Ciência

Novo tratamento com injeção inteligente reduz câncer de cabeça e pescoço em seis semanas

Pesquisa internacional revelou que 76% dos pacientes com a doença em fase avançada tiveram benefício clínico com o tratamento após não terem respondido a imunoterapia e quimioterapia

A injeção já foi aprovada para um tipo de câncer de pulmão e tem potencial de ajudar em outros tipos de tumores (Brendan McDermid/Reuters)

A injeção já foi aprovada para um tipo de câncer de pulmão e tem potencial de ajudar em outros tipos de tumores (Brendan McDermid/Reuters)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 19 de outubro de 2025 às 16h08.

Última atualização em 20 de outubro de 2025 às 17h27.

E se uma simples injeção fosse capaz de reduzir o câncer de cabeça e pescoço em pacientes?

Um estudo clínico apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica 2025, realizado em Berlim e apresentado no The Instituto Of Cancer Reaserch, mostrou sinais promissores de um novo tratamento com o medicamento amivantamab, desenvolvido pela Johnson & Johnson.

A terapia, aplicada por meio de injeção subcutânea, demonstrou eficácia em pessoas com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço recorrente ou metastático em fase avançada — um tipo de câncer difícil de tratar que frequentemente retorna após as terapias convencionais.

Dos 86 pacientes que já haviam recebido imunoterapia e quimioterapia tratados apenas com a injeção, 76% experimentaram benefício clínico, ou seja, seus tumores encolheram ou pararam de crescer.

As respostas foram observadas em média dentro de seis semanas, e o tratamento foi geralmente bem tolerado, com a maioria dos efeitos colaterais sendo leves a moderados. A sobrevida média livre de progressão foi de 6,8 meses.

O câncer de cabeça e pescoço é o sexto mais comum no mundo e usualmente é tratado com cirurgia e radioterapia, englobando a boca, língua, garganta, laringe, seios paranasais e glândulas salivares. Só no Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) prevê 39.550 novos casos por ano.

Segundo especialistas, quando a doença se espalha ou retorna, o tratamento costuma incluir imunoterapia e quimioterapia à base de platina. Se não houver sucesso, as opções se tornam extremamente limitadas.

Kevin Harrington, professor do Instituto de Pesquisa do Câncer de Londres e um dos autores da pesquisa, destacou que é a primeira vez que testam esse tipo de terapia de tripla ação em pacientes cuja doença retornou depois das terapias convencionais. 

"É um medicamento 'inteligente' que não apenas bloqueia duas vias-chave do câncer, mas também ajuda o sistema imunológico a fazer seu trabalho", declarou no comunicado.

Um dos beneficiados é Carl Walsh, de 59 anos, da Inglaterra, diagnosticado com câncer de língua em maio de 2024 e que entrou no estudo em julho, após a quimioterapia e a imunoterapia não terem funcionado.

"Estou no meu sétimo ciclo de tratamento e está funcionando bem até agora. Estou muito feliz com o progresso", relata no estudo. Ele contou que antes não conseguia falar direito e nem comer, mas o inchaço diminuiu e a dor constante passou.

"Às vezes até esqueço que tenho câncer. O único efeito colateral que experimentei até agora são problemas menores de pele, o que é um grande alívio comparado aos muitos efeitos colaterais que tive com a quimioterapia", complementou.

Como funciona a injeção de tripla ação

O amivantamab já aprovado para um tipo de câncer de pulmão, é um anticorpo monoclonal biespecífico — um medicamento de nova geração que ataca o tumor maligno de três formas diferentes:

  1. Bloqueia o EGFR (receptor do fator de crescimento epidérmico), uma proteína que ajuda os tumores a crescerem;
  2. Bloqueia o MET, uma via alternativa que as células cancerígenas frequentemente usam para escapar do tratamento;
  3. Ativa o sistema imunológico para atacar o tumor;

Segundo os pesquisadores, uma vantagem significativa do amivantamab é sua forma simples de aplicação e que pode representar uma mudança real no tratamento -- não apenas em termos de eficácia, mas também em cuidado.

"Diferentemente de muitos tratamentos que exigem horas em uma cadeira de hospital, o medicamento é administrado como uma injeção sob a pele. Isso o torna mais rápido, mais conveniente e potencialmente mais fácil de administrar em clínicas ambulatoriais — ou até mesmo em casa no futuro", disse Kevin.

Potencial além do câncer de cabeça e pescoço

A injeção está mostrando promessa não apenas no câncer de pulmão e de cabeça e pescoço, mas também no colorretal. Os pesquisadores esperam que a inovação possa se tornar uma nova opção para pacientes com poucas alternativas restantes.

A professora Clare Isacke, reitora de Assuntos Acadêmicos e de Pesquisa do Instituto de Pesquisa do Câncer de Londres, disse no estudo que este é um lembrete poderoso da necessidade urgente de tratamentos mais eficazes e acessíveis para pessoas que vivem com a doença.

"É um câncer que frequentemente retorna de forma agressiva e deixa os pacientes com muito poucas opções", concluiu.

Acompanhe tudo sobre:Química (ciência)OMS (Organização Mundial da Saúde)SaúdeCâncerDoenças

Mais de Ciência

Novo medicamento para obesidade 'chacoalha' mercado na Índia

Nova técnica brasileira reduz custos da cirurgia de câncer de próstata

Cientista cria cerveja que funciona como vacina; entenda a polêmica

As inovações que marcaram o setor espacial em 2025