"Nuvem de poeira Godzilla" do Saara chega à América e muda qualidade do ar
A nuvem de poeira do deserto, que atravessou o Oceano Atlântico, é um fenômeno que ocorre anualmente, mas parece ter se intensificado em 2020
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de junho de 2020 às 14h43.
Última atualização em 25 de junho de 2020 às 15h02.
A nuvem de poeira do deserto do Saara que atravessou o Oceano Atlântico e atingiu Cuba começou agora a afetar até a qualidade do ar na Flórida, nos Estados Unidos . Alguns especialistas chamam a intensa massa de ar muito seco com poeira do deserto africano de "nuvem de poeira Godzilla." É um fenômeno que ocorre anualmente, mas parece ter se intensificado em 2020.
Impulsionado por ventos fortes, o pó do Saara viaja através do Oceano Atlântico do oeste da África durante a primavera no Hemisfério Norte. Nesta ocasião, a massa de ar seca e poeirenta percorreu 8.000 quilômetros até o Caribe e começou a encobrir desde o domingo, 21, San Juan, capital de Porto Rico, que parecia envolta em uma camada de neblina. Agora, um sistema de alta pressão empurra o pó saariano até a costa do Golfo da Flórida.
Em Miami, a qualidade do ar na quarta era considerada "moderada" de acordo com o escritório de gestão de recursos ambientais e a Secretaria de Saúde da cidade. As autoridades pedem que pessoas com problemas respiratórios permaneçam em casa.
A previsão é que a qualidade do ar em Cuba também piore nesta quinta-feira, 25, e a nuvem deve continuar sobre a ilha até sexta-feira. Em Havana, o fenômeno causa uma deterioração considerável na qualidade do ar, segundo relatou o cientista Eugenio Mojena.
Ele explica que as nuvens de poeira são carregadas com material altamente prejudicial à saúde humana como "ferro, cálcio, fósforo, silício e mercúrio", além de "vírus, bactérias, fungos, ácaros patogênicos, estafilococos e poluentes orgânicos."
O que é a 'nuvem de poeira Godzilla'
A massa de ar seco e carregada de partículas de areia se forma sobre o deserto do Saara no final da primavera, no verão e no começo do outono no Hemisfério Norte, e geralmente se desloca em direção ao Oeste sobre o Oceano Atlântico a cada três ou cinco dias. Quando ocorre, costuma ser de curta duração, não superior a uma semana. Porém a presença de ventos suaves em certas épocas do ano a tornam mais propensa a cruzar o Atlântico e percorrer mais de 10.000 quilômetros.
É esse o caso, uma gigantesca mancha opaca que encobre há dias parte do Oceano Atlântico. Nas imagens capturadas por satélites, há uma nuvem marrom que vai da África até o Caribe e cobre o azul e o branco. Tradicionalmente, a atividade da camada de ar do Saara aumenta em meados de junho, alcançando seu ponto máximo do final deste mês até meados de agosto, quando começa a diminuir rapidamente.
Durante seu período de maior atividade, a camada de ar saariana chega até a Flórida, América Central e Texas, cobrindo uma área enorme que, incluindo as partes do Atlântico, é superior ao território dos Estados Unidos e do Canadá juntos.
Em vários países do Caribe, existe a recomendação para que os cidadãos usem máscaras e evitem atividades ao ar livre, dada a alta concentração de partículas no ar. Navios também foram advertidos sobre a baixa visibilidade para navegação. Especialistas afirmam que a atual nuvem tem a concentração mais alta de partículas de poeira registrada nos últimos 50 anos na região.
O fenômeno começou a ser observado em uma área do oeste da África há uma semana e agora já percorreu mais de 5.000 quilômetros pelo mar até o Caribe, passando por terra em partes dos continentes americanos, como a Venezuela.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) prevê que a coluna de poeira do Saara continuará se movendo rumo ao oeste pelo Mar do Caribe, alcançando áreas do norte da América do Sul, América Central e da costa do Golfo dos Estados Unidos.
Vários países da área registraram a presença da poeira do Saara e usuários das redes sociais compartilharam imagens de paisagens alteradas pela nuvem, algumas com intensas cores diferentes no amanhecer e no entardecer.
Milhões de toneladas de areia
De acordo com a NOAA, a cada ano, mais de 100 milhões de toneladas de poeira saariana sopram da África — e algumas partículas já chegaram até o Rio Amazonas.
A camada geralmente tem entre 3 e 5 quilômetros de espessura, e se encontra a uma altura de 1 a 2 quilômetros na atmosfera. Segundo os especialistas, as nuvens de poeira contribuem de diversas formas para os ciclos da natureza no planeta.
O calor da camada ajuda a estabilizar a atmosfera quando o ar quente da nuvem passa por cima de ares mais frios e densos. A poeira mineral absorve luz solar, o que contribui para regular a temperatura do planeta.
Os minerais contidos na poeira também repõem nutrientes nos solos das zonas tropicais, que são afetados por chuvas. Mas os especialistas também alertaram para a presença de alguns elementos tóxicos que podem ser nocivos para algumas espécies.
Segundo a NOAA, o calor, a secura e os fortes ventos associados a esta camada de ar do Saara também podem facilitar a formação e intensificação de ciclones e furacões. A qualidade do ar é consideravelmente afetada e isso pode ter impacto sobre a saúde humana.
O ar seco e empoeirado tem aproximadamente 50% menos umidade do que a atmosfera tropical típica, o que pode afetar a pele e os pulmões. (Com agências internacionais)