Ciência

Manual egípcio de 3.500 anos revela mistérios sobre mumificação

O manual descoberto é o mais antigo sobre mumificação; egiptólogos detalham como era o embalsamento na época

Restos mumificados na Tumba das Múmias Douradas (Ron Watts/Getty Images)

Restos mumificados na Tumba das Múmias Douradas (Ron Watts/Getty Images)

LP

Laura Pancini

Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 15h51.

Última atualização em 26 de fevereiro de 2021 às 17h24.

A egiptóloga Sofie Schiødt, da Universidade de Copenhagen, analisou um manual antigo e ajudou a reconstruir o processo de embalsamamento usado para preparar antigos egípcios para a vida após a morte. Descoberto em um papiro médico (antigos textos egípcios escritos em papiro) de 3.500 anos, o manual é o mais antigo já descoberto sobre mumificação.

Até recentemente, apenas dois textos sobre mumificação haviam sido identificados por egiptólogos. No antigo Egito, o embalsamamento era considerado uma arte sagrada e acredita-se que o conhecimento era passado oralmente para poucos indivíduos. Portanto, as evidências escritas sobre este ritual são poucas o que fez com que a descoberta surpreendesse os profissionais da área.

Eles encontraram o manual em um texto médico antigo que focava em fitoterapia e inchaços na pele. O papiro foi posteriormente nomeado de Papyrus Louvre-Carlsberg por conta de cada parte dele pertencer ao Museu do Louvre em Paris e ao Papiro Carlsberg da Universidade de Copenhagen. Estima-se que ele foi feito em 1450 aC, o que significaria que sua criação foi antes dos outros únicos dois textos de embalsamento encontrados.

"Muitas descrições de técnicas de embalsamamento que encontramos neste papiro foram deixadas de fora dos dois manuais posteriores e as descrições são extremamente detalhadas. O texto parece um auxiliar de memória, de modo que os leitores pretendidos deveriam ser especialistas que precisavam ser lembrados desses detalhes, como receitas de unguentos e uso de vários tipos de curativos. Alguns dos processos mais simples, por exemplo a secagem do corpo com natrão, foram omitidos do texto", explica Sofie Schiødt.

Schiødt ressalta uma informação interessante encontrada no manual: como embalsamar o rosto do morto. Nele, haviam listas de ingredientes para um remédio natural, que era posteriormente revestido com um pedaço de linho vermelho. O linho era, então, aplicado na face da pessoa que havia falecido para "envolvê-lo em um casulo protetor de matéria perfurmada e antibacteriana".

Os egiptólogos examinaram múmias do mesmo período do manuscrito e identificaram rostos cobertos por tecido e resina, fortalecendo as descobertas do texto.

Como era o processo de embalsamamento

De acordo com o papiro, o embalsamamento era realizado em um período de 70 dias dividido em duas partes: um de secagem e um de embrulhamento, ambos durando 35 dias cada.

Outra informação valiosa dentro dele era que o embalsamento era feito em intervalos de quatro dias. "Entre eles, o corpo era coberto com um pano e coberto com palha infundida com aromáticos para afastar os insetos e necrófagos", disse Schiødt.

O primeiro passo do ritual era fazer a purificação do corpo, com a remoção dos órgãos, do cérebro e o colapso dos olhos. A partir do quarto dia, iniciava-se oficialmente o período de secagem e o corpo era tratado com natrão seco por dentro e por fora.

Já na fase de embrulhamento, o corpo era envolvido em ataduras e aromatizantes. No 68° dia, a múmia ficava pronta e era colocada no caixão. Os dias seguintes eram reservados para atividades e rituais para permitir que o falecido vivesse na vida após a morte.

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