Ciência

Cientistas revertem em ratos placas que causam Alzheimer

A eliminação gradual de uma enzima chamada BACE1 reverte totalmente a formação de placas amiloide, que atrapalham as sinapses neuronais

Alzheimer: perda da BACE1 também "melhorou a aprendizagem e a memória dos ratos" (vkovalcik/Thinkstock)

Alzheimer: perda da BACE1 também "melhorou a aprendizagem e a memória dos ratos" (vkovalcik/Thinkstock)

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EFE

Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 15h25.

Madri - A eliminação gradual de uma enzima chamada BACE1 "reverte totalmente a formação de placas amiloide" no cérebro de ratos com Alzheimer, o que "traz uma esperança" de que os remédios que têm esta enzima como alvo possam ser capazes de tratar com sucesso a doença em humanos.

Especialistas do hospital universitário Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, assinam o estudo publicado nesta quarta-feira no "Journal of Experimental Medicine", no qual garantem que a descoberta, além de reverter a formação de placas, "pode melhorar a função cognitiva do animal", de acordo com um comunicado.

Uma das primeiras manifestações do Alzheimer é o acúmulo anormal do peptídeo beta-amiloide, que pode formar grandes placas amiloides no cérebro e atrapalhar a função das sinapses neuronais.

A BACE1 ajuda a produzir o peptídeo beta-amiloide, por isso, estão sendo desenvolvidos remédios que inibem essa enzima como tratamento potencial do Alzheimer, mas ela também tem outras funções, então esses fármacos "poderiam ter grandes efeitos secundários". De fato, os ratos que carecem totalmente dela sofrem um déficit de desenvolvimento neurológico severo.

A equipe de cientistas, liderada por Riqiang Yan, quis averiguar se a inibição da BACE1 em adultos poderia ser menos danosa que em roedores jovens, por isso criaram ratos que perdiam gradualmente a enzima conforme envelheciam, que se desenvolveram com normalidade e, aparentemente, permaneciam saudáveis com o passar do tempo.

Esses ratos foram cruzados com outros que começavam a desenvolver as placas amiloides aos 75 dias de vida.

Os descendentes dos dois tipos de roedores cruzados também formavam placas com essa mesma idade, mas seus níveis de BACE1 eram 50% inferiores ao normal

No entanto, "as placas começaram a desaparecer na medida em que os ratos continuavam envelhecendo e perdiam a atividade da BACE1, até que, aos dez meses, os ratos não tinham mais placas em seus cérebros", segundo o comunicado.

Yan disse que, até onde se sabe, esta "é a primeira observação de uma inversão tão drástica dos depósitos de amiloide em qualquer estudo da doença de Alzheimer em ratos".

A redução da atividade da BACE1 também representou um nível mais baixo do peptídeo beta-amiloide e "reverteu outras caraterísticas da doença de Alzheimer, tais como a ativação das células da micróglia e a formação de processos neuronais anômalos".

A perda da BACE1 também "melhorou a aprendizagem e a memória dos ratos" com Alzheimer.

No entanto, as gravações eletrofisiológicas dos neurônios dos roedores mostraram que o esgotamento da BACE1 restaurava só de maneira parcial a função sináptica, o que "sugere" que esta enzima pode ser necessária para uma atividade sináptica apropriada e de cognição.

O estudo proporciona "evidências genéticas" que os depósitos amiloides já formados "podem ser totalmente revertidos após a eliminação gradual e aumentada da BACE1 no adulto".

Os dados mostram, segundo Yan, que os inibidores da BACE1 "têm potencial para tratar pacientes com Alzheimer e sem toxicidade não desejada. Novos estudos deverão desenvolver estratégias para minimizar as deficiências sinápticas resultantes da inibição significativa da BACE1 para conseguir o máximo de benefício para pacientes com Alzheimer".

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