Vacina em spray: o fármaco está em fase inicial de testes, em camundongos, mas já apresentou indicadores positivos. (Cavan Images/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 3 de setembro de 2021 às 15h33.
Uma vacina em spray contra a Covid-19 está em desenvolvimento por pesquisadores brasileiros. Trata-se de um projeto em conjunto da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto do Coração (Incor). Há também a participação de pesquisadores do Instituto Butantan.
O fármaco está em fase inicial de testes, em camundongos, mas já apresentou indicadores positivos.
— Temos resultados preliminares que mostram que a vacina consegue induzir resposta de anticorpos neutralizantes e também de células T — diz Daniela Santoro Rosa, professora de imunologia e chefe do laboratório de vacinas experimentais da Unifesp.
Por ser um spray nasal, a ideia é que a vacina já produza anticorpos por uma das vias de entrada do vírus: as mucosas do nariz. Outro aspecto incomum do fármaco, em comparação aos outros usados no Brasil, é sua plataforma de desenvolvimento. A tecnologia usada consiste em utilizar pedaços da proteína S, de Spike, de diferentes cepas, as variantes, do coronavírus. Desse modo, a vacina teria potência contra diversas mutações.
Mirar na proteína S é uma estratégia utilizada por diversas plataformas vacinais contra Covid-19. Essa parte do vírus é responsável pela entrada do agente infeccioso na célula humana. Daí o interesse em barrá-la.
— A ideia é usar essa vacina como um reforço para as pessoas que já estão vacinadas. A gente espera que seja mesmo um spray nasal que faça esse reforço — diz a pesquisadora.
De acordo com Daniela Santoro, a plataforma da vacina é semelhante à usada para combater a Hepatite B. A ideia dos pesquisadores da Unifesp, antes da Covid-19, era usar a mesma tecnologia para desenvolver um antígeno contra Zika e Chikungunya. Os especialistas, porém, mudaram a estratégia diante da emergência de saúde disparada pela Covid-19.
Espera-se que o pedido de autorização de ensaios clínicos, como são chamados os estudos com voluntários, à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ocorra entre o fim de 2021 e começo de 2022. Neste primeiro momento, em um grupo reduzido, será avaliada a dosagem do imunizante e sua segurança em humanos.
Outro spray nasal contra a Covid-19 começou a ser comercializado em Israel no mês de julho. O medicamento é fabricado pela empresa canandense SaNOtize e apresentou resultados de fase II — responsável por averiguar, normalmente, a resposta imune produzida por vacinas.
A venda foi autorizada para as farmácias do país. Esse imunizante em questão, não tem nada a ver com o spray que despertou o interesse do presidente Jair Bolsonaro, que chegou a mandar uma comitiva à Israel para discutir a viabilidade do país receber estudos de desenvolvimento do fármaco.