USP divulga nota sobre cloroquina: sem "eficácia comprovada" até o momento
Faculdade de Ciências Farmacêuticas contesta protocolo do Ministério da Saúde e aponta falta de comprovação da eficácia da substância contra o coronavírus
Carolina Riveira
Publicado em 22 de maio de 2020 às 13h15.
Última atualização em 22 de maio de 2020 às 16h49.
A congregação da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo ( USP ) divulgou uma moção discorrendo sobre a ampliação do uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com a covid-19 , doença causada pelo novo coronavírus.
Segundo os profissionais da universidade, que são especializados em fármacos e medicamentos, as substâncias "não demonstraram, até o momento, eficácia comprovada no tratamento da covid-19, de acordo com resultados de vários estudos clínicos conduzidos em nível mundial e nacional".
A nota foi divulgada na quinta-feira 21 de maio. Na quarta-feira 20, o governo federal, por meio do Ministério da Saúde, instituiu um novo protocolo defendendo a ampliação do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes em estágio inicial da covid-19.
O texto afirma que a faculdade, por meio da moção, "vem a público para contestar o protocolo do Ministério da Saúde que contempla o uso de cloroquina/hidroxicloroquina para casos de covid-19".
As substâncias, usadas em medicamentos contra doenças como a malária, começaram a ser testadas contra o coronavírus neste ano. Mas os testes, no Brasil e no mundo, ainda são inconclusivos e alguns estudos recentes apontam prejuízos aos pacientes após o uso das substâncias.
Veja abaixo a nota completa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.
Moção da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo sobre a ampliação do uso de cloroquina/hidroxicloroquina para casos leves de covid-19
A Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo tem como missão “promover a formação de recursos humanos qualificados, empreendedores e com visão crítica, gerar o conhecimento e atuar nas atividades de extensão em Ciências Farmacêuticas”, dentro dos valores de que essas atividades “devem ser pautadas pela excelência e pelos princípios éticos, priorizando a dignidade dos seres humanos e a preservação do meio ambiente.” Com base nesses princípios, a faculdade, no papel de formadora de profissionais farmacêuticos responsáveis e éticos, que atuam nas várias áreas dos fármacos e medicamentos, dos alimentos e das análises clínicas e toxicológicas, vem a público para contestar o protocolo do Ministério da Saúde que contempla o uso de cloroquina/hidroxicloroquina para casos de covid-19.
A cloroquina — ou seu derivado, hidroxicloroquina — não demonstrou, até o momento, eficácia comprovada no tratamento da covid-19, de acordo com resultados de vários estudos clínicos conduzidos em nível mundial e nacional. De acordo com a Anvisa, “até o momento, não existem estudos conclusivos que comprovem o uso da cloroquina e hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19.” A visão é corroborada pela Sociedade Brasileira de Imunologia, pela Organização Mundial da Saúde e por diversos órgãos da área pelo mundo inteiro. Além de não haver comprovação de eficácia no tratamento da covid-19, entre os inúmeros eventos adversos relatados estão os cardíacos — com destaque para o prolongamento do intervalo QT — que podem colocar em risco a vida dos pacientes, levando-os a óbito.
Em razão dos motivos citados, entendemos que, até o momento, não há base científica para a recomendação de uso terapêutico da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Portanto, não podemos consentir com a ação irresponsável que representa o novo protocolo que inclui o uso da cloroquina para casos leves. Como profissionais da saúde, nos cabe repudiar, com veemência, essa ação do Ministério da Saúde.