Ciência

"Revolução sexual" contra impotência faz 20 anos em 2018

Segundo o Sindusfarma, entre novembro de 2017 e outubro de 2018, foram vendidos 68,32 milhões de comprimidos contra impotência sexual

Doenças (Getty Images/Divulgação)

Doenças (Getty Images/Divulgação)

AB

Agência Brasil

Publicado em 9 de dezembro de 2018 às 12h15.

O ano que se encerra neste mês guarda uma marca histórica, especialmente, para os homens. Em 2018, os comprimidos contra a disfunção erétil completaram 20 anos de venda em farmácias do Brasil e de outros países.

A descoberta, feita ao acaso pela ciência que investigava medicação para pressão alta, permitiu a milhões de homens reativar sua vida sexual. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil consideram que a oferta desses gêneros de medicamentos impactou a sociedade. "Foi uma revolução sexual como a pílula [disponível a partir da década de 1960] causou na mulher", avalia Carlos da Ros, chefe do Departamento de Sexualidade e Reprodução da Sociedade Brasileira de Urologia.

"Foi uma revolução sim", concorda o também urologista Osei Akoamo Jr. "Trouxe de volta uma população que podia ter uma atividade sexual rotineira de qualidade". Em sua opinião, a medicação permitiu a casais que sofriam com o problema a "felicidade do ponto de vista sexual".

Além de mudar o comportamento, o advento da medicação contra a disfunção erétil estabeleceu para a ciência novos paradigmas, assinala Lucio Flavio Gonzaga Silva, cirurgião-urologista e professor aposentado da Universidade Federal do Ceará. Segundo ele, décadas antes da venda de medicamentos "a disfunção erétil era tratada como problema de fundo psicológico. A ciência não sabia como se processa a via metabólica da ereção".

Princípio ativo

O urologista Carlos da Ros acompanhou de perto a evolução da pesquisa científica na área e participou de estudos de eficácia e tolerabilidade do fármaco citrato de sildenafila feitos no país e outras partes do mundo ainda em 1996.

O princípio ativo testado resultou dois anos depois no pioneiro Viagra (da empresa norte-americana Pfizer) e hoje, após a quebra de patente em meados dessa década, está disponível em medicamentos fabricados por mais de 20 laboratórios instalados no Brasil, conforme consulta à página de produtos regularizados no portal da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.

Além do citrato de sildenafila, há no mercado outros medicamentos registrados pela Anvisa com princípios ativos diferentes e a mesma finalidade como os fármacos de tadalafila, vardenafila, e carbonato de lodenafila.

Segundo Carlos da Ros, os homens mudaram de atitude após a venda desses medicamentos. "O tabu era muito forte, uma coisa cultural. Era muito difícil os pacientes chegarem no consultório e dizer 'estou impotente'. Esse tabu caiu por água baixo. Isso fez com que os homens ficassem mais tranquilos e logo depois do aperto de mão na consulta dissessem: 'olha meu problema é sexual'".

"Não tem que ter vergonha em absoluto", testemunha o funcionário público aposentado Cruz de Almeida, 68 anos, que prefere ser identificado sem o prenome. "A tendência é conversar melhor cada dia. Até recentemente as pessoas costumavam esconder. Escondendo as coisas você não vai ter um tratamento adequado", opina Almeida que toma 10 miligramas diárias de tadalafil.

O médico Lucio Flavio Gonzaga Silva calcula que por ano um milhão de homens passem a ter que consumir medicamentos contra a disfunção erétil. De acordo com nota do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo, o Sindusfarma, entre novembro de 2017 e outubro de 2018, foram vendidos 68,32 milhões de comprimidos contra impotência sexual.

Conforme dados auditados pela consultoria IVQVIA, nesse período as vendas desses medicamentos somaram R$ 560 milhões. O valor equivale a uma participação de 0,91% no mercado total de remédios no país.

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