ONU alerta que o mundo enfrenta "emergência" nos oceanos
A acidificação dos mares provocada pelo CO2 e as ondas de calor no mar continuam mantando os recifes de corais, dos quais dependem 25% da vida no mar e quase 250 milhões de pessoas
André Lopes
Publicado em 27 de junho de 2022 às 10h24.
Última atualização em 27 de junho de 2022 às 11h01.
O mundo enfrenta uma "emergência" nos oceanos que ameaça a natureza e a humanidade, afirmou nesta segunda-feira, 27, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, no início de uma importante conferência da organização em Lisboa.
"Hoje enfrentamos o que eu chamaria de uma emergência nos oceanos", declarou Guterres para milhares de representantes de governos, especialistas e ativistas do meio ambiente, antes de destacar como os oceanos são afetados pelas mudanças climáticas e a poluição.
A humanidade depende da saúde dos oceanos e 50% do oxigênio que respiramos é gerado no mar.
A vida marinha fornece proteínas essenciais e nutrientes que alimentam bilhões de pessoas a cada dia.
Além disso, como os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra, amortecem o impacto das mudanças climáticas para a vida na Terra, com um custo associado significativo.
A acidificação dos oceanos provocada pelo CO2e as ondas de calor no mar, que podem durar vários meses, continuam mantando os recifes de corais, dos quais dependem 25% da vida no mar e quase 250 milhões de pessoas.
Estragos
"Estamos apenas começando a entender até que ponto as mudanças climáticas provocam estragos na saúde dos oceanos", disse Charlotte de Fontaubert, funcionária do Banco Mundial, que coordena uma divisão centrada na Economia Azul, termo que busca uma exploração sustentável dos mares.
Para agravar a situação, há uma torrente de poluição, equivalente ao conteúdo de um caminhão de lixo por minuto, que inunda as águas, calcula o programa da ONU para o meio ambiente.
Se prosseguir no ritmo atual, a poluição por plástico vai triplicar até 2060. Atualmente, os microplásticos provocam a cada ano a morte de 1 milhão de aves marinhas e a de 100 mil mamíferos.
Os participantes da conferência discutirão soluções que vão da reciclagem à proibição total das sacolas de plástico.
Outro tema crucial da conferência, organizada de maneira conjunta por Portugal e Quênia, é a pesca excessiva.
"Ao menos um terço do número de peixes selvagens é pescado de maneira excessiva e menos de 10% do oceano está protegido", comentou à AFP Kathryn Mathews, diretora científica da ONG americana Oceana.
"Barcos de pesca ilegais arrasam com total impunidade, tanto em águas costeiras como em alto-mar", destaca.
Proteger o fundo do mar
Os debates também abordarão uma eventual moratória para proteger o fundo do mar da exploração de metais raros para a fabricação de baterias para a crescente indústria de veículos elétricos.
Uma coalizão que reúne quase 100 países estimula uma medida que declare zonas de proteção para cobrir 30% dos oceanos e terras do planeta.
Novo 'leitmotiv', "a alimentação azul" deve fazer dos oceanos um meio de subsistência sustentável e equitativo.
Muitos ministros e alguns chefes de Estado participarão na reunião de Lisboa, que, no entanto, não tem a missão de servir como sessão para negociações formais.
Ainda assim, alguns participantes aproveitarão para defender uma política ambiciosa para os oceanos visando duas reuniões cruciais que acontecerão até o fim do ano.
Uma delas é a conferência da ONU sobre o clima COP27 de novembro no Egito. A outra é a muito aguardada conferência das Nações Unidas sobre biodiversidade COP15, que acontecerá no Canadá e não mais na China.