Suicídio: pesquisa afirma que houve uma maior incidência em mulheres (Reprodução/Reprodução)
AFP
Publicado em 30 de maio de 2019 às 15h11.
Um novo estudo sobre "13 Reasons Why", que relata a história de uma estudante de ensino médio que tira a própria vida, revelou que o número de suicídios aumentou significativamente entre os jovens nos meses posteriores ao lançamento da popular e polêmica série da Netflix.
O estudo, publicado nesta quarta-feira na revista Jama Psychiatry, afirma que houve um aumento de 13% nos suicídios de jovens de 10 a 19 anos entre abril e junho de 2017, com uma maior incidência em mulheres.
O estudo foi realizado por uma equipe dirigida por Thomas Niederkrotenthaler, do Centro de Saúde Pública da Universidade de Medicina de Viena, usando os dados de suicídios dos Centros de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
"As associações identificadas aqui devem ser interpretadas com certa cautela, mas parecem demonstrar um aumento dos suicídios que é consistente com o potencial de contágio da mídia", escreveram.
A equipe analisou os suicídios de 1999 a 2017 para estabelecer um modelo que controle variáveis como as variações sazonais com seus picos conhecidos de suicídios adolescentes.
Como a plataforma Netflix não divulga publicamente seus dados de audiência, os pesquisadores fizeram uma estimativa de sua popularidade através do tráfego que a série gerou nas redes sociais como Twitter e Instagram.
A série foi lançada em 31 de março de 2017 e gerou cerca de 11 milhões de tuítes nas três primeiras semanas. Depois disso, houve um declínio no interesse.
"Pela diminuição da atenção nas redes sociais depois de junho de 2017, estabelecemos o período de exposição como de abril a junho", escreveram os pesquisadores.
O aumento estimado de 13,3% nas mortes corresponde a 94 suicídios a mais para essa faixa etária do que caberia se esperar nesse período de tempo, de acordo com o modelo.
A proporção foi maior entre as jovens, o que os autores atribuem ao fato de a trama da série se concentrar no suicídio de uma menina de 17 anos, Hannah Baker.
Não foi observado um aumento similar de suicídios entre os outros grupos etários.
Os autores advertiram, no entanto, que a dependência da pesquisa de estimativas baseadas em medidas aproximadas era uma limitação, ressaltando que "não foi possível comprovar se os que representaram o excedente de suicídios haviam visto realmente '13 Reasons Why'".
Um outro estudo publicado na revista Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry no início deste mês estimou que ocorreram 195 suicídios a mais - um aumento de quase 29% - entre os adolescentes de 10 a 17 anos nos nove meses seguintes ao lançamento da série.
Em uma reação transmitida à AFP, a Netflix estimou que "especialistas concordam que não existe uma única razão para as pessoas tirarem suas próprias vidas - e que as taxas de adolescentes que tomam essa atitude vêm aumentando tragicamente por anos nos Estados Unidos".
"Os dois estudos levantam questões importantes, mas são conflitantes entre eles, ainda que sejam baseados nos mesmos dados fornecidos pelo governo dos Estados Unidos. Eles também não explicam o aumento de casos entre meninas em novembro de 2016, e entre meninos em março de 2017 - antes do lançamento da série", apontou a companhia, ressaltando que a mesm "ajudou muitos espectadores a terem coragem de falar".