Raí, do São Paulo, contra Koeman, do Barcelona, na finalíssima do Campeonato Mundial de Interclubes (Ricardo Coorêa/Placar)
Da Redação
Publicado em 10 de dezembro de 2012 às 12h35.
São Paulo - Raí chega minutos atrasado ao encontro com jornalistas. “Tinha congestionamento no metrô”, brinca, ao entrar na Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. A ocasião é o lançamento do livro “1992 – O Mundo em Três Cores”, que conta os bastidores do primeiro título mundial do São Paulo Futebol Clube. O sucesso veio rápido. Calcula-se que o ex-jogador tenha assinado cerca de 500 exemplares naquela mesma noite. Vale acrescentar na conta outra porção de camisetas.
Perfeccionista, nunca quis rever os 90 minutos disputados na fria Tóquio daquele 13 de dezembro. Abriu a exceção para escrever o livro. Era mais lento em campo do que imaginava. Conta que a espera de seis meses para disputar o jogo contra o já poderoso Barcelona o fez agir de forma diferente logo na primeira disputa de bola. “Tentei um chapéu. Não lembrava que era o (Josep) Guardiola (ex-jogador e técnico de Lionel Messi nos anos dourados da equipe espanhola). Precisava animar os companheiros. Era o líder daquele time”. O vídeo foi além. Recuperou no ex-jogador alguns valores mais universais que o futebol. “Tem muita coisa que serve para a vida. O companheirismo, a construção de um grupo, as lideranças, como gerir crises… Acontece em qualquer ambiente”.
Após ser interpelado sobre a vida pessoal por um repórter do programa Amaury Jr., é a vez de um enviado da revista francesa L’Equipe pedir detalhes sobre o jovem Lucas, revelação são-paulina que defenderá o Paris St-Germain a partir de janeiro. Nem tudo é festa. Problemas de relacionamento e discussões também fizeram parte daquele ano mágico na história do clube do Morumbi – foram três títulos conquistados: Campeonato Paulista, Copa Libertadores da América e o Mundial Interclubes. “Num churrasco de confraternização, usamos os copos de cerveja para combinar o esquema tático”.
Irmão do Doutor Sócrates, um dos célebres jogadores da poderosa seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1982, Raí parece realmente contente em lembrar que sua geração recolocou Telê Santana no topo entre os técnicos brasileiros. “Ele foi o maior de todos os tempos”, opina. A declaração soa forte, mas a verdade é que o brasileiro venceu quase todos os maiores técnicos que pôde enfrentar: Johan Cruyff, Marcelo Bielsa e Fabio Capello. Contra Carlos Bianchi, megacampeão pelo Boca Juniors na década passada, fracassou frente o Veléz Sarsfield, na decisão da Taça Libertadores de 1994.
A receita para chegar ao topo passa exatamente pelos ensinamentos do ex-treinador sabidamente ranzinza e teimoso. “Ele sempre foi fiel à ideologia que acreditava. Gostava do futebol como arte, mas também como coreografia”. Não por acaso, o gol da virada no torneio intercontinental sai numa cobrança de falta à meia distância. Uma jogada insistentemente ensaiada, coreografada. Na comemoração, nada do tradicional soco no ar. Raí correu direto para o banco de reservas. Queria dividir a glória com seu mentor. Pouco antes de se dirigir ao complexo principal da livraria, onde centenas de fãs o aguardavam, sacramenta: “Ele era o Ayrton Senna dos treinadores. De dedicação, de esforço. Era até exagerado”.