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Por que a pandemia não diminui nos EUA como aconteceu na Europa

Divisão política e infecções com ritmos diferentes no estados têm feito curva de infeccções permanecer em "platô"

Estátua da Liberdade, em Nova York: cidade começou a flexibilizar quarentena nesta semana (Anton Petrus/Getty Images)
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AFP

Publicado em 9 de junho de 2020 às 17h28.

Última atualização em 9 de junho de 2020 às 17h28.

Enquanto a curva do coronavírus desce na Europa, a dos Estados Unidos está estagnada há dois meses em um "platô", um sinal, segundo especialistas, de que a epidemia americana esconde várias curvas, gerenciadas de maneiras diferentes de acordo com regiões e afinidades políticas.

Duas epidemias

Com 30.000 novos casos detectados por dia em abril e mais de 20.000 desde o início de maio, os dados globais dos Estados Unidos estão estagnados porque uma parte do país substituiu a outra.

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"Não estávamos agindo com rapidez e força o suficiente para impedir que o vírus se espalhasse a princípio, e aparentemente passou dos surtos originais para outras áreas urbanas e rurais", avalia Tom Frieden, ex-diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

Por um lado, existem cinco estados do nordeste, de Nova Jersey a Massachusetts, com Nova York no meio, onde metade das mortes do país foram registradas.

Nesta região, o declínio da doença é um fato: Nova York tem 2.600 pessoas hospitalizadas em comparação com as 19.000 de meados de abril, segundo o governador.

Esses estados também foram os mais prudentes no desconfinamento. As máscaras estão por toda parte, e foi apenas na segunda-feira que a reabertura de Nova York começou, mas com os restaurantes ainda fechados.

Por outro lado, as regiões menos urbanizadas, o centro-oeste, o sul e parte do oeste não tiveram gargalos em suas emergências e necrotérios. Esses estados ordenaram o confinamento mais tarde e suspenderam mais cedo. E é justamente ali que atualmente o vírus circula mais.

Uma divisão política

A politização da pandemia reforçou o fenômeno: os governadores dos estados "vermelhos", isto é, os republicanos, tendem a minimizar o risco, em consonância com a posição do presidente Donald Trump.

"Os estados azuis (democratas) são mais cautelosos do que os vermelhos para reabrir com segurança", disse Sten Vermund, professor da escola de saúde pública da Universidade de Yale, acrescentando que ideologicamente "a maioria dos americanos não gosta que lhes digam o que fazer".

Na Geórgia, na Flórida e no Texas, apenas uma minoria usa máscara, também em restaurantes e lojas, inclusive entre os funcionários.

Atualmente, no Texas e na Carolina do Norte, há mais pacientes com COVID-19 internados do que há um mês.

A Carolina do Sul também está no "pico" de sua epidemia, diz Melissa Nolan, professora de epidemiologia da Universidade da Carolina do Sul, apontando para surtos de infecção em populações carentes, como trabalhadores hispânicos.

Os dados do telefone celular confirmam que a distância física é respeitada em uma extensão diferente: no ponto mais alto do confinamento, os deslocamentos de residentes de Nova York ou Washington diminuíram quase 90% em várias semanas, em comparação com 50% ou menos em muitas áreas do sul, de acordo com a empresa Unacast.

Testes insuficientes

Com meio milhão de testes realizados por dia, os Estados Unidos se tornaram o campeão mundial de detecção por habitantes.

Entretanto, isso ainda não é suficiente para conter o vírus, diz Jennifer Nuzzo, da Johns Hopkins University, porque a epidemia nos EUA foi muito maior do que em outros lugares.

"Ainda não detectamos todos contágios", insiste o especialista.

Apenas 14% dos testes americanos são positivos, em comparação com menos de 5% na Europa. Em outras palavras, os Estados Unidos ainda abrigam muitos casos assintomáticos, que continuam a se espalhar entre amigos e vizinhos.

A detecção não é um fim em si, diz Nuzzo. Os testes devem ser imediatamente acompanhados de isolamento e rastreamento de contatos. No entanto, a desconfinamento começou antes que esses procedimentos estivessem prontos.

Um mistério

O quadro, contudo, não é totalmente sombrio: em vários lugares, como no Arizona, o aumento da disponibilidade de testes aumentou o número de casos detectados, embora pareça ser na maioria casos leves.

A Geórgia reabriu muito cedo, no final de abril, levantando temores, mas o surto não aconteceu por muito tempo, o número de casos estagnou ao longo de maio e só aumentou nos últimos dias, ilustrando como a dinâmica do coronavírus continua sendo um mistério.

"Todos os meus colegas estão perplexos", disse William Schaffner, especialista em doenças infecciosas da Universidade Vanderbilt.

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