Redação Exame
Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 04h13.
Pesquisadores de Japão e Estados Unidos afirmam que a atmosfera da Terra não conseguirá manter seus níveis atuais de oxigênio. O resultado? O fim da vida como os humanos conhecem hoje.
O estudo, publicado na revista Nature e realizado por uma equipe que inclui o geocientista Kazumi Ozaki, da Toho University, aponta que o planeta caminhará para um processo inevitável de desoxigenação. Ou seja, uma diminuição drástica do oxigênio disponível no ar.
Segundo Ozaki, em comunicado divulgado pela Toho University, a redução será consequência direta da evolução do Sol. À medida que a estrela se torna mais luminosa, altera o equilíbrio químico entre a superfície terrestre, os oceanos e o interior do planeta. Esse mecanismo, segundo ele, faz com que a atmosfera perca a capacidade de repor o oxigênio que hoje mantém a vida conhecida pelos seres humanos.
Os cálculos apresentados na Nature estimam que a atmosfera rica em oxigênio deve durar, em média, cerca de 1,08 bilhão de anos, com uma margem de erro de aproximadamente 140 milhões de anos. Os modelos indicam que, após esse período, o oxigênio cairá rapidamente para valores semelhantes aos da Terra Arqueana, época anterior ao surgimento da vida complexa.
Esse declínio ocorrerá antes mesmo do chamado “efeito estufa úmido”, uma etapa em que o vapor de água passa a se acumular na atmosfera. Também será antes da perda significativa de água dos oceanos para o espaço.
É importante esclarecer que esse processo não será linear.
Durante grande parte desse período, os níveis de oxigênio permanecerão relativamente estáveis. Mas, ao atingir um ponto crítico, ocorrerá um colapso abrupto, com queda rápida e intensa da concentração de oxigênio.
Essas conclusões reforçam o debate sobre o quanto a Terra será "habitável" no futuro. O estudo sugere que biosferas avançadas, como a nossa, podem se tornar limitadas pela falta de CO₂ suficiente para sustentar a fotossíntese. Isso favoreceria a formação de atmosferas pobres em oxigênio, semelhantes às de muitos exoplanetas estudados por missões da Nasa.
O cenário final projetado é de um planeta com atmosfera pobre em oxigênio e quimicamente instável. Sem organismos para repor o oxigênio e regular reações químicas, gases como CO₂, CO e CH₄ (dióxido de carbono, monóxido de carbono e metano) se acumularão.
Um estudo publicado no Astrophysical Journal ajuda a ilustrar esse futuro.
Ele analisou atmosferas de planetas parecidos com a Terra, mas sem vida, e descobriu que altos níveis de CO₂ podem desencadear o fenômeno chamado "CO runaway", uma instabilidade química que leva a um rápido aumento do monóxido de carbono.
Esse processo ocorre porque a fotólise (quebra de moléculas pela luz solar) do CO₂ passa a ser mais intensa, produzindo CO mais rápido do que ele consegue ser eliminado.
Com o colapso do oxigênio, a Terra pode desenvolver uma névoa orgânica densa, semelhante à que provavelmente dominou o planeta em seus primeiros estágios. O estudo da Nature sugere que esse tipo de atmosfera pode representar a a última fase "habitável" antes que o planeta se torne totalmente inóspito para a maior parte da vida.
Em resumo, a Terra não será destruída fisicamente, mas se tornará um "ambiente hostil", retornando a condições parecidas com as de seu passado mais distante.