que a fintech tem uma plataforma de baixo custo se comparada aos bancões.

A combinação de fatores é o que pode impulsionar o principal indicador de excelência empresarial de um banco: sua rentabilidade. O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) do Nubank atualmente é de 11,4%, enquanto os maiores bancos do Brasil rondam o patamar dos 20%. Mas, considerando apenas a operação brasileira, a mais madura, o ROE do Nubank seria de 37% – acima de todos os bancões. O que segura a rentabilidade do Nubank, segundo a administração, é a estratégia de conquistar mercados além das fronteiras brasileiras. Atualmente, os bons resultados no Brasil são o combustível para financiar a expansão no México e na Colômbia. O México, inclusive, é visto como um mercado com potencial de crescimento maior que o Brasil.

David Vélez, CEO e fundador do Nubank, em evento com a imprensa para comemorar os 10 anos do Nubank

David Vélez, CEO e fundador do Nubank, em evento com a imprensa para comemorar os 10 anos do Nubank

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Nubank quer ser um bancão?

O Nubank pode não ter o patrimônio e o ativo de um bancão, mas tem um patamar de rentabilidade e uma base de clientes que permite uma disputa de igual para igual com os gigantes do setor. Ainda assim, o Nubank não quer se posicionar no mesmo patamar dos grandes bancos brasileiros.

A questão vem em parte, da origem do negócio: a fintech que sempre foi oposição não tem intenção de se colocar no mesmo grupo dos concorrentes. “Hoje temos várias licenças financeiras, mas isso são meios, não é o fim. Não estamos aqui para virar um banco, mas para resolver problemas dos nossos clientes”, defendeu Cristina Junqueira, fundadora e CGO do Nubank.

A imagem que o Nubank quer construir não é a de um grande banco digital, mas de uma empresa de tecnologia. O Nubank seria então uma “money platform”, uma plataforma que tem uma visão completa das informações do cliente a ponto de oferecer um serviço personalizado em diversas frentes, como um consultor financeiro.

“Na primeira década o objetivo era criar um banco no bolso de cada consumidor. Agora, a meta é criar um personal banker no bolso de cada investidor. Em 2033, esperamos contar como convertemos um banco digital na maior e mais influente money platform do mundo”, argumentou Vélez. 

E para os próximos anos, a intenção é também sair do smartphone para soluções em inteligência artificial que permitam novas formas de interação do cliente com o Nubank. O CEO não revelou o que vem pela frente, mas confirmou que as soluções de IA são a prioridade da empresa para as próximas décadas.

Cristina Junqueira e David Vélez, fundadores do Nubank

Cristina Junqueira e David Vélez, fundadores do Nubank

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