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1,2 milhão de genomas da covid-19 já foram registrados em banco de dados

Plataforma internacional GISAID é a maior sobre coronavírus, com informação de 172 países e territórios; no Brasil, quase 4.000 genomas já foram identificados pela Fiocruz

Genomas da covid-19: apesar do número alto, apenas três são consideradas como preocupantes pela OMS (Abbott/Divulgação)
LP

Laura Pancini

Publicado em 24 de abril de 2021 às 08h00.

Graças ao esforço de pesquisadores internacionais, mais de 1,2 milhão de sequências do genoma do coronavírus de 172 países e territórios já foram registrados em uma plataforma de dados online chamada GISAID (Iniciativa Global sobre Compartilhamento de Dados da Gripe Aviária, em português).

O número de genomas do coronavírus é alto, mas não é motivo de alarde (para comparação, o vírus do HIV tem 50 milhões de cepas diferentes pelo mundo). Apenas as mutações brasileira, sul-africana e britânica são consideradas como uma variante de preocupação (VOC) pela Organização Mundial de Saúde ( OMS ). As restantes ficam na categoria de "variantes sob investigação".

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A plataforma GISAID tem sido crucial para cientistas de todo o mundo que estudam as origens do SARS-CoV-2, o movimento das variantes e a epidemiologia dos surtos que vêm acontecendo. Nela, os cientistas podem ver como os genomas da sua região se relacionam com outros e explorar o surgimento de novas variantes diariamente.

Bancos de dados para sequências de genoma são comuns na comunidade científica, mas o GISAID é de longe o maior para o vírus da covid-19. Originalmente, ele foi concebido em 2006 com foco no vírus da gripe.

“Como os países estão enviando dados de tantas partes do mundo, você tem um sistema onde podemos observar como o vírus se espalha pelo mundo e ver se as medidas de controle e as vacinas ainda funcionam”, diz Sebastian Maurer-Stroh,  consultor científico na organização sem fins lucrativos que hospeda o GISAID.

Os dados do Brasil são atualizados pela Fundação Oswaldo Cruz ( Fiocruz ). 3.893 genomas já foram identificados no país, com foco nas variantes P.1 (brasileira), B.1.35 (sul-africana) e B.1.1.7 (britânica).

Para baixar sequências do GISAID, pesquisadores devem se registrar e concordar com termos que incluem a não publicação de estudos baseados nos dados sem reconhecer os cientistas que enviaram as sequências. Apesar de incomodar alguns, outros acreditam que a regra é o motivo do banco de dados estar alcançando seu marco de 1 milhão de genomas agora.

“Esta é a primeira vez que vejo pessoas compartilhando tantos dados antes da publicação”, analisa Tulio de Oliveira, diretor da Plataforma de Inovação e Sequenciamento de Pesquisa KwaZulu-Natal em Durban, na África do Sul.

Esforço (quase) internacional

Quando o coronavírus passou a se espalhar na China , a equipe do GISAID começou a procurar pesquisadores e políticos internacionais para entender quais barreiras poderiam impedir a criação do banco de dados sobre o SARS-CoV-2.

Um exemplo é o de pesquisadores na África Ocidental , que afirmaram não ter o treinamento necessário em bioinformática para contribuir. Para reverter o problema, um cientista do Senegal, afiliado ao GISAID, fez workshops sobre sequenciamento, análise e como usar as ferramentas da plataforma.

Alguns países enviaram um grande número de sequências e são responsáveis ​​pela maior parte em suas regiões. Até o dia 20 de abril, os Estados Unidos haviam compartilhado 303.359 sequências e a contagem do Reino Unido era de 379.510 sequências.

Porém, nem todos os países conseguem fazer parte. Na Tanzânia , por exemplo, nenhuma sequência foi enviada (o país era liderado por John Magufuli, que negou a existência da pandemia por meses até falecer por complicações cardíacas em março de 2021).

El Salvador enviou apenas 6 sequências para 67.851 casos no total no país. O Líbano , com meio milhão de casos, enviou 49 sequências. Os números preocupam e também mostram que provavelmente existem muitos mais genomas do coronavírus andando por aí, prestes a serem descobertos.

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