Ciência

Voluntários fazem fila para ser infectados com coronavírus

30 mil pessoas estão dispostas a se expor deliberadamente à covid-19 para testar uma potencial vacina

Coronavírus: ideia de infectar propositalmente pessoas com um patógeno perigoso que não tem cura dá origem a debate (Kyodo News/Getty Images)

Coronavírus: ideia de infectar propositalmente pessoas com um patógeno perigoso que não tem cura dá origem a debate (Kyodo News/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 18 de junho de 2020 às 17h35.

Última atualização em 18 de junho de 2020 às 18h21.

Quando Gavriel Kleinwaks era criança, foi cativada pela história de Jonas Salk, o pioneiro que testou uma potencial vacina contra a poliomielite em si mesmo, na esposa e nos filhos em 1953. Os ensaios nos Estados Unidos, considerados o maior experimento de saúde pública de todos os tempos, posteriormente provaram que a vacina era eficaz.

Agora, Kleinwaks se inscreveu para participar de outro experimento de alto risco. A estudante da Universidade do Colorado está entre os quase 30.000 voluntários dispostos a se expor deliberadamente ao coronavírus para testar uma potencial vacina, caso pesquisadores decidam dar continuidade ao processo.

Com o mundo desesperado para acabar com a pandemia, a ideia de infectar propositalmente pessoas com um patógeno perigoso que não tem cura dá origem a um debate sobre que tipo de sacrifício é aceitável e os benefícios que esses ensaios podem trazer. Conhecidos como estudos de desafio humano, esses testes podem acelerar a pesquisa colocando voluntários no caminho do vírus, em vez de esperar por uma exposição acidental.

A polêmica abordagem pode se tornar necessária em algum momento, já que a doença foi controlada em algumas cidades, dificultando a avaliação de vacinas da maneira mais convencional, de acordo com Pascal Soriot, diretor-presidente da farmacêutica AstraZeneca. A empresa trabalha com a Universidade de Oxford em uma das vacinas mais adiantadas contra o vírus.

Sem cura

A falta de um medicamento para salvar pessoas gravemente doentes é uma das principais preocupações éticas sobre os ensaios de desafio humano, juntamente com o conhecimento limitado sobre um vírus que matou quase meio milhão de pessoas em questão de meses. Uma parceria lançada pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos não planeja apoiar esses estudos para a covid-19, informou a agência em e-mail.

Ainda assim, o modelo ganha mais atenção. Um projeto focado em estudos de desafio humano liderado pela Universidade da Antuérpia e pela Universidade Livre de Bruxelas atraiu 20 milhões de euros (22 milhões de dólares) em financiamento do governo belga, segundo as instituições. A iniciativa de estabelecer centros e laboratórios para testar vacinas atraiu o interesse de farmacêuticas, segundo as universidades.

Kleinwaks diz que teve dúvidas no início, mas pouco a pouco se acostumou com a ideia depois de avaliar os riscos. Apoiando sua decisão de ser voluntária, diz, é uma lição do Talmude — salvar uma vida é semelhante a salvar o mundo inteiro — e um desejo de ajudar a acabar com o surto.

“Todos corremos o risco de exposição toda vez que saímos de casa”, disse a estudante de engenharia, de 23 anos. “Ninguém tem garantia de estar seguro.”

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