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Alta em suicídios nos EUA alerta para novos tratamentos contra depressão

Autoridades de saúde dos EUA disseram nesta quinta-feira que houve uma alta expressiva em taxas de suicídio pelo país desde o início do século

Anthony Bourdain: relatório foi publicado na mesma semana em que celebridades como Anthony Bourdain e Kate Spade cometeram suicídio (Danny Moloshok/Reuters)
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Reuters

Publicado em 9 de junho de 2018 às 17h56.

Chicago - Uma alta no número de suicídios nos Estados Unidos levanta a discussão sobre a necessidade de tratamentos mais eficientes para a depressão , com pesquisadores dizendo que é uma área complicada de desenvolvimento que foi amplamente abandonada pelas grandes empresas farmacêuticas.

Autoridades de saúde dos EUA disseram nesta quinta-feira que houve uma alta expressiva em taxas de suicídio pelo país desde o início do século e pediram uma abordagem abrangente no tratamento da depressão. O relatório foi publicado na mesma semana em que celebridades como Anthony Bourdain e Kate Spade cometeram suicídio.

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A Reuters não conseguiu determinar se Bourdain ou Spade faziam tratamento à base de medicamentos.

O marido de Kate Spade, Andy Spade, disse em nota nesta semana que a estilista sofria de depressão havia muitos anos e fazia um acompanhamento com seus médicos. Um representante de Andy Spade afirmou que ele não tinha mais comentários sobre o assunto neste sábado. Representantes de Bourdain não foram encontrados imediatamente para comentários.

Com a disponibilidade de diversos anti-depressivos genéricos e baratos, muitos que oferecem apenas benefícios marginais, desenvolver medicamentos para depressão é um desafio.

Farmacêuticas têm 140 terapias em desenvolvimento mirando tratar doenças de saúde mental, incluindo 39 delas para o combate à depressão, de acordo com o grupo comercial Produtores e Pesquisadores Farmacêuticos da América. O número é baixo se comparado com as 1100 drogas experimentais de combate ao câncer, produzidas pela mesma indústria, e que podem receber alguns dos preços mais altos.

"A psiquiatria se tornou uma área desfavorável ao investimento", disse Harry Tracy, cuja newsletter NeuroPerspective acompanha desenvolvimento de drogas para tratamentos de problemas psiquiátricos. "Seguradoras dizem 'por que deveríamos pagar mais por um novo tratamento?'".

Alguns dizem que drogas anti-depressivas demoram muito para se tornarem eficientes, isso quando funcionam.

Cerca de metade das pessoas com depressão não respondem às atuais terapias, disse o Dr. Husseini Manji, diretor global de Neurociências na Janssen, unidade da Johnson & Johnson.

O desenvolvimento de anti-depressivos é arriscado. Pacientes em testes clínicos normalmente mostram uma grande resposta placebo, mascarando a eficácia do medicamento que é testado. Além disso, uma vez aprovados, os anti-depressivos requerem uma grande estratégia de vendas para chegarem a psiquiatras e provadores de cuidados primários.

Outro impedimento é a dificuldade de conduzir pesquisas iniciais em animais para formar uma base para testes em pessoas.

"Isso foi um grande desafio para traduzir para testes clínicos em humanos", disse Caroline Ko, líder do projeto NewCures, um programa formado na Universidade Northwestern que busca reduzir o risco de investimentos em tratamentos para depressão, dores, Parkinson e outras doenças.

A J&Jé a única grande empresa farmacêutica fazendo um grande investimento em um novo anti-depressivo, disse Tracy. Outros players menores incluem a Sage Therapeutics, que espera uma decisão das agências reguladoras norte-americanas sobre um tratamento para a depressão pós-parto até o final do ano.

A Esketamina da J&J é focada em depressão resistente a tratamentos. É uma droga similar à ketamina, que é usada como anestésico e para aliviar dores, e muitas vezes abusada como uma droga recreativa com o apelido de "Special K".

A empresa espera pedir a aprovação da esketamina, um spray nasal de ação rápida, na Administração de Drogas e Alimentos dos EUA (FDA) ainda este ano.

"Os anti-depressivos comuns podem levar semanas para funcionar. Eles realmente não são úteis em uma situação de crise", disse Carla Canuso, que lidera os esforços da J&J para testar a droga em pessoas consideradas em risco iminente de suicídio, que é comumente associado à depressão.

A Allergan Plc está desenvolvendo o rapastinel, um anti-depressivo intravenoso de ação rápido adquirido pela companhia em 2015.

A droga foi designada como um avanço terapêutico na FDA, e seus resultados de testes clínicos são esperados para o início de 2019. No mês passado, a companhia adquiriu uma outra droga anti-depressiva de seu colaborador Aptinyx.

Dra. Julie Goldstein Grumet, especialista em Saúde comportamental do Centro de Pesquisa e Prevenção ao Suicídio, disse que 122 pessoas tiraram suas vidas por suicídio por dia na semana passada. Muitas nunca foram diagnosticadas com doenças mentais.

"Estamos perdendo oportunidades de testar pessoas para o risco de suicídio", disse.

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