Ciência

Convívio com homem mudou a estrutura do cérebro dos cachorros

Alterações no cérebro dos animais refletem habilidades de cada raça, como olfato mais apurado

Cachorro: cientistas conseguiram determinar padrões cerebrais diferentes entre cachorros que caçam com base no olfato e os que contam mais com a visão (Llevente bodo/Getty Images)

Cachorro: cientistas conseguiram determinar padrões cerebrais diferentes entre cachorros que caçam com base no olfato e os que contam mais com a visão (Llevente bodo/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de setembro de 2019 às 09h42.

Última atualização em 3 de setembro de 2019 às 10h44.

São Paulo — Nos mil anos em que convivemos com os cachorros, conseguimos transformar lobos selvagens em nossos melhores amigos. E dos mais variados tamanhos: do pequeno pinscher ao gigantesco dogue alemão. Agora, um novo estudo revela que a mudança foi ainda mais profunda do que as aparências sugerem. Os homens alteraram também a estrutura cerebral dos cães.

Dona de dois pastores australianos hiperativos, a neurocientista da Universidade Harvard Erin Hecht decidiu comparar os exames de ressonância magnética de 62 cachorros de 32 raças diferentes. “Assim que vi todas as imagens alinhadas, o resultado saltou aos olhos”, disse. Embora os animais apresentassem uma grande variedade de formatos e tamanhos de cabeça, nenhuma dessas diferenças seria capaz de explicar as imagens cerebrais.

Erin e colegas identificaram seis regiões cerebrais que tendem a ser maiores ou menores, dependendo do cachorro, e atuam de forma sincronizada. O padrão levou a pesquisadora a se perguntar se as regiões funcionariam em conjunto, de acordo com diferentes comportamentos e se estes estariam relacionados às raças.

Beagles, por exemplo, são capazes de identificar, pelo olfato, tumores cancerígenos. Já border collies conseguem pastorear ovelhas com agilidade.

Os cientistas decidiram pesquisar como as seis regiões cerebrais diferiam de acordo com características de cada raça, segundo a definição do American Kennel Club. A pesquisa foi publicada no Journal of Neuroscience.

Boxers e dobermanns, por exemplo, que são muitas vezes usados pela polícia, revelam diferenças no que diz respeito a olfato e visão. Raças criadas para esportes têm uma rede cerebral com destaque maior para regiões responsáveis por medo, estresse e ansiedade.

Os cientistas conseguiram determinar padrões cerebrais diferentes entre cachorros que caçam com base no olfato e os que contam mais com a visão. Os animais pesquisados eram de estimação. “É impressionante que a gente tenha constatado todas essas diferenças mesmo em cães que não estão sendo usados para essas atividades.”

Para a neurocientista, as descobertas podem ter implicações mais profundas. O fato de sermos capazes de alterar uma espécie a ponto de afetar sua estrutura cerebral é algo a ser levado em conta.

Acompanhe tudo sobre:AnimaisCachorrosPesquisas científicas

Mais de Ciência

Como esta cientista curou o próprio câncer de mama — e por que isso não deve ser repetido

Múmia de filhote de tigre dente-de-sabre é encontrada 'intacta'; veja foto

Por que esta cidade ficará sem sol até janeiro

Astrônomos tiram foto inédita de estrela fora da Via Láctea