Energia menos poluente reduz risco de morte, revela estudo
Pesquisa mostra que a melhora na qualidade do ar de várias cidades poupou até 12,7 mil vidas de mortes prematuras
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de outubro de 2017 às 09h25.
Última atualização em 6 de outubro de 2017 às 10h51.
São Paulo - Pesquisas recentes nos Estados Unidos e no Brasil reforçam o entendimento de que as mudanças na matriz energética - com substituição de uso de combustíveis fósseis por alternativas menos poluentes - levam à melhora na qualidade do ar e, assim, reduzem riscos de mortes prematuras. Os estudos ainda apontam vantagens econômicas nas alterações.
Uma das pesquisas, da Universidade de Berkeley, na Califórnia (EUA), mostrou que, entre 2007 e 2015, a melhoria na qualidade do ar de várias cidades do país - graças, em grande medida, a investimentos em energia solar e eólica - levou a uma economia de US$ 29,7 a US$ 112,8 bilhões, dependendo da região, e poupou entre 3 mil a 12,7 mil mortes prematuras que seriam causadas por problemas de saúde. O estudo foi publicado em agosto na revista científica Nature Energy.
Enquanto os incentivos federais à energia solar e eólica ficaram na ordem de US$ 6,5 bilhões em 2010, a economia relativa à melhoria da qualidade do ar e redução na emissão de gases de efeito estufa foi estimada pelos pesquisadores em US$ 8,3 bilhões.
Para 2013, foram US$ 11,5 bilhões de incentivos para economia de US$ 13,1 bilhões. Os valores levam em conta o que se deixa de gastar com internações, faltas no trabalho e perda de produtividade por doenças e mortes.
"Comparando ano a ano, claramente os benefícios se igualam ou superam os incentivos", disse Dev Millstein, autor principal do estudo. "Além disso, a vida útil de parques solares e eólicos é de 20 a 30 anos, então eles continuarão a fornecer benefícios por muito tempo depois que os incentivos tiverem cessado."
Diferentemente do Brasil, que tem nas hidrelétricas a maior fonte de geração de energia, os Estados Unidos têm o gás natural e as termelétricas movidas a carvão como protagonistas de sua matriz energética.
A queda na emissão de poluentes ajudou a evitar até 12,7 mil mortes prematuras, dependendo da região, que seriam provocadas por doenças causadas pela poluição.
"Foi, de longe, o maior benefício da melhoria na qualidade do ar", diz Millstein. "Também houve significativas reduções na incidência de asma, bronquite, enfartes não-fatais, visitas ao pronto-socorro por problemas respiratórios e cardiovasculares e nas faltas ao trabalho e escola."
Brasil
Um estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), divulgado em maio, também relacionou os benefícios à saúde causados por uma mudança na matriz energética.
Mas, nesse caso, a pesquisa avaliou a energia usada no transporte público sobre rodas na cidade de São Paulo, que é o diesel, na maior parte dos casos.
O trabalho analisou três cenários, elaborados pela organização Greenpeace. O pior reflete a continuidade das políticas públicas atuais.
Se mantida essa situação até 2050, seriam contabilizadas 178.155 mortes que podem ser atribuídas à poluição do ar por causa da emissão de material particulado fino.
No cenário mais otimista, no entanto, com 100% da substituição do diesel pela matriz elétrica, 12.796 vidas seriam poupadas até 2050. A mudança também evitaria gastos da ordem de R$ 3,8 bilhões por causa da perda de produtividade decorrente das mortes.
Segundo Evangelina Vormittag, diretora técnica do Instituto Saúde e Sustentabilidade e uma das autoras do estudo, o material particulado é o elemento mais preocupante da poluição que vem do diesel.
"Ele causa problemas sistêmicos, como enfarte", diz. O material particulado costuma ser mais associado aos problemas respiratórios, mas 80% dos efeitos são no sistema cardiovascular. "Ele entra no organismo pelo pulmão e passa para a circulação", diz.
Segundo o médico Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e coautor do estudo, os poluentes da queima do diesel podem aumentar ainda o risco de derrame, câncer de pulmão e de bexiga. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.