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CoronaVac: por que a eficácia de 50,4% não compromete a vacina

Número divulgado nesta terça-feira é diferente do que foi divulgado na semana passada; isso não significa que vacina não funciona

CoronaVac: vacina tem eficácia geral de 50,38% (Amanda Perobelli/Reuters)

Tamires Vitorio

Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 15h29.

Última atualização em 12 de janeiro de 2021 às 16h27.

Uma vacina precisa ser ao menos 50% eficaz para ser aprovada contra uma determinada doença – e, até o momento, todos os imunizantes aprovados contra o novo coronavírus passaram, com folga, a porcentagem necessária para uma aprovação. Na semana passada, o governo do Estado de São Paulo divulgou que a CoronaVac era 78% eficaz contra casos de covid-19 que demandavam atendimento médico. Nesta terça-feira, 12, o Instituto Butantan afirmou que a eficácia geral do imunizante é de 50,38%. Mas o que isso significa para a população?

Os números dizem respeito a duas informações distintas. Quando fala-se que a vacina é 78% eficaz na proteção de casos ambulatoriais do SARS-CoV-2, isso quer dizer que ela evitou que os pacientes infectados desenvolvessem quadros clínicos da doença, que demandava busca de auxílio médico.

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Já a eficácia de 50,38% diz respeito à proteção global induzida pelo imunizante – ou seja, qualquer pessoa inserida neste número não apresentou nenhum sintoma da covid-19, seja ele leve, moderado ou grave. A doença foi averiguada, nesses casos, por análises laboratoriais, como testes RT-PCR constantes ou verificação sorológica.

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O número tampouco significa que a vacina não funciona. Um exemplo é a já conhecida vacina da gripe que, em alguns anos, vezes não supera a marca dos 50% – em 2018, a eficácia do imunizante chegou a 25%. Nem por isso a vacina deixou de cumprir a sua principal função: proteger as pessoas contra o vírus.

Para os infectologistas, a cobertura vacinal é um dado igualmente importante. O Brasil tem um histórico positivo de imunizações, tendo erradicado a poliomielite na década de 1990. Conseguir aplicar a vacina no maior número de pessoas é essencial para controlar a pandemia e evitar a disseminação do vírus, com uma imunidade coletiva.

"Isso não quer dizer que a CoronaVac é menos eficaz. Nenhuma vacina impede 100% uma infecção, mas sim que a doença se desenvolva, que é justamente isso que está sendo medido", afirma Dr. Daniel Bargieri, infectologista e professor no Departamento de Parasitologia no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.

Para Bargieri, é importante levar em conta o potencial do imunizante em reduzir os quadros graves que podem levar pacientes à morte. No Brasil, mais de 203 mil pessoas morreram por conta da doença. A vacina, segundo Bargieri, também pode ajudar a resolver o problema de falta de leitos hospitalares. "Se impedimos que quase 80% dos infectados necessitem de auxílio hospitalar, isso já resolve bastante o problema", diz.

O infectologista Carlos Fortaleza, professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do Comitê de Contingência da Covid-19 no estado de São Paulo, explica que os dados apontam para uma vacina que reduz em 50% a chance de contrair a doença, em 78% a chance de ir ao médico e em 100% a chance de ter um quadro gravíssimo.

Para ele, a eficácia é o suficiente para reduzir a taxa de transmissão R da covid-19, impedindo que as pessoas transmitam a doença. "Ao invés de um crescimento, você tem uma redução. Entre o curto e o médio prazo isso determina um controle epidemiológico excelente".

“A curtíssimo prazo o vacinado não precisa de internação e não corre risco de morrer. Isso vai desafogar o serviço público, os leitos de UTI. Fora a diminuição do número de mortes. Os dados de hoje não trouxeram nenhum desconforto e nenhuma reavaliação sobre a vacina”, disse Fortaleza.

Outro ponto a favor da CoronaVac, para o Dr. Fabio Leal, médico infectologista, diretor de pesquisa da Universidade de São Caetano do Sul e pesquisador do Instituto Nacional de Câncer, é a tecnologia utilizada. Feita com base no vírus inativado, a vacina já é bastante conhecida na comunidade científica. "Esses imunizantes são conhecidamente mais eficazes na proteção de doenças graves do que em casos leves", afirma.

Para Leal, uma comparação entre a CoronaVac e a vacina desenvolvida pela farmacêutica americana Pfizer em parceria com a alemã BioNTech (que apresentou uma eficácia de 90%) não pode ser feita de forma igualitária. "As populações testadas pelas vacinas não são as mesmas. A Pfizer testou a vacina na comunidade em geral, a CoronaVac foi testada em profissionais da linha de frente da covid-19, mais expostas à doença, em ambientes onde a doença circula com mais frequência, e isso interfere em dados de eficácia", diz. "Em segundo, são tecnologias distintas. A Pfizer utliza o mRNA, e as respostas imunes desencadeadas por cada uma dessas tecnologias impactam o processo".

Imunizações de reforço depois de meses da segunda dose também são incertezas em tempos de pandemia. Para os infectologistas ouvidos por EXAME , ainda é muito cedo para afirmar a necessidade de uma revacinação.

O que importa, no momento, é reduzir o número de mortos e infectados – e isso, de acordo com especialistas, a CoronaVac pode fazer.

O que quer dizer quando uma vacina é eficaz?

Imagine um grupo de 200 pessoas. Dessas 200 pessoas, metade recebeu uma vacina e a outra não foi vacinada. Das 100 imunizadas, apenas 25 ficaram doentes.

Do grupo sem imunização, 50 acabaram infectadas. Isso quer dizer que a vacina conseguiu ser eficaz na redução de 50% dos quadros – como é o caso da CoronaVac.

Se cinco pessoas contraíssem a doença durante os testes de uma vacina e 50 entre as não vacinadas, a redução da doença na população seria de 90% – como a vacina da Pfizer.

As fases para a aprovação de uma vacina

Para uma vacina ser aprovada, ela precisa passar por diversas fases de testes clínicos prévios e em humanos. Primeiro, ela passa por fases pré-clínicos, que incluem testes em animais como ratos ou macacos para identificar se a proteção produz resposta imunológica.

A fase 1 é a inicial, quando os laboratórios tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a fase 2 tenta estabelecer de a vacina ou o remédio produz imunidade contra um vírus. Já a fase 3 é a última do estudo e procura demonstrar a eficácia da imunização.

Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando a fase 3 é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário.

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