Moçambique busca ajuda da ciência na prevenção de desastres naturais
Pesquisa mostra que a África, a América do Sul e a Ásia, serão as regiões mais afetadas pela perda de biodiversidade
Isabela Rovaroto
Publicado em 10 de maio de 2019 às 16h48.
Nos últimos anos, Moçambique enfrentou, pelo menos, 10 grandes desastres naturais . O pior aconteceu em março deste ano, quando a passagem do ciclone Idai atingiu uma área de 3 mil quilômetros quadrados, causou 242 mortes e deixou 400 mil pessoas desalojadas no país.
Embora o país e o restante do continente africano estejam longe de ser os maiores emissores de gases de efeito estufa, são os que mais têm sofrido e estão entre os mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas globais. Além disso, poderão ser os mais afetados pela degradação da terra que tem acontecido em diferentes partes do mundo.
O Sumário para Formuladores de Políticas da primeira avaliação global do estado da natureza da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), lançado em 6 de maio de 2019, apontou que o continente africano, juntamente com a América do Sul e a Ásia, serão as regiões mais afetadas pela perda de biodiversidade e a consequente deterioração dos serviços ecossistêmicos, como o fornecimento de água e alimentos, que têm ocorrido em uma escala sem precedentes.
Os autores do relatório estimam que entre 100 e 300 milhões de pessoas estão em risco aumentado de inundações e furacões devido à perda de hábitats costeiros e de áreas de proteção natural.
“Os desastres naturais tornaram-se frequentes e uma realidade para nós”, disse Vitória Langa de Jesus, diretora executiva do Fundo Nacional de Pesquisa (FNI) de Moçambique, à Agência FAPESP.
“Quando se começou a falar sobre mudanças climáticas não sabíamos muito bem de que maneira iriam nos afetar. A partir da experiência que tivemos nos últimos anos, cresceu a preocupação de aumentar o apoio a pesquisas que possam dar subsídios a órgãos de governo para elaboração de planos de prevenção de desastres e de adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”, disse.
Para atingir esses objetivos, a agência de fomento à pesquisa moçambicana que a pesquisadora representa tem feito parcerias com instituições congêneres de diversos países, como a Alemanha e a França. A mais recente foi com a FAPESP, com quem firmou um acordo de cooperação no dia 6 de maio.
Alguns dos temas de interesse de pesquisa colaborativa entre os pesquisadores moçambicanos e do Estado de São Paulo serão, justamente, a prevenção de desastres naturais e adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Outra área de interesse é a agricultura, disse Langa de Jesus.
“A agricultura é fundamental para nós. Essa é uma das áreas em que acreditamos que os pesquisadores paulistas e moçambicanos possam fazer estudos voltados não só para a melhoria da produção, mas também sobre processamento de alimentos ou desenvolvimento de cultivares mais resistentes às mudanças climáticas”, afirmou.
Segundo Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, a cooperação científica de pesquisadores do Estado de São Paulo e de Moçambique em agricultura poderá ser exitosa, entre outros fatores, pelas semelhanças climáticas das duas regiões.
“A agricultura é uma área em que se pode ter um grande intercâmbio de conhecimento entre Moçambique e o Estado de São Paulo, que tem instituições muito fortes em agronomia, como a Esalq [Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo], entre outras”, disse.
Outra vantagem na cooperação científica de pesquisadores moçambicanos com colegas paulistas é que não há barreiras de idioma, disse Langa de Jesus. “Esperamos que, após a definição das áreas das pesquisas que apoiaremos e a seleção das propostas, os pesquisadores possam se unir para desenvolver projetos cujos resultados possam não só ajudar a solucionar questões nacionais como também tenham impacto internacional”, afirmou.
A dirigente e outros representantes da FNI estiveram no Brasil para participar da 8ª Reunião Anual do Global Research Council (GRC), que aconteceu entre os dias 1º e 3 de maio, em São Paulo, e reuniu chefes de 52 agências de fomento à pesquisa de 50 países dos cinco continentes. O encontro foi organizado pela FAPESP, pelo Consejo Nacional de Investigaciones Científicas e Técnicas (Conicet), da Argentina, e pela German Research Foundation (DFG), da Alemanha.
“Uma das razões que nos levaram a participar do GRC é a troca de experiências de dirigentes de agências de fomento à pesquisa sobre como podemos estimular a ciência nos nossos respectivos países”, disse Langa de Jesus.
“O GRC também permite nos inteirar sobre o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação no mundo e identificar agências de fomento à pesquisa, como a FAPESP, com as quais queremos estabelecer acordos de cooperação”, afirmou.