Ciência

Uso de ar-condicionado no Brasil deve dobrar na próxima década, dizem cientistas

Estudo indica que 96 de 100 residências terão ar-condicionado até 2035 por causa do aquecimento global, aumentando a demanda de energia em 125%

Brasil: para autora do estudo, variedade em condições climáticas e densidade populacional tornam o país "peculiar" (Sean Gallup/Getty Images)

Brasil: para autora do estudo, variedade em condições climáticas e densidade populacional tornam o país "peculiar" (Sean Gallup/Getty Images)

LP

Laura Pancini

Publicado em 10 de fevereiro de 2021 às 12h13.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2021 às 13h19.

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em conjunto com as italianas Fundação CMCC e a Universidade Ca'Foscari de Veneza, investigou as relações entre aquecimento global, renda e demandas de eletricidade e resfriamento no Brasil. Eles concluíram que, sem uma ação para combater as mudanças climáticas, o uso de equipamentos de ar condicionado irá dobrar na próxima década.

O estudo, publicado na revista científica Energy and Buildings, comparou o desenvolvimento da renda e do clima entre as décadas de 1970 e 2010 e, a partir disso, projetou a demanda para o futuro considerando três cenários do aquecimento global: acréscimo de 1,5°C, 2°C ou 4°C na temperatura da Terra.

Em qualquer um dos três cenários, o consumo de energia aumentará. No cenário mais grave (4°C), por exemplo, a média de dias de uso do ar condicionado aumentaria em mais de 100% no Brasil. Na região Sul, isso inflaria o consumo de energia em quase cinco vezes.

Levando em consideração apenas as emissões médias de CO2, hoje em 0,62 megatonelada, também há um aumento gigantesco nos três cenários: 70% (1,5°C), 99% (2°C) e 190% (4°C).

"Para definir as necessidades de conforto térmico passadas e futuras, usamos uma medida de temperatura que contabiliza a umidade do ar", diz Enrica De Cian, co-autora do estudo.

Atualmente, o resfriamento de ambientes já é equivalente a 14% da demanda residencial de eletricidade e a média atual é de 40 unidades de ar-condicionado a cada 100 residências. Até 2035, considerando aumento de população e renda, a expectativa é de 96 unidades para 100 residências, aumentando a demanda de energia em 125%.

Para De Cian, a variedade em condições climáticas e densidade populacional tornam o Brasil um "país peculiar" de se analisar. O estudo aponta que a região Norte terá o maior aumento de temperatura, mas sua baixa densidade na população fará com que o consumo de energia na área não se eleve tanto, com exceção da cidade de Manaus, sétima maior cidade do país. A média atual de uso de ar condicionado na região Norte já é alta, equivalente a 328 dias no ano.

Analisando a renda, o pesquisador Malcolm Mistry afirma que ela é crucial para moldar a demanda de energia nas próximas décadas. "Os impulsionadores socioeconômicos são importantes para avaliar as tendências nas taxas de propriedade e nos tipos de unidades de ar condicionado em uso, já que normalmente há um déficit em muitas residências brasileiras devido a restrições orçamentárias", explica ele.

Os autores do estudo concluem que a eficiência energética pode reduzir em grande escala o crescimento do consumo de energia em todos os cenários apresentados, podendo chegar a uma melhoria de 59%. Porém, eles realçam que seria necessária uma política muito mais agressiva para chegar lá.

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