Novo exame de sangue identifica bipolaridade e depressão
Um estudo feito pela Universidade de Indiana quer trazer base biológica para esses diagnósticos, que hoje são feitos por "tentativa e erro"
Karina Souza
Publicado em 10 de abril de 2021 às 15h41.
Última atualização em 10 de abril de 2021 às 16h12.
Uma em cada quatro pessoas terá algum tipo de desordem mental ou neurológica ao longo da vida, segundo estimativas da OMS . Nesse sentido, a depressão tem um papel de destaque -- especialmente no Brasil , o 5º país com o maior índice da doença do mundo. Mesmo com os avanços da doença, a maior parte dos diagnósticos ainda é feita por tentativa e erro. Para mudar esse cenário, um novo estudo na Escola de Medicina da Universidade da Indiana mostrou sucesso com um diagnóstico biológico para essas doenças, por meio de um exame de sangue.
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Comandado pelo professor Alexander B. Niculescu, Ph.D. em Psiquiatria e professor na instituição norte-americana, o estudo foi publicado recentemente pela prestigiada revista científica Molecular Psychiatry, braço da Nature Publishing.
Em linhas gerais, o trabalho consiste no desenvolvimento de um exame de sangue, formado por biomarcadores de RNA, que podem ajudar a distinguir a gravidade da depressão de um paciente e o risco de transtorno bipolar futuro. Também é possível saber, por meio dos resultados, os melhores medicamentos para cada paciente.
O estudo para desenvolver esse teste foi realizado ao longo de quatro anos, com 300 participantes. Ao todo, a equipe dividiu o estudo em quatro etapas.
Na primeira etapa, os participantes foram acompanhados e testados ao longo de seus altos e baixos no humor. A cada mudança, faziam exames com o objetivo de identificar quais biomarcadores no exame de sangue sofriam alteração de acordo com as variações de humor.
Na segunda etapa, os pesquisadores identificaram os 26 principais biomarcadores relacionados aos altos e baixos dos pacientes. Eles foram testados isoladamente para determinar o quanto contribuiriam para as mudanças de humor e o quanto poderiam ajudar a determinar quem ficaria doente no futuro.
Na terceira etapa, os pesquisadores combinaram esse conhecimento com as doses de medicamentos para cada paciente -- colaborando até mesmopara tentar encontrar novas drogas capazes de tratar cada doença.
“Com esse trabalho, queríamos desenvolver exames de sangue para depressão e transtorno bipolar, para que fosse possível fazer uma distinção clara entre os dois e fazer com que as pessoas recebessem os tratamentos certos”, diz Niculescu.
Além desses avanços, a equipe também descobriu que os transtornos do humor são acentuados pelos genes do ciclo circadiano - aqueles que regulam os ciclos de sono ao longo do dia.
“Isso explica por que alguns pacientes pioram com as mudanças sazonais e as alterações do sono que ocorrem nos transtornos de humor”, disse Niculescu.
Daqui pra frente
Com a publicação da pesquisa e de seus resultados, o autor acredita que as descobertas podem melhorar o dia a dia de profissionais, bem como o desenvolvimento de novos medicamentos capazes de tratar essas doenças.
Estudos recentes mostram que esse é um caminho fundamental a ser trilhado nos próximos anos, já que pelo menos metade dos pacientes não responde bem aos tratamentos com os medicamentos disponíveis. Pesquisadores da Universidade de São Paulo publicaram recentemente um artigo na revista Molecular Neurobiology.
“Testamos duas drogas, uma delas usada para tratamento do câncer (gliomas) e outra totalmente experimental. Importante ressaltar que não são drogas com as quais se possa tratar a depressão, porque, se elas diminuem a metilação de DNA de forma irrestrita, irão aumentar a expressão de vários genes, não só do gene de nosso interesse. Portanto, existirão efeitos adversos. Não se trata aqui de abrir perspectivas de novos antidepressivos, mas o resultado do estudo aponta um caminho interessante para novas abordagens de tratamento”, diz Sâmia Regiane Lourenço Joca, ligada ao Departamento de Ciências Biomoleculares da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP)
A situação ganha ainda mais importância diante do contexto da covid-19 e suas consequências no mundo. Além do estresse pós-traumático ao qual pessoas em todo o mundo estão sujeitas, estudos recentes mostram que o estresse e a depressão podem reduzir a eficácia das vacinas contra a covid-19.