Willys Whippet redefiniu categoria dos compactos americanos
Com 3,65 metros de comprimento, Willys parecia um carro europeu
Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2016 às 20h44.
John Willys iniciou sua bem-sucedida carreira automotiva como um representante comercial da The Overland Automobile Company. Em 1907, porém, a empresa enfrentava sérios problemas financeiros e administrativos.
Ele identificou a oportunidade de produzir seus próprios automóveis e adquiriu a companhia, rebatizando-a como Willys-Overland Motor Company.
Rapidamente a Willys tornou-se o segundo maior fabricante dos EUA (atrás apenas da Ford), mas quase fechou as portas em 1920, quando o executivo Walter Chrysler tentou assumir o comando.
Pouco tempo depois, pequenos automóveis europeus começaram a ser vistos na sede da empresa em Toledo, Ohio. Eles serviriam de inspiração para a nova investida de John Willys: o Whippet. O objetivo era conceber um veículo totalmente novo, com apelo popular e produzido em grandes volumes.
Dirigido pelo engenheiro A. J. Baker, o departamento de engenharia da Willys descartou a ideia de apenas replicar projetos estrangeiros.
A realidade norte-americana era diversa da Europa, então seria melhor conceber um projeto próprio capaz de estabelecer um novo padrão de automóvel popular.
O Whippet deveria ser bonito, avançado e, sobretudo, mais acessível que os Willys tradicionais.
Apresentado em maio de 1926, o Whippet 96 foi alvo de uma intensa campanha publicitária, motivando milhares de interessados a visitar as concessionárias para conhecer o carro que prometia revolucionar o mercado.
Com 3,65 m de comprimento e 2,54 de entre-eixos, era o menor automóvel norte-americano, inicialmente oferecido sob a marca Overland pela bagatela de US$ 525.
Simplesmente não havia outra opção tão bela ou com o mesmo refinamento técnico pelo mesmo valor: seu motor era um moderno quatro cilindros de 2,2 litros e 31 cv, com lubrificação forçada (e não por salpico) e sistema de refrigeração com bomba d’água – tecnologia descartada por Henry Ford em seu modelo T.
Outra primazia eram os freios nas quatro rodas, numa época em que os concorrentes ofereciam o equipamento apenas nas rodas traseiras.
Apesar de compacto, o Whippet oferecia um interior espaçoso e muito bem-acabado: aliado ao estilo europeu, a qualidade de construção tornou a concorrência obsoleta da noite para o dia.
Havia nada menos que 15 combinações possíveis de carroceria, entre cupês, sedãs, conversíveis, roadsters e até utilitários. Com tantas virtudes, a demanda superou a marca de 110.000 unidades distribuídas entre os mercados dos Estados Unidos, Canadá e Austrália.
Após a extinção da marca Overland em 1927, o Whippet assumiu identidade própria e ganhou a opção de um motor de seis cilindros com sete mancais. Era o mais barato do mercado: US$ 695.
Denominado 93A, se diferenciava do modelo 96 por ser uma evolução do velho Overland 6, com 2,9 litros e 40 cv. Mesmo antiquado, estabeleceu a média horária de 90,54 km/h durante uma prova de 24 horas no autódromo de Indianápolis.
O modelo que ilustra a reportagem pertence aos colecionadores Álvaro e Thamiris Tognini e está na família desde a década de 50: “Nós o ganhamos de um tio, em estado deplorável: foi completamente restaurado em um processo que demorou 12 anos. É o único modelo com essa carroceria no Brasil”.
Restabelecida no mercado, a Willys apresentou o Whippet 96A em janeiro de 1929. Reestilizado, seu entre-eixos crescia para 2,62 m e a cilindrada do motor de quatro cilindros subia para 2,4 litros, resultando em 40 cv e velocidade máxima ao redor de 96 Km/h.
A principal inovação era o Finger Tip Control: motor de partida, faróis e buzina acionados por um botão no centro do volante.
De 1928 até 1929 foram produzidas 242.000 unidades, colocando a Willys na terceira posição em vendas. Mas a concorrência não deu trégua: a Ford mantinha-se na liderança com seu Modelo A, a Chevrolet preparou seu lendário motor de seis cilindros e Walter Chrysler apresentou o possante Plymouth U de 45 cv.
Seriamente afetada pela Crise de 1929, a marca finalmente deixa de existir em 1931, dois anos antes da falência da Willys-Overland.
A marca continuaria a existir nas mãos de outros acionistas, e chegaria inclusive ao Brasil, onde teve papel fundamental no início da indústria automotiva nacional, alinhando modelos clássicos como o Aero Willys, Gordini, Interlagos, e Itamaraty. Mas essa já é outra história.
Alistamento obrigatório
Bem projetado, o motor de quatro cilindros do Whippet era tão avançado para sua época que serviu de base para o desenvolvimento de outro lendário motor: o Willys L134. Apelidado de Go Devil, ele fez fama nos campos de batalha com o Jeep Willys MB.
FICHA TÉCNICA - WILLYS WHIPPET 1928 | |
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Motor | 4 cilindros em linha de 2,2 litros, 31 cv a 2.800 rpm, torque não disponível |
Câmbio | manual de 3 velocidades |
Dimensões | comprimento, 365 cm; largura, 172 cm; altura, 180 cm; entre-eixos, 254,6 cm; peso, 941 kg |
Desempenho | Velocidade máxima de 80 km/h |