Cientistas brasileiros descobrem 25 aglomerados estelares
"Nós, brasileiros, somos capazes de desenvolver técnicas que são de primeira linha nas pesquisas mundiais", afirma Wagner Corradi, do LNA e da UFMG
Tamires Vitorio
Publicado em 3 de julho de 2020 às 11h33.
Última atualização em 3 de julho de 2020 às 11h51.
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) descobriu 25 aglomerados estelares inéditos. A pesquisa, feita sem o uso da Inteligência Artificial , foi conduzida somente com a supervisão humana e com o satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia.
Para entender como funcionam os aglomerados, segundo o diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, e professor da UFMG, Wagner Corradi, basta pensar em um estádio de futebol cheio em uma final de campeonato (obviamente, sem a pandemia do novo coronavírus ). Imagine o Maracanã, no Rio de Janeiro, lotado. A ideia é identificar uma família que foi assistir a uma partida do Flamengo versus Fluminense.
As informações que você tem disponíveis para encontrá-la são a distância dela até o ponto onde você está, as movimentações que ela faz em grupo até o banheiro, por exemplo, além das características físicas que os membros têm em comum.
O mesmo aconteceu durante a procura pelos aglomerados estelares.
A príncipio, o foco era um único aglomerado. Mas o pós-doutorando Filipe Ferreira Andrade, do programa de pós-graduação em física da UFMG, acabou encontrando outros em volta do primeiro objeto de estudo. Depois, outras famílias de estrelas foram encontradas --- essas não haviam sido descobertas por nenhum outro país ou grupo de pesquisadores no mundo.
"Nosso trabalho é um trabalho de detetive de conseguir reconhecer o objeto", explica Corradi, em entrevista por telefone à EXAME .
O uso da inteligência artificial não foi o principal responsável pelo encontro estelar. De acordo com Corradi, todo o desenvolvimento da pesquisa foi feito com a supervisão humana.
"Outros pesquisadores pegam o computador e configuram tudo, o computador procura de forma cega, e eventualmente acha muita coisa, mas perde muita coisa também. A gente fez de maneira supervisionada. Usamos os computadores para armazenamento dos dados, mas guiamos nossos passos com a perspicácia humana", diz Corradi.
A importância dos 25 aglomerados descobertos por cientistas brasileiros, para Corradi, é imensa.
"À medida que vamos estudando isso, beneficiamos também toda a comunidade científica, você desenvolve equipamentos muito sensíveis, técnicas que são utilizadas em muitas outras situações. Com a pesquisa, produzimos um volume de dados muito grande. Mais importante e tão importante quanto coletar os dados é você analisá-los, é você ter técnicas para tirar o que os dados têm de melhor", afirma Corradi. "A gente mostra para o mundo que nós, brasileiros, somos capazes de desenvolver técnicas que são de primeira linha nas pesquisas mundiais e achar coisas que ninguém mais está achando."
A descoberta foi publicada na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (MNRAS, na sigla em inglês). O grupo de pesquisadores é composto por Andrade, Corradi, e também pelos professores João Francisco Santos Jr., da UFMG, Francisco Maia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Mateus de Souza Angelo (CEFET-MG).
O próximo passo, segundo Corradi, é iniciar um estudo mais detalhado de cada objeto, "usando técnicas de espectroscopia e polarimetria astronômicas". "Queremos refinar a determinação de suas propriedades astrofísicas, do meio interestelar à sua volta e das implicações na evolução dinâmica da nossa Galáxia, a Via Láctea", garante.