Amostras de esgoto mostram que covid-19 ainda não se despediu de Paris
Taxas de infecção estão recuando no país, mas nesta semana autoridades tornaram o uso de máscaras obrigatório em espaços públicos fechados
Reuters
Publicado em 23 de julho de 2020 às 16h30.
Amostras de água residual do sistema de esgoto de Paris têm mostrado indícios da covid-19 desde o final de junho, apesar de estes terem desaparecido quando a França impôs um isolamento, de acordo com o chefe do laboratório que realiza a pesquisa.
As taxas de infecção estão recuando no país, mas nesta semana autoridades tornaram o uso de máscaras obrigatório em espaços públicos fechados em reação a uma série de focos novos localizados. Até o momento, a Covid-19 já matou mais de 30 mil pessoas na França.
Estudos iniciais de cientistas da Holanda, França, Austrália e outros locais levam a crer que as amostras de esgoto para detecção do coronavírus SARS-CoV-2 podem ajudar a estimar o número de infecções em uma área geográfica sem que se precise examinar cada pessoa.
Laurent Moulin, que comanda o laboratório de pesquisa administrado pela empresa de água pública Eau de Paris, alertou que as descobertas em si mesmas não significam um ressurgimento do vírus na população desde que o país relaxou as restrições do isolamento.
Mas, disse Moulin, quando vistas em conjunção com outros dados, podem ser um alerta precoce útil sobre a disseminação do vírus, mesmo antes de as pessoas se sentirem doentes o suficiente para procurar assistência médica.
"Tivemos o isolamento, que reduziu o número de pessoas doentes, e um pouco depois vimos uma redução da concentração de SARS-CoV-2 na água residual", disse Moulin, referindo-se à cepa do vírus por trás da epidemia de Covid-19.
"O que estamos vendo desde o final de junho? Vimos algumas localidades que estavam negativas (para indícios do vírus) e que estão se tornando positivas."
As taxas de infecção estão diminuindo em Paris, em linha com a tendência nacional.
Funcionários da usina de tratamento de esgoto de Noisy-le-Grand, no extremo leste da capital, enchem garrafas plásticas com água residual e as colocam em uma caixa térmica. Estas são levadas ao laboratório localizado nos arredores do sul da cidade, e ali pesquisadores com trajes contra ameaças biológicas e máscaras as analisam.
Os testes com amostras de água residual detectam genomas do coronavírus, fragmentos do material genético do vírus que não são infecciosos e podem ser emitidos por pessoas sem sintomas.
Moulin disse que os indícios que sua equipe recolheu no sistema de esgoto serão aplicados a modelos que estão sendo usados para analisar a progressão do vírus.
Em abril, pesquisadores de Paris publicaram resultados que mostraram como recolher amostras de água residual da cidade durante um mês rastreou a mesma curva de crescimento e de queda da epidemia.