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Manaus e São Paulo deveriam ter prioridade na vacinação contra a covid-19?

A estratégia de vacinar os locais com maior número de casos seria mais efetiva? Descubra o que especialistas acham

Covid-19: vacinação por cidade acabaria com o vírus? (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Tamires Vitorio

Publicado em 10 de fevereiro de 2021 às 07h01.

Com o crescimento dos casos do novo coronavírus em São Paulo e o caos da saúde pública que acomete Manaus, alguns analistas têm levantado a dúvida se as cidades mais afetadas pela doença deveriam receber as doses das vacinas contra a covid-19 antes de todo o resto do país. Essa estratégia, mais a do que vacinar os idosos em todos os cantos do Brasil, seria mais efetiva para conter a pandemia?

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Para a médica Silvia Boscardin, a resposta é bastante simples: não necessariamente. "Na minha opinião, acho que não. Para a vacina ser eficiente temos que imunizar toda a população, o mais rapidamente possível. E acredito que priorizar um estado antes do outro seja inconstitucional", disse.

Especialistas ouvidos por EXAME explicam que o ideal é que toda a população seja imunizada – independentemente da localização geográfica. Apenas fatores como grupos de risco devem ser levados em conta no momento da vacinação.

"À medida que temos uma grande quantidade de população imunizada, temos a cobertura vacinal, em que mesmo as pessoas suscetíveis ao agente infeccioso estarão protegidas porque ele enfrenta tremenda dificuldade para infectar as outras pessoas. Ela tem um potencial a curto prazo de proteger as pessoas, e a longo prazo, fazendo com que o agente infeccioso tenha uma transmissão altamente contagiosa e assim a gente pode passar muito tempo sem ouvir falar dele", afirma a neurocientista e divulgadora científica Mellanie Fontes-Dutra.

Para ela, vacinar o Brasil inteiro aumenta as chances de o país alcançar a tão sonhada imunidade de rebanho – teoria que consiste no efeito de proteção que surge nas pessoas quando grande parte se vacinou contra uma doença — assim, mesmo quem não tomou a vacina fica protegido.

 

Muitos acreditam que o indivíduo, ao contrair o vírus Sars-CoV-2, se torna imune à doença. Assim, quanto mais gente for infectada, maior a chance de todos se tornarem imunes. É daí que vem o termo “imunidade de rebanho”. Com ela, todos estariam protegidos.

Portanto, vacinar somente um ou dois locais, segundo os cientistas, não acabaria com o problema do Sars-CoV-2, uma vez que ele continuaria a se espalhar em outras cidades e estados sem cobertura vacinal – tornando-se novos focos do vírus.

Esse tipo de ação também faria com que as medidas para evitar o vírus, como o distanciamento social e o uso de máscaras, perdurassem por mais tempo. Vacinar somente Manaus e São Paulo, por exemplo, não acabaria com o problema da covid-19 apenas porque os locais estão sofrendo mais com a doença.

Para fazer uma comparação, basta pensar se somente os Estados Unidos, país mais afetado pela doença, fosse vacinado: o vírus deixaria de existir no local por apenas algum tempo, mas não deixaria de circular no restante do mundo e, em breve, retornaria para os Estados Unidos.

Fontes-Dutra entende que a única estratégia que deve ser adotada é a de vacinar idosos e grupos de risco antes das demais pessoas. "A estratégia de evitar óbitos é muito importante nesse momento. Além de a gente imunizar quem tem mais risco de agravar antes, fazendo com que elas fiquem mais protegidas e não precisem do sistema de saúde, vamos seguir aumentando a quantidade de pessoas imunizadas", diz.

O médico Marco Stephano acredita que a ideia de vacinar somente alguns municípios "só valeria se tivéssemos um lockdown " – e que vacinar os mais velhos é, ainda assim, a estratégia ideal. "Por ter muito transito de pessoas, o certo é vacinar os mais vulneráveis primeiro. Com o lockdown, não há trânsito de pessoas, fica mais fácil vacinar as grandes capitais e depois o interior", diz.

Mesmo no Reino Unido, que adotou o lockdown para frear os novos casos, as estratégias para a vacinação tiveram de mudar para abranger o maior número de pessoas. Para isso, a segunda dose das vacinas da AstraZeneca/Oxford e da Pfizer/BioNtech será administrada entre quatro a 12 semanas de intervalo para a primeira. Nem por lá, com o lockdown, foi adotada a vacinação geográfica.

De acordo com o governo britânico, o passo foi tomado "para promover proteção para o maior número de pessoas por conta da descoberta de uma nova variante da covid-19 no Reino Unido, que os cientistas acreditam que se espalha muito mais rapidamente do que as anteriores".

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