Ciência

Cães podem se lembrar das ações dos donos, afirma estudo

Recordação é conhecida como memória episódica, cuja existência já tinha sido demonstrada em humanos e primatas, mas nunca em cães

Cães: pesquisador acredita que um estudo mais aprofundado poderia mostrar que esse tipo de memória também existe em outros animais (.)

Cães: pesquisador acredita que um estudo mais aprofundado poderia mostrar que esse tipo de memória também existe em outros animais (.)

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AFP

Publicado em 24 de novembro de 2016 às 12h17.

Quando se trata de ter uma memória curta e se distrair facilmente, os cães em geral têm má reputação. Mas um novo estudo, divulgado na quarta-feira, sugere que sua capacidade de se lembrar das coisas pode ser mais profunda do que se pensava anteriormente.

Na verdade, eles parecem ser capazes de se lembrar do que as pessoas fizeram no passado recente, disse o artigo publicado na revista Current Biology.

Este tipo de recordação é conhecido como memória episódica - a capacidade de viajar mentalmente no tempo e lembrar de detalhes sobre um evento -, cuja existência já tinha sido demonstrada em humanos e primatas, mas nunca em cães.

"Não é possível simplesmente perguntar: 'Você se lembra do que aconteceu esta manhã?'", disse a principal autora do estudo, Claudia Fugazza.

Ela adaptou uma técnica de treinamento chamada "Do As I Do" (faça como eu faço) para o estudo, realizado com 17 cães, que permite que esses animais respondam com seu comportamento se eles se lembram de determinados eventos.

De acordo com o método, os cães são treinados para imitar algum comportamento humano - por exemplo, dar um pulo no ar - quando ouvirem o comando "faça".

Fugazza, que trabalha com um dos maiores grupos de pesquisa sobre cães do mundo, conhecido como MTA-ELTE Comparative Ethology Research Group em Budapeste, Hungria, disse que o método vai além da imitação de uma ação, investigando se um cão pode inesperadamente se lembrar de uma ação do passado.

"Cães treinados com este método podem imitar ações de seus donos, mesmo depois de um intervalo de 24 horas", disse a pesquisadora.

"Assim, dar aos cães o comando 'faça' depois de um tempo é de certa forma semelhante a perguntar a eles: 'você se lembra do que seu dono fez?'"

O resultado é "a primeira evidência de memória episódica de ações alheias em uma espécie não-humana, e é o primeiro relato desse tipo de memória em cães", disse o artigo.

Fugazza acredita que um estudo mais aprofundado poderia mostrar que esse tipo de memória também existe em outros animais.

Memória em declínio

Os cães estudados, de várias raças e misturas, foram capazes de se lembrar das ações de seus instrutores até um dia depois de as terem visto. Após esse período, suas memórias começaram a diminuir, destacou o estudo.

Perguntas sobre a profundidade da memória dos cães são fontes de debates na comunidade científica.

Alguns especialistas dizem que a memória episódica não existe nos cães, porque os caninos não têm senso de individualidade e parecem viver em uma espécie de presente eterno.

Outros dizem que há evidências crescentes de que os cães têm memórias episódicas, e que isso faz sentido porque eles são animais sociais.

"Os cães têm ótimas memórias de um monte de eventos, e este estudo mostra que ainda estamos aprendendo o quão boa a sua memória realmente é", disse Marc Bekoff, um ecólogo comportamental e ex-pesquisador da Universidade do Colorado.

"Os cães precisam ser capazes de aprender e lembrar o que seu ser humano quer que eles façam, e não haverá sempre uma associação imediata dos eventos no tempo", acrescentou Bekoff, que não participou do estudo.

"Então, não é surpreendente para mim que os cães podem se lembrar do comando 'faça' depois de um período de tempo, mesmo quando eles não estavam esperando serem solicitados para fazer alguma coisa".

Segundo Gema Martin-Ordas, do Instituto de Neurociências da Universidade de Newcastle, o estudo é "interessante", mas não leva em consideração parte da complexidade envolvida nas memórias episódicas.

"Quando nos lembramos de eventos passados, recordamos não só o que estávamos fazendo (por exemplo, comer), mas também onde (por exemplo, na cozinha), quem estava lá (por exemplo, minha mãe) e/ou quando (por exemplo, ontem)", disse a cientista à AFP por e-mail.

"Nesse sentido, seu estudo mostra memórias para o 'o que', mas eu acredito que está faltando alguns dos outros componentes".

Ainda assim, "vale a pena explorar" a ideia, acrescentou.

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