Vinícola chilena que iniciou projeto visionário 100% orgânico em 1998 é hoje a maior do mundo
Entre os rótulos da vinícola Emiliana, o Coyam se destaca como um símbolo da filosofia orgânica e biodinâmica
Repórter de Lifestyle
Publicado em 22 de novembro de 2024 às 15h58.
Última atualização em 22 de novembro de 2024 às 16h00.
“ Suave, texturizado, redondo e maduro, sem excessos. Elegante. Combina potência com delicadeza. Muito bom.” Foi assim que Robert Parker, um dos mais renomados críticos de vinho do mundo, descreveu um dos rótulos da vinícola Emiliana , no Chile. Mas o reconhecimento que a vinícola desfruta hoje não foi imediato. Quando os irmãos Rafael e José Guilisasti lançaram o projeto, em 1998, o ceticismo era grande, inclusive dentro do próprio setor vitivinícola.
Naquela época, a agricultura orgânica não era vista como uma solução viável em larga escala, especialmente em um mercado tradicional e competitivo como o dos vinhos. No entanto, os Guilisasti tinham uma visão clara: o mercado global estava em transformação, e a busca por práticas sustentáveis e produtos mais naturais era um caminho inevitável. Essa aposta os colocou na vanguarda de uma revolução no setor.
Hoje, 26 anos depois, a Emiliana é a maior produtora de vinhos orgânicos do mundo, com 14 milhões de garrafas anuais. O reconhecimento vai além da quantidade: a vinícola conquistou prêmios importantes e se tornou símbolo de qualidade, inovação e respeito ao meio ambiente. Entre os prêmios está a eleição de Vinícola Verde do Ano pela conceituada revista inglesa Drink Business.
Respeito ao terroir
O sucesso da Emiliana está diretamente ligado às suas práticas sustentáveis. A certificação orgânica que acompanha seus rótulos exige rigorosos cuidados, como a exclusão de pesticidas e fertilizantes químicos, além da implementação de técnicas que preservem o solo e a biodiversidade.
A enóloga-chefe Noelia Orts, que lidera o time técnico da vinícola, explica que essas práticas têm reflexo direto na qualidade dos vinhos. “Eu preciso ouvir o vinhedo e o solo. Por isso, o blend de cada ano muda”, destaca.Essa atenção ao terroir permite que os rótulos da Emiliana expressem características únicas, com aromas e sabores frescos que traduzem a essência das condições locais.
A vinícola está localizada em uma área transversal à cordilheira costeira, com solos vulcânicos que incluem granito vermelho, basalto e riolito. “Temos corredores biológicos com árvores, arbustos e plantas nativas, que ajudam a preservar o ecossistema”, explica Noelia. Essas práticas vão além do cultivo: criam um equilíbrio ecológico que garante a longevidade dos vinhedos.
Filosofia da Emiliana
Entre os rótulos da vinícola, o Coyam se destaca como um símbolo da filosofia orgânica e biodinâmica da Emiliana. Produzido em uma edição limitada de 60.000 garrafas, esse vinho icônico combina potência e delicadeza em cada safra.
Noelia esteve em São Paulo em novembro para apresentar o Coyam ao mercado brasileiro. Vendido por R$ 336 e importado pelo Grupo La Pastina, o rótulo é uma porta de entrada para consumidores que desejam experimentar a essência do terroir chileno com a assinatura orgânica.
Mercado Brasileiro
O Brasil ocupa um lugar de destaque para a Emiliana, sendo o quinto maior mercado consumidor da vinícola, atrás apenas de países como os Estados Unidos. Apesar disso, o gerente-geral da empresa, Cristian Rodríguez, aponta desafios na consolidação dos vinhos orgânicos no país. “Na Europa, o conceito já está consolidado e regulamentado. Aqui, ainda é preciso educar o público para que entenda o valor desses produtos”, explica.
Mesmo assim, o cenário brasileiro tem mostrado sinais promissores. De acordo com a consultoria IWSR, enquanto o consumo global de vinhos deve cair 1% ao ano até 2026, no Brasil, o consumo médio per capita cresceu de 1,8 litro em 2019 para 2,7 litros em 2022. Essa tendência reflete não só uma maior aceitação da bebida, mas também o interesse crescente por rótulos premium e orgânicos.
Vinhos no Brasil
Outro dado positivo é o crescimento do segmento de vinhos premium. Projeções indicam que o mercado de bebidas de alto valor deve crescer 50% nas Américas até 2026, com o segmento de vinhos premium expandindo 16% na região. Essa tendência abre portas para vinícolas como a Emiliana, que oferecem produtos diferenciados e de alta qualidade.
Com uma trajetória marcada pela inovação e respeito à natureza, a Emiliana continua a transformar o mercado global e conquistar consumidores em todo o mundo.No Brasil, a combinação de práticas sustentáveis e vinhos de excelência pode ser o próximo grande capítulo dessa história.