Grupo de meninos de 8 a 10 anos jogando futebol em uma quadra no centro de uma favela, no Rio de Janeiro (Getty/Getty Images)
Um gene desempenha um papel importante no crescimento das crianças, assim como no período da chegada à puberdade, sugere um estudo publicado nesta quarta-feira, 3, que, além disso, mostra que as pessoas com uma mutação nesse gene sofrem com atrasos em seu desenvolvimento.
Publicado na revista científica Nature por uma equipe de cientistas britânicos, o estudo avalia o papel de uma proteína, conhecida como MC3R, que atua sobre a forma em que o cérebro reage a um hormônio, a melanocortina.
Esse hormônio é o principal responsável pela pigmentação da pele. Contudo, nos últimos anos, foram atribuídas outras funções ao mesmo, particularmente na regulação do apetite. Sabemos que outro receptor, chamado de MC4R, pode favorecer a obesidade quando funciona mal por uma anomalia genética.
Por outro lado, não se sabia o papel preciso que a proteína MC3R desempenha e, por extensão, o gene que a codifica em humanos, mesmo depois que alguns estudos em ratos já sugeriam que tinha alguma influência no crescimento.
Em síntese, "os humanos em que a sinalização da MC3R é deficiente apresentam crescimento mais lento", afirmam os autores do estudo.
Os pesquisadores observaram primeiro alguns milhares de pacientes britânicos que apresentavam mutação no gene. Para isso, utilizaram uma enorme base de dados biológica da UK Biobank, uma organização que compila há vários anos esse tipo de informação no Reino Unido, e também dados recolhidos por um estudo prospectivo realizado há décadas pela Universidade de Bristol.
Após várias comparações com grupos de indivíduos em que o gene se expressa normalmente, os cientistas estabeleceram que essas mutações estavam associadas com a puberdade tardia e com o crescimento mais lento durante a infância.
"Descrevemos uma nova síndrome clínica vinculada a uma deficiência de MC3R", concluíram os autores, que veem esses resultados como una pista para tratar os problemas de atraso no desenvolvimento em adolescentes.
"Nossos dados sugerem que os agonistas de MC3R", ou seja, os tratamentos que estimulam a ação dessa proteína, "poderiam ser úteis em determinados pacientes com puberdade tardia e/ou baixa estatura", explicaram os cientistas.