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Vegetais no centro do prato: como a cozinha vegetal transforma sabores e ressignifica ingredientes

A valorização dos vegetais na gastronomia une inovação, sabor e sustentabilidade em receitas e produções orgânicas

Vegetais: protagonistas da uma gastronomia criativa e sustentável (Rodolfo Regini/Divulgação)

Vegetais: protagonistas da uma gastronomia criativa e sustentável (Rodolfo Regini/Divulgação)

Carolina Gehlen
Carolina Gehlen

Head of Design

Publicado em 15 de dezembro de 2024 às 09h27.

Última atualização em 15 de dezembro de 2024 às 09h46.

"Eu nunca escondi meu amor pelos vegetais. Faz mais de uma década que venho enchendo de elogios a couve-flor, o tomate, o limão e a minha velha amiga, a poderosa berinjela." É assim que Yotam Ottolenghi, chef israelense conhecido por elaborar receitas que combinam ingredientes, com destaque especial aos vegetais, começa a introdução do seu livro Sabor (Companhia de Mesa).

Ottolenghi é autor de livros de culinária best-sellers do jornal americano The New York Times. Lançado em 2023, Sabor é o terceiro livro da série que aborda os vegetais e discorre sobre o que os diferencia e, com base nisso, sobre como criar formas pelas quais seus sabores possam ser intensificados e experimentados de uma nova maneira.

Um fácil exemplo disso pode ser aplicado ao coentro. Plantinha que exala um odor bem característico, da família das umbelíferas, nativa da Ásia; quando bem cuidada, traz um sabor e uma cor intensa a qualquer prato, muito distante do gosto forte, que rouba tudo que toca, que estamos acostumados.

Ou também ao ketchup de beterraba; mais inusitado e com um tom profundo entre o vermelho e o roxo, traz uma intensidade quase veludo, com um leve toque de púrpura, que encanta no prato pelo visual e chama toda a curiosidade para si.

Quando cultivados e utilizados de uma forma cuidadosa, o coentro, a beterraba ou uma infinidade de vegetais podem se tornar os protagonistas de uma refeição. Essa é a ideia da Fazenda do Retiro, que quer retornar as caraterísticas e os sabores do que é plantado.

Localizada na Serra da Mantiqueira, na cidade de Gonçalves, Minas Gerais, seu objetivo é contribuir para a agricultura orgânica no Brasil e fortalecer o mercado de alimentos naturais. A proposta integra campo e tecnologia no conceito Farm & Factory, com cada etapa planejada para garantir eficiência e segurança alimentar. Todos os produtos são orgânicos, certificados e cultivados na fazenda. E todo esse cuidado na plantação pode ser sentido na boca.

Fazenda do Retiro: referência em agricultura orgânica na Serra da Mantiqueira, unindo tecnologia e sustentabilidade (Divulgação/Divulgação)

A produção da fazenda abrange molhos, temperos, chás e cápsulas vegetais, garantindo que tudo venha da terra local. Criada em 2019 por Claudia Peroba, advogada de formação, e hoje umas das maiores produtoras de orgânicos do país, a fazenda de 113,42 hectares de área total e 34,059 hectares de produção orgânica, fornece para uma série de estabelecimentos como a rede de supermercados de São Paulo St Marche e Casa Santa Luzia e restaurantes como o Capim Santo e Puriman.

Dentro das hortaliças e aromáticas a empresa trabalha com mais de 20 espécies, como diversas variedades de beterraba, erva-doce, alecrim, menta, tomilho, orégano, manjericão, cúrcuma, tomate, entre outros. Há também variedades arbustivas e com fins comerciais, por exemplo, pimenta rosa, amora-preta, limão-cravo, limão-taiti, limão siciliano, laranja-da-baía, jabuticaba, amora, acerola, pêssego.

Para Claudia, a ideia de trazer para a mesa todo sabor possível que um vegetal oferece é uma das raízes nessa jornada no mundo dos orgânicos.

Poder sobrenatural

"Por mais que os vegetais tenham essa capacidade sobrenatural de serem transformados em uma infinidade de receitas deliciosas, é preciso um esforço criativo bem direcionado para revelar esse potencial, diz Ottolenghi no seu livro.

Esse é o tipo de empenho que acontece no TAU, comandado por Fábio Battistella e Gabriel Haddad, o restaurante, localizado em São Paulo, destaca os vegetais como protagonistas, em preparações minuciosas e que fogem do convencional.

Chefs Fábio Battistella e Gabriel Haddad, do TAU: inovação e técnica para destacar os vegetais como protagonistas (Rodolfo Regini/Divulgação)

"Queremos mostrar às pessoas que existem caminhos possíveis e interessantes, e que elas podem incorporar opções vegetais em sua rotina com mais frequência, sem precisar abrir mão de outras comidas", afirma Gabriel Haddad.

Os pratos, muito bem diagramados, deixam à mostra o que uma boa composição de vegetais pode apresentar, seja no visual, seja no sabor. É o caso da pasta de ervilha, espinafre e pistache, bonita e saborosa na mesma medida, acomodada no centro do prato e polvilhada com folhas e grãos, pronta para o naan quentinho que a acompanha.

O TAU trabalha com o conceito de flavor pairing, combinando ingredientes com base em seu gosto e aromas essenciais para criar pratos com harmonia de sabores. A técnica permite expandir as possibilidades, equilibrando bem gordura e acidez.

Pasta de ervilha, espinafre e pistache do TAU: um exemplo de criatividade e harmonia na cozinha vegetal (Rodolfo Regini/Divulgação)

A intenção não é rotular a cozinha como vegana, mas como uma cozinha de vegetais que oferece pratos autênticos, apurados em técnica e criatividade. “Aqui você nunca vai encontrar releituras, como moqueca de palmito ou estrogonofe de cogumelos. Queremos olhar para o ingrediente e, de fato, entregar o que ele tem de mais potente”, explica Battistella.

Essa potência que o vegetal apresenta, "a autêntica intensidade de sabor que ele naturalmente possui e que lhe permite desempenhar o papel de protagonista em um prato, relativamente sozinho, ou escolher e fazer brilhar outros vegetais", diz Ottolenghi no seu livro, revela em cada refeição a riqueza, a versatilidade e os sabores de uma cozinha vegetal.

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