Ciência

Inatividade física na quarentena pode elevar estatísticas de mortes

As estimativas foram apresentadas por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista em artigo publicado na revista Frontiers in Endocrinology

Inatividade física: grupo se baseou em levantamento internacional que apontou redução de 35% no nível de atividade física e aumento de 28% do sedentarismo nos primeiros meses de confinamento imposto pela pandemia (Alistair Berg/Getty Images)

Inatividade física: grupo se baseou em levantamento internacional que apontou redução de 35% no nível de atividade física e aumento de 28% do sedentarismo nos primeiros meses de confinamento imposto pela pandemia (Alistair Berg/Getty Images)

AM

André Martins

Publicado em 10 de dezembro de 2020 às 16h16.

Última atualização em 10 de dezembro de 2020 às 16h44.

Ainda que ajude a controlar a propagação do novo coronavírus, o isolamento social pode induzir comportamentos prejudiciais à saúde, como ingerir alimentos de pior qualidade, passar mais tempo sentado em frente às telas e movimentar-se menos ao longo do dia. Especialistas estimam que a redução no nível de atividade física observada nos primeiros meses de quarentena pode gerar um aumento anual de mais 11,1 milhões de novos casos de diabetes tipo 2 e resultar em mais 1,7 milhão de mortes.

As estimativas foram apresentadas por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em artigo publicado na revista Frontiers in Endocrinology. No texto, os autores defendem ser “urgente” recomendar a prática de exercícios físicos durante a pandemia.

“Trabalhos recentes mostram que indivíduos com diabetes têm um risco maior de desenvolver a forma grave da covid-19. E, quando não é bem controlado, os riscos de morte são muito grandes. Ao mesmo tempo, outros estudos têm demonstrado que o confinamento reduziu consideravelmente o nível de atividade física, aumentou o comportamento sedentário e piorou a qualidade da alimentação. Alertamos então para as consequências deletérias desses comportamentos”, afirma Emmanuel Gomes Ciolac, professor do departamento de Eeducação física da Faculdade de Ciências (FC) da Unesp, em Bauru, que coordenou o estudo.

O trabalho tem como primeira autora Isabela Roque Marçal, que realiza mestrado na FC-Unesp e fez estágio de pesquisa na Universidade de Leuven, na Bélgica, com bolsa da Fapesp.

Entre os dados que serviram de base para o trabalho, os pesquisadores levaram em conta um levantamento internacional realizado online por um grupo de 35 instituições de pesquisa de vários continentes. De acordo com os resultados, ainda preliminares (referentes aos primeiros 1.000 voluntários que responderam ao questionário), nos primeiros meses de confinamento houve redução de 35% no nível de atividade física e aumento de 28,6% nos comportamentos sedentários, como passar mais tempo sentado e deitado, além de maior ingestão de alimentos não saudáveis. Estudos anteriores já mostravam que a inatividade física foi responsável por cerca de 33 milhões de casos de diabetes tipo 2 em 2019 e 5,3 milhões de mortes em 2018.

Baseados nos dados do período anterior à pandemia, os pesquisadores estimam que a prevalência atual de inatividade física — isto é, não realizar a quantidade mínima de exercício recomendada pelas organizações de saúde — é de 57,3% entre a população com mais de 40 anos e 57,7% entre indivíduos com risco de diabetes. Com isso, a falta de atividade física será responsável por 9,6% (11,1 milhões) dos casos de diabetes e 12,5% (1,7 milhão) da mortalidade geral no mundo, caso essa alta prevalência se mantenha por tempo prolongado.

Exercícios em casa

“É importante destacar que existe diferença entre níveis insuficientes de atividade física e comportamento sedentário. Uma pessoa insuficientemente ativa é aquela que não atinge a recomendação mínima da Organização Mundial da Saúde”, diz Ciolac. A OMS orienta que adultos entre 18 e 64 anos pratiquem por semana pelo menos 150 minutos de exercício aeróbico moderado ou 75 de alta intensidade.

Por outro lado, completa o pesquisador, o comportamento sedentário está associado ao tempo que o indivíduo fica sentado ou deitado. Pesquisas mostram que mesmo pessoas fisicamente ativas podem ter prejuízos à saúde ao passar muitas horas em frente à TV ou computador, por exemplo.

Por isso, recomenda-se que quem trabalha muitas horas em frente ao computador levante a cada meia hora e realize alguma atividade leve, de 2 a 5 minutos, como andar pela casa ou ambiente de trabalho, subir e descer escadas ou qualquer outra que seja possível.

Além disso, o confinamento não deve impedir a realização de ações físicas de maior intensidade. As recomendações da OMS, por exemplo, incluem exercícios que possam ser acompanhados por meio de aulas online, normalmente disponíveis gratuitamente em sites; pausas curtas ao longo do dia para dançar, brincar com os filhos ou realizar atividades domésticas mais intensas, como limpeza e jardinagem; andar dentro ou em volta de casa, subir e descer escadas ou mesmo andar parado no lugar.

O grupo da Unesp recomenda ainda que se faça exercícios que usem o próprio peso do corpo para fortalecimento muscular, como abdominais, sentar e levantar da cadeira e flexões, além de atividades aeróbicas perto de casa que possam ser feitas com segurança, como caminhada, ciclismo e corrida. Tudo isso somado a uma alimentação saudável, com legumes, frutas e verduras, principalmente, evitando alimentos processados.

O artigo The Urgent Need for Recommending Physical Activity for the Management of Diabetes During and Beyond Covid-19 Outbreak, de Isabela Roque Marçal, Bianca Fernandes, Ariane Aparecida Viana e Emmanuel Gomes Ciolac, pode ser lido em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fendo.2020.584642/full.

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