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Paulo Borges: passarela, games e metaverso na 52ª edição da SPFW

Após dois anos sem apresentações nas passarelas, o evento retorna com edição híbrida. Em conversa com a EXAME, o fundador e idealizador da SPFW, Paulo Borges, fala sobre os detalhes

Paulo Borges, fundador e idealizador da São Paulo Fashion Week. (Lu Prezia/Divulgação)

Paulo Borges, fundador e idealizador da São Paulo Fashion Week. (Lu Prezia/Divulgação)

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Julia Storch

Publicado em 14 de novembro de 2021 às 06h00.

Assim como a moda é um reflexo dos tempos, a São Paulo Fashion Week traz os diálogos e as pautas da sociedade para o evento. Consultorias, exposições e, é claro, desfiles são moldados por temáticas. Desde a última edição, em junho, “Regeneração” é a palavra que norteia os criadores.

    Escolhido ainda em 2019, antes da covid-19 ser declarada uma pandemia, para o fundador e idealizador da SPFW, Paulo Borges, o tema trata do que estamos aprendendo neste mundo de hoje e queremos resgatar e levar para o amanhã, escreveu em uma coluna.

    Porém, em abril do ano passado, seriam comemorados os 25 anos do evento de moda mais importante da América Latina. Com a pandemia, pela primeira vez em mais de duas décadas, o evento não ocorreu. Em outubro do ano passado, ainda com alta nos casos de contaminação, o jeito foi recorrer ao que estava literalmente nas mãos, aos celulares, que transmitiram o evento com o formato de apresentação em fashion films.

    Durante a 51ª edição, ocorrida em junho deste ano, ainda não estava confirmado se o evento de novembro seria presencial ou novamente no formato digital.

    A partir de terça-feira, a 52ª edição será em um modelo novo e híbrido, tanto com fashion films quanto com modelos nas passarelas presenciais. Para além de São Paulo, o evento terá o encerramento fora da cidade, em Niterói, no Rio de Janeiro, em comemoração aos 30 anos da marca carioca Lenny Niemeyer.

    Os limites físicos e digitais foram ultrapassados nesta edição. Para além das redes sociais, o evento estará, também, no metaverso. Avatares farão a vez dos apresentadores do evento, e a gamificação entrará nas passarelas. Em parceria com o jogo Free Fire, 20 das mais populares skins do game foram selecionadas para ser apresentadas no desfile inaugural da SPFW, na quarta-feira, 17, a partir das 19h30 nas redes sociais do evento.

    Em conversa com a Casual EXAME, Paulo Borges, fundador e idealizador do evento, conta sobre esse novo formato, a indústria da moda para além da SPFW, moda digital e o futuro do evento.

    Como foi planejar a edição híbrida, ainda no cenário de pandemia?

    Quando a gente pensou na temática do festival, Regeneração, foi em 2019, ninguém falava de pandemia, mas a gente já tinha pensado na estrutura de festival, o que a gente não contava é que em 2020 teria a pandemia, e a edição de abril de 2020 seria cancelada. E ficamos pensando, no que fazer. Em 2021, fizemos a edição de comemoração de 25 anos do festival. Desde o ano passado já pretendíamos fazer o evento neste ano em novembro no digital e presencial. Estabelecemos um padrão, e mesmo com toda a melhora mantivemos o desfile com distanciamento presencial, no line up, aumento no tamanho da passarela. Pensamos em como fazer com segurança.

    Fizemos 25 anos presencialmente e duas edições digitais. Agora é completamente diferente, temos a transmissão digital nas plataformas das 14h às 22h. Mas a gente tem o físico, que tem a vida própria, pois são quase 50 desfiles. Então, é uma temporada predestinada a ser histórica porque é um formato que a gente nunca fez, tem uma potência da indústria clara, e a gente fazendo o novo, de novo.

    Mas na verdade esta edição é a união de dois formatos que vocês já fizeram, certo?

    Sim, e tem algumas questões. Por exemplo, as semanas internacionais fizeram seus eventos digitais, e agora retomaram fortemente o presencial e também têm a transmissão digital. Mas tem um ponto de partida que é muito diferente do São Paulo Fashion Week, o evento foi pensado em um ambiente diferente de Paris, de Milão e até Nova York. A gente construiu um ambiente de colaboração, onde a maioria acontece no mesmo lugar, é onde a gente fornece toda a estrutura. É o que a gente chama de hub. Já nas semanas internacionais, os desfiles acontecem em diferentes lugares. Quando eu comecei a trabalhar com moda, nos anos 1980, Paris tinha isso, no Cour Carrée du Louvre.

    Conosco, nós temos a liberdade de fazer isso se um estilista quiser. Teremos a abertura [na terça-feira, 16] na Pinacoteca, e oito desfiles espalhados por São Paulo, mas o hub é o lugar que potencializa o todo. E hoje temos de experimentar as formas digitais e o presencial. Quem assiste digitalmente, o alcance é centenas de vezes maior do que o presencial. E quem está no presencial tem a experiência do contato físico e energético. Para a moda, o desfile tem de ser feito com plateia, até porque a linguagem do fashion film é outra.

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    E você comentou sobre o hub no Ibirapuera e as apresentações em outros pontos da cidade. Mas agora vocês vão fazer o encerramento do evento com o desfile da Lenny Niemeyer no Rio de Janeiro. Como surgiu essa ideia?

    Na primeira edição digital, em novembro do ano passado, nos demos conta, com toda a tecnologia disponível, que não há mais portas fechadas ou fronteiras. A SPFW pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Eu disse isso me referindo ao protagonismo regional, dando visibilidade a movimentos de moda regionais, como os 49 projetos de moda selecionados. Ai falei, ‘a SPFW pode estar em qualquer lugar’. Eu e a Lenny estamos conversando desde o ano passado, e ela me disse que precisava fazer o desfile dela no Rio para a celebração dos 30 anos da marca. Ela se deu conta da celebração da marca, que tem uma iconografia com a cidade, e eu a convidei para encerrar a temporada.

    Não é ao acaso, é pensado. Tem um sentido da celebração da marca, do que ela vai fazer na apresentação, e como isso mostra que estamos em um novo mundo. E isso vai acontecer mais vezes, desde que faça sentido. Eu vou amar fazer um desfile no meio da Amazônia.

    O evento tem São Paulo no nome, mas ele não se restringe mais somente à cidade.

    Nós sempre dissemos, “mais que evento, mais que moda”. Esse modelo de semana de moda, com tema, nosso desafio, enquanto país, seria provocar conversas, reflexões, trazer aprendizados para além dos desfiles, e isso sempre foi intuitivo desde o primeiro evento, com palestras, exposições, documentários. Existe um campo de construção que vemos como uma conquista, que é a discussão para além das passarelas, com assuntos como sustentabilidade, diversidade, equidade racial. Somos a única semana de moda no mundo que fez. Essas pautas e discussões fortalecem a própria semana de moda.

    Como foi a seleção de quais marcas irão apresentar os fashion films e quais irão apresentar com desfiles presenciais?

    Também foi um processo que a gente discutiu bastante, porque, como sabíamos que teria um limite de tempo, fomos pelo histórico das marcas. A linguagem digital para alguns estilistas, ficou muito forte, a ponto de os estilistas pedirem para se apresentarem com fashion films. Todas as estreias que ocorreram na edição passada e nesta, foram e serão digitais. Conversamos com cada estilista, e eles foram apresentando o que gostariam de fazer. O digital tem um fenômeno, que é muito ligado aos jovens, e essa linguagem que está emergindo é muito diversa, e as marcas estão encontrando suas linguagens.

    O jogo Free Fire fará parte da 52ª edição da SPFW. (Santander/Divulgação)

    E expandindo o assunto sobre moda digital e entrando no tema de metaverso, que em breve será uma realidade mais difundida. Qual é a sua opinião sobre o futuro desta moda que não é palpável?

    Estamos pensando nisso já faz um tempo. Para a transição, estamos testando um apresentador no metaverso, que é construído a partir de hiper-realidade, que é a nova geração dos games. Serão duas vozes dos apresentadores, uma será minha, mas com um corpo digital. Teremos nesta edição um lançamento de game, do Santander [patrocinador do evento] com Free Fire e SPFW.

    Free Fire é o jogo mais usado no mundo, e as roupas são o que as pessoas mais consomem nos games. Então, o Santander decidiu unir a moda com o game.

    Sobre a apresentação no metaverso. Qual é a relevância deste universo para o evento?

    Eu sou muito curioso, e a característica da nossa equipe é mergulhar nas experiências. Eu queria unir os games com a transmissão digital ao vivo, e, por obra do destino, um parceiro nosso pesquisa essa tecnologia. Então fizemos uma mistura das características dos negros com asiáticos, por exemplo, criando uma pessoa que não existe, mas que responde aos movimentos do meu corpo e utiliza minha voz. Criamos vários avatares, como uma mulher mestiça indígena, e uma mulher preta.

    E quem irá vestir esses avatares?

    Os avatares não terão uma roupa de estilista.

    Pensei que Lucas Leão [estilista que se apresenta no dia 20] vestiria os avatares.

    O Lucas recentemente fez um desfile lindo com hiper-realidade. O que você vê, acontece através de um filtro no Snapchat, e não o que está acontecendo na vida real. O que o Lucas irá apresentar mistura a realidade aumentada com o físico. Acredito que no ano que vem teremos desfiles presenciais com filtros de realidade aumentada e apresentações no metaverso.

    Os modelos de apresentação digitais estarão sempre se expandindo...

    Não tem isso de que um modelo de apresentação é melhor que o outro, cada estilista vai achar a sua linguagem. Estamos falando de humanidade, de ancestralidade e ao mesmo tempo sobre o futuro.

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