Ciência

Projeção aponta aumento significativo de mortes por resistência a antibióticos até 2050

Estudo internacional prevê 39 milhões de mortes diretas e impacto econômico global se medidas de contenção não forem implementadas

Aumento da resistência das bactérias pode causar morte de até 40 milhões de pessoas entre 2025 e 2050. (Getty Images/Getty Images)

Aumento da resistência das bactérias pode causar morte de até 40 milhões de pessoas entre 2025 e 2050. (Getty Images/Getty Images)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 13h04.

Um estudo publicado recentemente na revista The Lancet traz um alerta preocupante sobre o aumento da resistência bacteriana a antibióticos. Segundo a pesquisa, entre 2025 e 2050, doenças bacterianas resistentes a medicamentos poderão causar diretamente mais de 39 milhões de mortes em todo o mundo, além de contribuir indiretamente para outras 169 milhões de mortes. Caso não sejam adotadas medidas adequadas, a resistência a antibióticos poderá levar, anualmente, a 1,91 milhão de mortes diretas e 8,22 milhões de mortes indiretas até 2050.

De acordo com a Reuters, as estimativas representam aumentos significativos em relação a 2022, quando as mortes diretas atribuídas à resistência bacteriana foram menores. O crescimento dessas taxas de mortalidade, se mantido, deve pressionar ainda mais os sistemas de saúde e as economias globais. Os pesquisadores do projeto Global Research on Antimicrobial Resistance preveem perdas no Produto Interno Bruto (PIB) global de US$ 1 trilhão (R$ 5,5 trilhões) a US$ 3,4 trilhões (R$ 18,7 trilhões) até 2030.

Além das perdas humanas, o estudo destaca as consequências econômicas da resistência a antibióticos, com previsão de queda significativa no PIB mundial nos próximos anos. O aumento nas mortes relacionadas à resistência bacteriana, aliado aos altos custos com tratamentos e internações, poderá afetar de maneira desproporcional países de baixa e média renda, especialmente na África Subsaariana e no Sul da Ásia, regiões com os maiores índices de mortalidade por resistência a antibióticos.

Um dos principais fatores que contribuem para a resistência a antibióticos é o uso inadequado e excessivo desses medicamentos, seja em humanos, animais ou no ambiente agrícola. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse fenômeno ocorre quando bactérias, vírus, fungos ou parasitas desenvolvem mecanismos de defesa contra os tratamentos, tornando-os ineficazes. A resistência a medicamentos como antibióticos e antifúngicos é um dos maiores desafios de saúde global, afetando diretamente a eficácia dos tratamentos convencionais e prolongando internações hospitalares.

Ameaça à população idosa

O estudo também revela que o impacto da resistência a antibióticos é mais severo em idosos, com um aumento de 80% nas mortes entre pessoas com mais de 70 anos entre 1990 e 2021. Essa faixa etária está entre as mais vulneráveis às complicações causadas por infecções resistentes, como a tuberculose multirresistente, que se tornou uma das maiores preocupações dos pesquisadores.

O relatório destaca ainda que, sem ações coordenadas para melhorar o acesso a tratamentos adequados, criar novas vacinas e implementar protocolos médicos que limitem o uso inadequado de antibióticos, o número de vidas perdidas poderá continuar a crescer de maneira alarmante.

Propostas de solução

Entre as medidas sugeridas pelo estudo para conter o avanço da resistência bacteriana estão o desenvolvimento de novas vacinas e tratamentos, além da revisão de protocolos médicos, limitando o uso de antibióticos a casos devidamente justificados. A implementação dessas medidas pode salvar até 92 milhões de vidas entre 2025 e 2050, de acordo com os pesquisadores.

O estudo, que analisou dados de 520 milhões de pessoas de todas as idades, em 204 países, é um dos mais abrangentes sobre o tema. As previsões foram baseadas em registros hospitalares, certidões de óbito e dados de uso de antibióticos, cobrindo 22 tipos de organismos causadores de doenças e 84 combinações de medicamentos e bactérias.

Com a proximidade da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre Resistência Antimicrobiana, que ocorrerá em setembro, o estudo reforça a urgência de ações globais para enfrentar essa crise crescente e preservar a eficácia dos tratamentos médicos disponíveis.

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