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Vargas Llosa celebra em NY os 50 anos de seu primeiro livro

O escritor se referiu à sensação "extraordinária" que sente quando "a história começa a ter vida própria"

Llosa: "Escrever é apaixonante. Sinto a mesma ilusão e dificuldades que tive quando escrevi meus primeiros contos" (Wikimedia Commons)
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Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2012 às 06h46.

Nova York - O escritor peruano Mario Vargas Llosa comemorou em Nova York o 50ª aniversário de "A cidade e os cachorros", seu primeiro romance, que ganhou uma edição comemorativa e com o qual o prêmio Nobel começou na literatura, um "mistério" que ainda o "apaixona".

"Escrever é apaixonante. Sinto a mesma ilusão e dificuldades que tive quando escrevi meus primeiros contos. Não tenho facilidade para escrever, mas as dificuldades não tiram nada da fascinação, da exaltação e do entusiasmo", disse Vargas Llosa sobre seu ofício em um encontro no Instituto Cervantes de Nova York.

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O escritor se referiu à sensação "extraordinária" que sente quando "a história começa a ter vida própria, algo que sempre é misterioso", e que experimentou diante de cada nova obra de sua carreira, que começou com a publicação de "A cidade e os cachorros", em 1962.

"Aprendi muito com este romance, sobre a construção da história, os pontos de vista, a linguagem, adquiri certa técnica que depois repetiria e aperfeiçoaria em outros romances, e forjei uma forma de escrever que tinha a ver com minha personalidade, com minhas simpatias e diferenças no mundo literário", descreveu o autor.

O escritor peruano, que nasceu em Arequipa, em 1936, afirmou que "quase nenhum escritor começa sabendo que tipo de escritor vai ser, já que isso é algo que se descobre com a prática, e por isso as primeiras obras são decisiva".

Além disso, Vargas Llosa lembrou as dificuldades que enfrentou na estreia de seu primeiro romance devido à censura que imperava na Espanha. Segundo ele, a obra só foi publicada graças ao "esforço sobre-humano" de seu editor, Carlos Barral, quem manteve um ano de árduas negociações para que o livro fosse lançado.

"Ele falou com o ministro da Informação, com intelectuais bem-vistos pelo regime (franquista), como José María Valverde, para que falassem bem da obra. E eu também tive que viajar para Madri para manter uma conversa com o chefe da censura", afirmou o escritor.

Vargas Llosa lembrou de momentos de sua entrevista com o censor, que tinha reservas ao uso de frases como a que dizia que um coronel "era gordo, com o ventre de uma baleia", já que a interpretou como uma ironia aos militares. No entanto, o censor concordou em conservar a frase mudando a palavra "baleia" por "cetáceo".


"No final, só tive que tirar oito frases, que eram absurdas e disparatadas, e mesmo assim Barral as restituiu na segunda edição", explicou.

O prêmio Nobel de Literatura de 2010, que brincou dizendo que a condecoração é "uma semana de conto de fadas e um ano de pesadelo", retornou do passado para tratar de temas atuais, como o futuro do livro, "um objeto emblemático da civilização" que enfrenta uma "grande incerteza".

"Minha esperança é que o livro digital coexista com o de papel, e meu temor é que o livro escrito expressamente para as telas, não o transferido, seja muito diferente do tradicional, e que as telas façam o que a televisão fez com seus conteúdos: tornaram eles rápidos, leves e inclusive frívolos", questionou.

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