Após sanções, chefe de programa espacial russo acusa EUA de sabotagem
Governo americano levantou sanções econômicas contra 103 empresas estrangeiras alegando que elas mantêm relações com órgãos militares de Rússia e China
Rodrigo Loureiro
Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 16h40.
Durante a década de 1960, Estados Unidos e União Soviética deram início ao que viria a ser chamada de corrida espacial . Mais de meio século depois, essa corrida segue em andamento (com a Rússia , já que a União Soviética não existe mais), e com contornos cada vez mais geopolíticos. Nesta segunda-feira (20), Dmitry Rogozin, diretor geral do programa espacial russo, acusou o governo americano de sabotagem.
A acusação veio após o Departamento de Comércio dos Estados Unidos levantar sanções econômicas contra uma série de empresas chinesas e russas que teriam laços com órgãos militares de seus países, conforme reportado pelo ArsTechnica . Uma dessas empresas é o Centro Espacial Progress Rocket, na Rússia, e que fabrica os foguetes utilizados pelo programa espacial do país.
Foram 103 empresas listadas pelo governo de Donald Trump , sendo 45 companhias russas e 8 58 chinesas. A montagem desta lista já era esperada. O que chama atenção é que o número de empresas russas com negócios relacionados com áreas como aviação, foguetes e dispositivos nucleares dobrou em relação à previsão feita pela agência de notícias Reuters no mês passado.
“O Departamento (de Comércio dos Estados Unidos) reconhece a importância de alavancar as parcerias dos EUA e empresas globais para combater os esforços da China e da Rússia que tentam desviar a tecnologia americana para seus programas militares desestabilizadores”, disse Wilbur Ross, secretário de Comércio dos Estados Unidos, em comunicado divulgado pelo órgão.
Rogozin não ficou nada satisfeito com a decisão americana e reagiu de forma agressiva. “Eles (as sanções) são ilegais como todas as outras sanções impostas anteriormente contra indivíduos e entidades legais russas”, disse Rogozin à agência de notícias estatal RIA Novosti.
Antes disso, na sexta-feira (19), em uma postagem em sua própria página do Facebook, Rogozin já havia alfinetado o governo americano. O oficial pulicou uma imagem em que enaltece o programa espacial russo enquanto compara os esforços da Rússia com os esforços americanos. De forma irônica, ele pergunta os profissionais da SpaceX (empresa de Elon Musk que presta serviços para a Nasa) conseguiriam trabalhar em temperaturas dezenas de graus abaixo de zero. “Nós estamos acostumados com o frio”, diz.
Ao contrário dos Estados Unidos, 2020 não foi um dos melhores anos para a Rússia em relação à exploração espacial. O ano foi marcado por duas viagens de astronautas para a Estação Espacial Internacional utilizando os foguetes Falcon 9, produzidos pela SpaceX . Até então, a Nasa precisava enviar seus astronautas usando foguetes russos, o que forçava um acordo entre Estados Unidos e Rússia.