Cientistas flagram “flerte” entre Buracos Negros Supermassivos
Pela primeira vez, conseguimos observar como buracos negros se comportam durante a fusão entre duas galáxias - que também vai acontecer por aqui
Da Redação
Publicado em 30 de junho de 2017 às 14h05.
Última atualização em 30 de junho de 2017 às 14h27.
Em alguns bilhões de anos, a Via Láctea vai se chocar com Andrômeda. Isso é normal: faz parte da evolução das galáxias se fundir ou canibalizar as suas vizinhas.
Só que no centro de cada galáxia há um buraco negro. E a ciência, pela primeira vez, conseguiu observar como esses dois buracos negros interagem nesse momento de mistura galáctica.
No centro das galáxias elípticas ou espirais (como a nossa Via Láctea), existe um buraco negro gigantesco – tanto que esse tipo de objeto é chamado de Buraco Negro Supermassivo. Buracos negros crescem conforme vão engolindo matéria, ou mesmo outros buracos negros.
É isso que sabemos que acontece durante uma fusão de galáxias – os Buracos Negros Supermassivos dentro de cada uma delas se aproximam até se fundirem. No momento da colisão, se eles forem grandes o suficiente, emitem as famosas Ondas Gravitacionais.
Só que tem um passo intermediário aí que cientista nenhum tinha sido capaz de observar: o que acontece antes que os buracos negros se choquem?
Como acontece esse “flerte” que precede a fusão dos buracos? Pelos modelos matemáticos, a hipótese mais aceita era de que os buracos negros gigantescos se tornavam um Sistema Binário, em que um buraco negro fica orbitando o outro.
As estrelas fazem isso aos montes – e a astronomia aprendeu muito com os chamados sistemas binários visuais, em que as duas estrelas são observáveis e podemos descobrir informações sobre sua massa, sua trajetória e o ambiente ao seu redor.
Nem a existência de sistemas binários nem a fusão de galáxias são fenômemos raros. Portanto, os Buracos Negros Supermassivos Binários deveriam ser muito comuns – então porque raios demorou tanto para conseguirmos ver um?
Buracos negros são furtivos: eles engolem até a luz e só podem ser detectados porque exercem uma baita atração gravitacional sobre os objetos (estrelas e gases) que ficam próximos a eles.
A violenta atração gravitacional que exercem também torna o ambiente ao seu redor instável – em dose dupla, dupla instabilidade. Muito rapidamente, o sistema binário decai, o que quer dizer que um buraco fica indistinguível do outro.
Resultado: não conseguimos resolvê-los (analisá-los separadamente) e, assim, não é possível aprender absolutamente nada sobre eles. Até agora.
Nesta semana, astrônomos da Universidade do Novo México publicaram não só a primeira observação desse momento (astronomicamente curto) de estabilidade dos buracos negros como foram capazes de medir o movimento orbital entre eles.
A dupla que foi flagrada fica na galáxia recém-fundida chamada 0402+379, que fica a 750 milhões de anos-luz da Terra. O sistema que fez a descoberta é feito de 10 radiotelescópios, que se aproveitam de uma das poucas pistas que os Buracos Negros dão de sua existência: eles atraem as partículas ao redor com tanta violência que elas aquecem até se tornarem visíveis em raio-x e rádio.
Com essas pegadas de rádio, foi possível analisar os buracos separados pela primeira vez. O estudo revelou que a massa somada deles é equivalente a 15 bilhões de vezes a do nosso Sol.
A órbita completa no sistema leva cerca de 24 mil anos, tão longa que ainda não foi possível observar uma volta completa.
Faltam mais evidências para caracterizar a órbita do sistema com mais precisão, mas a conquista astronômica é histórica: é o primeiro sistema binário visual resolvido e ajuda a provar que nossos modelos teóricos sobre o universo estão corretos, ao menos no que se refere a buracos negros supermassivos.
E as consequências práticas também são bem interessantes: as novas observações podem melhorar nossa capacidade mapear Ondas Gravitacionais e prever quando (e onde) vão acontecer.
O novo estudo também nos dá um vislumbre do que o nosso próprio buraco negro, Saggitarius A*, pode esperar pela frente, quando Andrômeda chegar para visitar.
Este conteúdo foi originalmente publicado no site da Superinteressante.