. (Caiaimage/Paul Bradbury/Getty Images)
São Paulo - O senso comum diz que a melhor maneira de aprender um idioma além da língua materna é começar tão cedo quanto possível, e que os adultos não terão um bom desempenho na aprendizagem. A verdade, de acordo com a ciência, é que a relação com as línguas estrangeiras varia de acordo com a idade. Cada fase da vida apresenta vantagens de desvantagens no processo de aprendizado.
Os bebês têm um bom ouvido para sons diferentes, o que ajuda na aquisição do repertório. O ponto forte das crianças é a velocidade com que podem assimilar sotaques nativos. Já os adultos têm mais habilidades adquiridas, como a alfabetização e o tempo de atenção e foco no processo, o que permite a expansão contínua do vocabulário, mesmo o da própria língua nativa
A linguística define como “aprendizado explícito” o processo de estudo que em geral se dá em uma sala de aula com um professor explicando as regras do idioma. "As crianças pequenas são muito ruins no aprendizado explícito, porque não têm o controle cognitivo e as capacidades de atenção e memória", afirma à BBC Antonella Sorace, professora de linguística do desenvolvimento e diretora do Centro de Assuntos do Bilinguismo da Universidade de Edimburgo. “Os adultos são muito melhores nisso. Então pode ser que isso seja algo que melhore com a idade.”
Um estudo realizado em Israel descobriu que os adultos eram melhores em compreender uma regra de linguagem artificial e aplicá-la a novas palavras em um ambiente de laboratório. Os cientistas compararam três grupos separados: crianças de 8 anos, crianças de 12 anos e adultos jovens. Os adultos pontuaram mais alto do que os grupos mais jovens, e os de 12 anos também se saíram melhor que o grupo mais novo, de 8 anos.
Analisando os resultados, os pesquisadores descobriram que os adultos podem ter se beneficiados de estratégias avançadas de solução de problemas, habilidade adquirida com a maturidade. Ou seja, os alunos mais velhos tendem a saber mais sobre o mundo e sobre suas possibilidades e limitações, e usam esse conhecimento no momento de aprender e processar novas informações.
Já a habilidade que as crianças têm de assimilar sotaques nativos se deve à fase da infância em que costumam imitar o comportamento e as falas das pessoas ao redor para construírem sua ação no mundo. Mas elas precisam passar muito tempo com falantes nativos de um idioma para aprendê-lo.
Os bebês conseguem ouvir e distinguir todas as 600 consoantes e 200 vogais que compõem as línguas conhecidas pelo mundo. Porém, a partir do primeiro ano de vida, o cérebro começa a sintonizar o que é ouvido com mais frequência, “eliminando” os menos frequentes. Bebês japoneses conseguem diferenciar facilmente os sons de “L” e “R”. Os adultos, como não fazem essa diferenciação na língua materna, tendem a achar isso mais difícil.
No início deste ano, um estudo no MIT baseado em um questionário online com cerca de 670 mil pessoas descobriu que, para obter um conhecimento nativo da gramática inglesa, é melhor começar com cerca de 10 anos, e que após isso a capacidade diminui. No entanto, o estudo também mostrou que podemos melhorar nos idiomas, incluindo o nosso, ao longo do tempo. Por exemplo, nós só dominamos completamente a gramática da nossa própria língua por volta de 30.
Aprender um idioma pode ser mais complicado menos natural com o passar dos anos, mas é importante saber que o cérebro está em constante evolução, o que deixa as portas sempre abertas para se aventurar por novos mundos.