Exame Logo

Novo lote de vacinas pode ser usado somente para a 1ª dose. Qual o risco?

Sem a segunda dose ou com atrasos na aplicação, organismo pode apresentar uma resposta imunológica inferior ao combate contra o novo coronavírus

Vacina: novo lote deve ser usado somente para a primeira dose (Ricardo Moraes/Reuters)
RL

Rodrigo Loureiro

Publicado em 22 de fevereiro de 2021 às 10h39.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2021 às 11h32.

O novo lote de 4,7 milhões de vacinas contra a covid-19 que serão distribuídas no Brasil deve ser utilizado integralmente para a aplicação da primeira dose. A orientação é do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello e vai em direção contrária ao que o governo federal havia estabelecido no início da campanha de vacinação, de que metade das doses precisaria ser reservada para a segunda aplicação. E isso pode ser um risco.

Pressionado pelos atrasos na vacinação brasileira contra a covid-19 e pela média de mais de mil mortes por dia, Pazuello afirmou que não há necessidade de reter metade dos lotes disponíveis até a aplicação da segunda dose do imunizante. Segundo o ministro, há segurança de que de novas vacinas irão chegar dentro do prazo para a segunda imunização.

Veja também

O plano de Pazuello é simples: evitar a escassez das vacinas. Ao menos cinco capitais brasileiras já reportaram a problemas durante as campanhas de vacinação. Ou seja, ao evitar que a segunda dose seja reservada, seria possível vacinar a população mais rapidamente – ao menos com a primeira dose. O problema é que este plano pode ir por água abaixo caso a segunda dose não seja aplicada a tempo.

“Se o indivíduo recebe apenas uma dose, ele corre o risco de não desenvolver uma resposta imunológica contra o agente agressor”, disse Raphael Rangel, virologista e coordenador do curso de biomedicina do Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação. “A primeira dose prepara o sistema imunológico e a segunda aumenta o potencial imunológico para a defesa contra aquele agente agressor."

O especialista também diz que a aplicação de somente uma dose induz o organismo a uma reposta imunológica menor, tornando-o mais suscetível a uma reinfecção pelo novo coronavírus. “A vacinação funciona como se fosse uma escola. Se você não passa em todas as matérias, você não termina o curso. Se você não tomar todas as doses, não ensina seu sistema imunológico a se defender”, afirmou.

No plano de vacinação divulgado pelo Ministério da Saúde, o governo federal estipulou que a segunda dose da CoronaVac, a vacina produzida pelo Instituto Butantan, deveria ser aplicada entre 14 e 28 dias após a primeira vacinação. Já o imunizante da Astrazeneca permite um intervalo maior entre as aplicações, de até três meses, segundo o documento.

“O governo precisa garantir a segunda dose assim que as pessoas receberem a primeira dose”, diz Rangel. Caso não a segunda dose não esteja disponível, o virologista explica que o Ministério da Saúde e a Anvisa precisam informar a população sobre o prazo final da aplicação da segunda dose do imunizante e, caso necessário, para uma nova aplicação da primeira dose da vacina como forma de “reativar” o sistema imunológico e prepará-lo novamente para a segunda aplicação.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusSinovac/Coronavacvacina contra coronavírusVacinas

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Ciência

Mais na Exame