Ciência

Drauzio Varella: vacina pode ser útil só em futura epidemia do coronavírus

Para Drauzio Varella, os testes de vacinas que estão acontecendo no Brasil dão uma falsa sensação de segurança e o distanciamento social precisar continuar

Drauzio Varella: médico defendeu que o Brasil deveria ter feito um isolamento mais forte e menos prologado no começo da pandemia (Dráuzio Varella/Divulgação)

Drauzio Varella: médico defendeu que o Brasil deveria ter feito um isolamento mais forte e menos prologado no começo da pandemia (Dráuzio Varella/Divulgação)

Felipe Giacomelli

Felipe Giacomelli

Publicado em 6 de agosto de 2020 às 07h43.

Última atualização em 6 de agosto de 2020 às 09h43.

Com ao menos quatro vacinas em fase de testes ou começando a serem testadas no Brasil, pode passar a sensação de que a pandemia do novo coronavírus está chegando ao fim por aqui. Mas não se engane. Para o médico Drauzio Varella, ainda vai demorar para que as vacinas sejam disponibilizadas à população e é preciso continuar combatendo o vírus com medidas de distanciamento social e uso de máscara.

"A vacina não vai resolver o problema atual", disse o médico em entrevista à GloboNews nesta quinta-feira (6). "[Com os testes das vacinas,] os politicos erram muito. Dão à população uma falsa segurança, que daqui a pouco vamos voltar aos estádio, aos bares", declarou.

"Pode ser que quando chegue, essa vacina não seja mais tão necessária assim. Até o meio do ano que vem, pode ter virado uma gripe, uma pneumonia mais arrefecida. Agora é a hora de evitar a aglomeração, de usar máscara. Não usar máscara agora é um absurdo tão grande. O que leva um cidadão a não usá-la? É uma estupidez. Por que no auge de uma epidemia a pessoa não usa máscara?", questionou.

Duas vacinas já estão sendo testadas no país: a da Sinovac, a partir do Instituto Butatan, em São Paulo, e a de Oxford, com a Fiocruz, no Rio de Janeiro. Há acordos para a vacinas da Pfizer, de outra empresa chinesa e uma russa também virem ao país.

Atualmente, elas estão na terceira fase de testes, que é quando os pesquisadores verão se de fato as vacinas protegem contra a covid-19. Até agora, elas foram aprovadas nas duas primeiras fases: elas são seguras para o seres humanos e provocam a produção de anticorpos. A dúvida, portanto, é se esse anticorpos são o suficiente contra o coronavírus.

Por essa razão, essa última fase de testes pode levar meses. Previsões mais otimistas apontam que entre outubro e novembro, os primeiros resultados já começarão a ser divulgados. E uma imunização da população ficaria só para o começo de 2021. Drauzio explicou que pode levar ainda mais tempo, devido ao tamanho do desafio.

"Se você pegar a história das vacinas, não tem nenhuma produzida em meses. Elas levaram anos para serem feitas. Precisa mostrar que a vacina tem capacidade de imunizar contra a doença, e isso leva tempo. Nessa daqui,a pressão é tão grande, que vamos ter estudos mais ou menos completos. Serão estudos inicias ainda", disse.

"Aí vamos ter outro problema. Vamos dizer que tudo corra bem com essas 2 vacinas testadas no Brasil. Vamos ter a fase de fabricação, e quem tem que ser vacinado no Brasil? São 210 milhões de pessoas. Não temos experiência anterior com uma vacina que precisasse para tanta gente. Como vão ser preparadas as vacinas? Como vão ser as instalações? Teremos frascos para embalar todas elas?", acrescentou.

Nesta semana, João Doria, governador de São Paulo, autorizou que bares e restaurantes pudessem ficar abertos até às 22h. Drauzio disse que, do ponto de vista científico, a medida não deveria ser adotada, mas que as autoridades precisaram lidar com outras pressões para iniciar a retomada.

"Se você for analisar do ponto de vista cientifico, não vai encontrar um epidemiologista que vai dizer que está na hora de abrir, tendo 1.000 mortes por dia. Nas grandes cidades brasileiras, está morrendo um monte de gente ainda. A questão do isolamento é que ele precisa ser feito de cara e não pode ser muito prolongado. E a gente nunca teve isso por aqui", explicou.

Quanto à voltas às aulas no segundo semestre, o médico lembrou que, apesar de as crianças estarem mais protegidas contra a covid-19, outras pessoas podem ser colocadas em risco.

"Tem vários aspectos. Primeiro: alguém precisa levar a criança para escola e depois trazer de volta para a casa. E com essa epidemia não tem conversa. É um vírus altamente contagioso. Se você se expõe, você se infecta. Quanto mais gente se expõe, mais gente se infecta. Se você precisa levar seu filho para a escola, você vai sair de casa e vai se expôr. E, segundo, tem o fato de as crianças estarem em casa, que também está prendendo os pais em casa. A hora que elas voltarem para as escolas, os pais também vão sair. Eu não sei quando é o tempo certo de voltar às aulas, ninguém sabe", completou.

Acompanhe tudo sobre:BrasilCoronavírusMedicinaPandemiaUniversidade de OxfordVacinas

Mais de Ciência

Estresse excessivo pode atrapalhar a memória e causar ansiedade desnecessária, diz estudo

Telescópio da Nasa mostra que buracos negros estão cada vez maiores; entenda

Surto de fungos mortais cresce desde a Covid-19, impulsionado por mudanças climáticas

Meteoro 200 vezes maior que o dos dinossauros ajudou a vida na Terra, diz estudo