Essencial para o corpo, vitamina C também é um combustível do câncer
Pesquisa mostra que cerca de 20 cânceres estudados suprem sua necessidade de grande quantidade de nutrientes através da reciclagem da vitamina C
AFP
Publicado em 25 de junho de 2019 às 21h34.
Última atualização em 26 de junho de 2019 às 10h20.
Sabe-se que a ingestão de vitamina C é fundamental na dieta porque, entre outras coisas, protege contra o dano oxidativo causado pelos radicais livres. Mas uma equipe de pesquisadores chilenos acaba de demonstrar que serve também como combustível para as células tumorais de diferentes tipos de câncer .
Docentes da Universidade de Concepción, liderados pela doutora Coralia Rivas, acabam de publicar os resultados de cerca de 20 anos de pesquisa na revista Free Radical Biology and Medicine.
A conclusão é que os cerca de 20 cânceres estudados satisfazem suas necessidades de grandes quantidades de nutrientes através da reciclagem da vitamina C. "Se olharmos a partir de um contexto das células, as cancerígenas não sabem que são ruins; sabem de que necessitam para sobreviver", diz Rivas à AFP por telefone.
Até agora, haviam-se estabelecido duas formas de vitamina C no organismo: a oxidada (ácido desidroascórbico ou DHA), que se encontra em altas concentrações em ambientes pró-oxidantes ao redor de tumores e a reduzida (AA, ácido ascórbico), que possui a benéfica função antioxidante.
O mecanismo descoberto consiste em que as células tumorais adquirem esse DHA, que se encontra em grandes quantidades ao seu redor, o transportam para seu interior e o convertem em vitamina C reduzida, a molécula que lhes permite continuar vivendo, diz a pesquisadora.
As células tumorais de mama, próstata e leucemia "eram capazes de acumular intracelularmente muito mais vitamina C que as células normais", revela Rivas, que em 1993 publicou um trabalho sobre esse tema na revista Nature.
Para a pesquisadora, essa descoberta é de "suma importância porque significa que a vitamina C está fortalecendo as células tumorais e as deixa mais resistentes aos tratamentos".
"A célula tumoral consome altas quantidades de antioxidante que, nesse caso, é a vitamina C, que é usada para inibir esse ambiente oxidativo", diz a pesquisadora.
Estudos já apontavam que a vitamina C inibe, de certo modo, os tratamentos de quimioterapia e radioterapia, diz a pesquisadora, que indica que o passo seguinte é "poder inibir a captação desse transportador de vitamina C que está localizado na mitocôndria", organela onde é gerada a energia de que as células necessitam para sobreviver, duplicar-se e realizar todas as suas funções.
Segundo essa investigação, a chave da sobrevivência de diferentes tipos de câncer não só estaria na capacidade aumentada dos tumores de adquirir a forma oxidada da vitamina C, mas também em outro elemento-chave: a presença de um transportador de vitamina C mitocondrial denominado SVCT2, que seria o "veículo" que permitiria à mitocôndria do tumor trasladar a vitamina ao seu interior e, dessa forma, evitar sua própria morte.
A pesquisadora alerta, porém, que não se deve "parar de tomar vitamina C sob nenhuma circunstância", já que ela previne doenças e é essencial para o corpo.