Um Crocs por 5.000 reais? Como a marca está virando hype
Colaborações com grifes e parcerias com artistas como Justin Bieber, além da quarentena imposta pela pandemia, valorizam as esquisitas sandálias de borracha
Ivan Padilla
Publicado em 16 de outubro de 2020 às 12h10.
Última atualização em 24 de outubro de 2020 às 22h10.
Está lá no eBay , para qualquer um pesquisar e até comprar. Um Crocs está sendo vendido por 5.000 reais. Sejamos justos e precisos: o preço é 5.501, 89, na conversão do valor em dólares. Não é um Crocs comum, claro. Trata-se de uma versão especial feito em parceria com a marca de moda streetwear Pleasures, com estampa de ossos do pé.
Tem mais. Se você continuar navegando, vai encontrar outro par por R$ 5.326,91. Também não é simples uma sandália colorida, que sai em média por 250 reais nas lojas brasileiras. Esse é um calçado com um desenho do artista contemporâneo japonês Takashi Murakami. Lindo, colorido – e caro.
A moda permite tudo. Até a redenção do Crocs, quem diria. Não que os esteticamente questionáveis sapatos tenham caído em desuso. Mas a estratégia recente e muito bem-sucedida de parceria com grifes e celebridades pode colocar a marca das sandálias de borracha em um novo patamar.
A mais recente colaboração, ou collab, no jargão da moda, da marca foi com o Justin Bieber . A coleção foi lançada esta semana em parceria com a Drew House, marca de roupas streetwear do cantor, que tem como marca a presença da cor amarela, e esgotou no mesmo dia. Recentemente a marca de calçados também havia apresentado uma linha com o cantor de reggaeton Bad Bunny. O sucesso foi ainda mais imediato: as sandálias foram vendidas em 16 minutos.
As collabs não se restringiram aos calçados. Também foram apresentados os chamados jibbitz personalidados. Jibbitz são aqueles acessórios de borracha que ficam presos nos orifícios das sandálias, uma febre entre crianças. No caso de Bibier, foram miniaturas de arco-íris, flores e o elementos ícones da Drew House. Com Bunny, estrelas e planetas baseados no álbum YHLQMDLG do cantor latino.
Celebridades de Crocs
Na semana anterior ao lançamento, em sua conta do Instagram, Bieber postou uma foto dos seus pés com um par das sandálias na piscina de sua mansão em Los Angeles, com uma simples frase: “Breve”. Foi o suficiente para as ações da Crocs subirem 11%.
Foi, na verdade, a coroação de um ano bem-sucedido devido à quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus e a consequente busca por conforto dentro de casa: os papéis da empresa subiram cerca de 240% de março para cá. Agora, a empresa está avaliada em 3,2 bilhões de dólares.
A Crocs começou seu reposicionamento e a ganhar projeção entre os formadores de opinião em 2017, com as primeiras colaborações no universo da moda. Uma das primeiras grifes parceiras foi a Balenciaga. No mesmo ano, em um desfile do estilista escocês Christopher Kane, os modelos usaram Crocs decorados com pedras e pompons nas passarelas.
Celebridades também foram escaladas para promover os calçados. As atrizes Drew Barrymore e Natalie Dormer foram embaixadoras oficiais da marca, com a missão de promover a robusta sandália para mulheres, principalmente no segmento jovem. Talvez o primeiro grande sucesso imediato nesse sentido, antecessor das parcerias com Bieber e Bunny, tenha sido com rapper Post Malone. Os calçados dessa linha colocados à venda esgotaram em10 minutos.
Além das colaborações oficiais, as aparições involuntárias de celebridades sempre ajudaram na imagem da Crocs, até porque estamos falando de um calçado inconfundível mesmo em imagens borradas tiradas por paparazzi. Quando o pequeno príncipe britânico George, filho do príncipe William e Kate Middleton, apareceu de Crocs, as vendas no país subiram por volta de 1.500%.
Origem da marca
A Crocs surgiu no fim dos anos 1990. Três amigos, George Bodecker, Lyndon Hanson e Scott Simans, ex-executivos de grandes empresas, se associaram para criar a marca. Com a empresa canadense Foam Creations, que desenvolveu um material polimérico próprio, eles criaram um sapato que pegava o formato dos pés, não cheirava mal e era simples de lavar.
As sandálias foram projetadas inicialmente para iatistas, mas logo começaram a ganhar outros mercados. Em 2002, a Crocs vendeu 200 pares de sandálias. Quinze anos depois, mais de 300 milhões de calçados com o crocodilo como logotipo foram compradas.
No início, o marketing parecia focado no conforto e a polêmica aparência era quase um asset. A marca faz parte de um grupo chamado no mercado de uggly shoes, da qual fazem parte a alemã Birkenstock, também de sandálias, e a UGG, de botas para o inverno. Usar um Crocs é quase um posicionamento de alguém que abre mão da estética em busca de qualidade.
Os acessórios jibbitz também foram uma grande sacada. Em 2005, o casal Cherie e Rich Schmelzer inventou os tais acessórios para enfeitar os calçados. O público-alvo dos enfeites eram crianças, mas logo também viraram item de moda. No primeiro ano, a empresa faturou cerca de 8 milhões de reais. Pouco depois, a Crocs adquiriu a companhia por 40 milhões de reais.
Em 2006, a Crocs estreou na Nasdaq, levantando 208 milhões de dólares em seu IPO. Em 2007, auge da companhia, a ação chegou a valer 75 dólares. A partir daí, no entanto, começou o declínio, causado por falta de demanda – afinal, as sandálias são bastante resistentes. A empresa também começou a sofrer com a concorrência de genéricos e falsificações.
Algumas polêmicas marcaram a trajetória da Crocs. Médicos logo aderiram aos calçados devido ao conforto, mas hospitais na Suécia chegaram a proibir sua equipe por produzir eletricidade estática e interferir no funcionamento de dispositivos médicos.
Até que veio a volta por cima a partir do reposicionamento, das novas parcerias e do atual momento de limitação de circulação das pessoas devido à pandemia. As vendas online da marca avançaram cerca de 70% no segundo trimestre deste ano. Compreensível. Você pode até não ter um Crocs no seu armário. Mas muita gente tem – e pelo visto ainda terá.