Câncer de pele: vacina pode reduzir em 44% risco de morte, diz teste preliminar
O novo produto utiliza a tecnologia de RNA mensageiros, a mesma de imunizantes contra covid-19, e por isso permite personalizar doses da vacina com até 34 antígenos
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de dezembro de 2022 às 21h10.
Uma nova vacina em fase de testes desenvolvida pelas farmacêuticas Moderna e Merck Sharp and Dohme (MSD) pode diminuir os riscos de morte ou regresso de câncer de pele em pacientes que estão tratando a doença.
Os resultados iniciais, ainda não publicados em revistas científicas, foram divulgados este mês e mostram que pacientes que receberam a vacina junto à terapia Keytruda, que aumenta a capacidade do sistema imune do corpo em detectar e combater as células tumorais, tiveram 44% menos chances de morte ou retorno da doença.
O novo produto utiliza a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) - a mesma de imunizantes contra covid-19 - e por isso permite personalizar doses da vacina com até 34 antígenos que podem ser detectados em melanomas, o tipo de câncer mais frequente no Brasil, correspondendo a 30% dos casos da doença, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
"É uma tecnologia similar à das vacinas contra covid-19, que permite criar rapidamente novas vacinas a partir de diferentes antígenos. Mas, neste caso, a personalização é feita de paciente para paciente e não em massa, como é feita com as doses atualizadas contra covid. Além disso, as células cancerígenas não sofrem mutações tão rapidamente quanto o vírus", explica Márcia Abade, diretora médica da MSD Brasil.
Até agora, os testes vêm sendo realizados em 157 pacientes pacientes com melanoma de estágios III e IV que foram submetidos a resseção cirúrgica completa. Em 2023, a vacina passará por uma última fase de testes - que deve ter um grupo de pacientes maior e durar em torno de dois a três anos. Se comprovada a sua eficácia e segurança, ela será comercializada.
Personalização e precisão no tratamento do câncer
Para desenvolver a vacina, a farmacêutica utiliza como base um exame de biópsia do paciente, em que são detectados os antígenos daquele tumor e desenvolvem a vacina personalizada. "Nós fazemos uma análise genética e endereçamos uma vacina específica, individualizada, para aquele paciente", complementa Márcia Abade. Com isso, segundo a médica, as chances de eficácia tendem a ser maiores.
A aprovação da vacina em teste pode ser um primeiro passo para a utilização dessa tecnologia para outros tipos de câncer, aponta Stéphane Bancel, diretora-geral da Moderna.
"Iniciaremos estudos adicionais em melanoma e outras formas de câncer com o objetivo de trazer um tratamento de câncer verdadeiramente individualizado aos pacientes", afirma ela. "Estamos ansiosos para publicar os dados completos e compartilhar os resultados em uma próxima conferência médica oncológica, bem como com as autoridades de saúde."