Ciência

Cientistas revivem vida presa em cristal por mais de 10 mil anos

Os microorganismos, jamais vistos no nosso planeta, foram encontrados no México. A descoberta pode ajudar na busca por vida em outros planetas

Cristais de Naica: os organismos foram encontrados dentro dessas estruturas (Alexander Van Driessche/Wikimedia Commons)

Cristais de Naica: os organismos foram encontrados dentro dessas estruturas (Alexander Van Driessche/Wikimedia Commons)

Marina Demartini

Marina Demartini

Publicado em 22 de fevereiro de 2017 às 05h55.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2017 às 05h55.

São Paulo – Cientistas fizeram uma descoberta na Terra que pode influenciar a busca por vida em outros planetas. Eles encontraram microrganismos, jamais vistos no nosso astro, escondidos dentro de cristais gigantes nas cavernas de Naica em Chihuahua, México.

Essas criaturas ficaram “adormecidas” nessas formações cristalinas por mais de 10 mil anos – a previsão é que esse período possa ser de até 50 mil anos de “hibernação”. O que impressiona, no entanto, é que os pesquisadores conseguiram extrair e reviver os micróbios.

Para Penélope Boston, diretora do Instituto de Astrobiologia da Nasa, a descoberta revela que a vida microbiana na Terra pode suportar condições que antes eram inimagináveis.  “Isso tem efeitos profundos sobre como tentamos entender a história evolutiva da vida microbiana neste planeta", disse em reunião da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), onde a novidade foi divulgada, de acordo com a revista National Geographic.

Além disso, para a diretora, os micróbios causam preocupação com relação aos esforços da Nasa em explorar a vida em outros lugares do universo. Apesar de a agência espacial esterilizar as naves espaciais, há sempre o risco de uma dessas criaturas pegarem carona em uma missão. “Como podemos garantir que as missões de detecção de vida vão encontrar a verdadeira vida de Marte ou a vida de mundos gelados em vez da nossa vida?”

Segundo a astrobióloga, o elo entre os micróbios e a busca por vida extraterrestre é óbvio. “Qualquer sistema extremófilo [organismo que sobrevive em condições geoquímicas extremas] que estejamos estudando nos permite ir além no conhecimento sobre a vida na Terra”, explica. “Por isso, nós incluímos isso [a pesquisa] no rol de possibilidades que podemos aplicar em diferentes configurações planetárias.”

As cavernas

As cavernas de Naica já eram conhecidas pelos cientistas devido às condições de temperatura do ambiente. O local é extremamente úmido e quente, variando entre 40°C e 60°C. Além disso, não há luz nas cavernas, o que faz com que os organismos que vivem ali precisem realizar quimiossíntese – a extração de energia a partir da oxidação dos minerais – para sobreviverem.

Muitos cientistas acreditam que locais como as cavernas de Naica possam existir em outros planetas. Assim, seria possível encontrar vida na parte subterrânea desses astros. Já foram encontrados micróbios vivendo nas cavernas de Naica. Contudo, é a primeira vez que um grupo de pesquisadores consegue extrair organismos de cristais – foi preciso mais de oito anos de pesquisa para chegar ao resultado.

Boston afirma que a equipe tomou todas as precauções para evitar a contaminação do local. Segundo ela, todos usaram uniformes de proteção e as brocas e superfícies dos cristais foram esterilizadas com peróxido de hidrogênio.

"Nós também fizemos o trabalho genético e cultivamos os organismos das cavernas que estão vivos agora e expostos, e vimos que alguns desses micróbios são semelhantes, mas não idênticos aos das inclusões fluidas”, disse Boston. Desse modo, ela está confiante que os micróbios realmente nasceram no cristal e não foram introduzidos na caverna.

Futuro das escavações

Boston disse na reunião que um estudo sobre a descoberta está em processo de produção. Isso significa que a pesquisa ainda não passou pela revisão por pares, um procedimento padrão na verificação de uma novidade científica.

A astrobióloga da Nasa contou que escavações na caverna de Naica não poderão ser mais feitas. Isso porque, o complexo onde ficavam os cristais inundou após uma recente interrupção dos trabalhos de mineração.

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