3I/ATLAS: cometa cruza o Sistema Solar a 130 mil milhas por hora (Филипп Романов/Wikimedia Commons)
Redação Exame
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 05h01.
O cometa 3I/ATLAS está cruzando o Sistema Solar a 130 mil milhas por hora e intriga a comunidade científica global. Além de ser o segundo objeto interestelar já registrado por telescópios, ele pode ser a chave para rever o modelo atual de como cometas se formam — tanto no sistema da humanidade quanto em regiões mais distantes da galáxia.
Agora, uma equipe internacional de astrônomos afirma que o cometa exibe sinais claros de criovulcanismo, um fenômeno extremamente raro.
Se confirmado, o 3I/ATLAS não só reforça a ideia de que corpos vindos de fora do Sistema Solar são diferentes de tudo que a humanidade já viu, como também aponta para uma origem química e física muito mais complexa do que se imaginava.
Descoberto em julho, o 3I/ATLAS rapidamente se tornou alvo de observações intensas.
O que o torna especial, além da velocidade e da origem interestelar, é o fato de nunca ter passado perto de uma estrela. Isso significa que ele permanece praticamente inalterado desde sua formação, há bilhões de anos — uma relíquia cósmica em estado bruto.
Enquanto se aproximava do Sol, pesquisadores detectaram um aumento abrupto e duradouro no brilho do cometa, a cerca de 2,5 unidades astronômicas da estrela. Esse brilho não foi causado por uma explosão única, mas por uma liberação massiva de material na superfície, algo semelhante a uma erupção global de água e gases.
A explicação mais plausível, segundo cientistas da Cornell University, é a ocorrência de criovulcanismo: erupções de água líquida, vapor e compostos voláteis a partir do interior congelado de um corpo celeste. Já observado em luas como Europa (Júpiter) e Encélado (Saturno), o fenômeno é quase inédito em cometas.
O caso do 3I/ATLAS é ainda mais incomum, de acordo com o estudo. Sem uma camada protetora de poeira (típica de cometas do Sistema Solar), sua superfície inteira parece ter entrado em atividade. E mais: dados espectrais indicam que o cometa possui características semelhantes a condritos carbonáceos, meteoritos antigos e ricos em metais como ferro e níquel.
A hipótese dos autores do estudo é que, ao se aquecer, o gelo do cometa derreteu e iniciou um processo químico raro de corrosão de grãos metálicos microscópicos. Isso teria liberado energia e gases como dióxido de carbono, gerando uma erupção de gelo e vapor.
Esse tipo de reação, semelhante a um processo industrial conhecido como Fischer-Tropsch, não é comum em cometas do Sistema Solar, que têm menos metal em sua composição. Isso faz do 3I/ATLAS um caso único. E também um desafio direto ao modelo padrão de formação cometária.
Até agora, a ciência tratava cometas como blocos mistos de gelo, poeira e rochas simples. O 3I/ATLAS pode provar que alguns se formam com combinações mais complexas, envolvendo água e metais em grande escala.
“Cada objeto interestelar descoberto revela propriedades inesperadas que testam e expandem nossos modelos atuais”, escreveram os autores.
Ainda sem revisão por pares, o estudo levanta a possibilidade de que vulcões de gelo, reações químicas profundas e alta concentração de metais sejam mais comuns em regiões longínquas do cosmos — ou até em áreas inexploradas do nosso próprio sistema.
Se confirmado, o 3I/ATLAS não será apenas um visitante interestelar, mas sim uma nova página na história da astronomia.