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Humanos são como ratos: persistentes

Pesquisadores de três laboratórios de neurociência e psicologia da Universidade de Minnesota realizaram um experimento em ratos, camundongos e seres humanos

"Quanto mais tempo passamos em uma fila, mais esperamos até o final", concluiu o professor de neurociência e coautor do estudo (China Photos/Getty Images)
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AFP

Publicado em 13 de julho de 2018 às 11h36.

Os economistas estabeleceram há tempos que os humanos, quando investem tempo ou dinheiro em uma causa, têm dificuldade em abandoná-la, mesmo que os gastos sejam irrecuperáveis. Acontece que ratos e camundongos podem sofrer o mesmo.

Esta é a conclusão de um experimento, cujos resultados foram publicados na quinta-feira (12) pela revista americana Science.

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Os economistas chamam isso de "sunk costs", os custos irrecuperáveis. Por exemplo, não é porque você comprou o ingresso para um show que você é obrigado a ir, se quem se apresentará não o interessar mais, ou se você está cansado: de qualquer modo, não recuperará o dinheiro, indo, ou não.

No nível de um país, não é porque fortunas foram empregadas em um programa que é preciso continuar a financiá-lo, se ele não atender mais aos interesses nacionais.

O debate existe há muito tempo para determinar se os animais são como seres humanos, visceralmente ligados a objetivos, em virtude dos esforços passados.

Pesquisadores de três laboratórios de neurociência e psicologia da Universidade de Minnesota realizaram um experimento coordenado em ratos, camundongos e seres humanos.

O resultado: "os ratos, os camundongos e os humanos se comportam de forma mais ou menos parecida", diz à AFP David Redish, professor de neurociência na Universidade de Minnesota e coautor do estudo.

À espera

Os roedores foram treinados para se alimentar em um labirinto com quatro "restaurantes" em cada canto. A cada vez, chegavam em uma "zona de oferta", onde um som informava o tempo de espera para conseguir comida, croquetes perfumados.

Se os roedores aceitassem a oferta, seguiam para uma área de espera, onde uma contagem regressiva audível informaria o tempo de espera, aleatoriamente entre um e 30 segundos. Eles haviam sido previamente treinados para entender esses mecanismos.

Para os humanos, um experimento semelhante aconteceu com, em vez de croquetes, vídeos na Internet: gatinhos, acidentes de bicicleta, paisagens e dançarinos. O tempo de espera antes de visualizar um vídeo era representado por uma barra de download.

Em cada caso, as cobaias podiam desistir de esperar e passar para a próxima sala (ou vídeo) seguinte.

Mas a experiência mostrou que os roedores, como os humanos, tendem a esperar até o fim, uma vez que a espera tenha começado.

"Quanto mais esperavam, mais provavelmente continuariam a esperar", explica David Redish. Como as pessoas que estão na fila: "Quanto mais tempo passamos em uma fila, mais esperamos até o final".

Como a duração total do experimento é limitada, essa espera tem um "custo". Quanto mais tempo um roedor esperava seu petisco favorito em uma determinada sala, mais ele reduzia a quantidade total de comida que poderia obter durante o experimento.

David Redish faz uma comparação: "Vou esperar 30 segundos por caviar. Na verdade, valeria a pena esperar por apenas cinco segundos. Com 30 segundos de espera, é melhor passar para a outra sala, porque posso obter uma batata em apenas cinco segundos".

O estudo é limitado pelo fato de cobrir apenas 65 humanos (estudantes universitários), 32 ratos e 32 camundongos, sem mencionar que suas tarefas não eram estritamente idênticas. Mas isso abre o caminho para outras experiências.

"O desafio agora é observar o mesmo fenômeno em outras espécies", disse a professora de Psiquiatria Shelly Flagel, da Universidade de Michigan, ao jornal The New York Times.

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