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Oscar 2020: briga política brasileira e poucas surpresas

Premiação pode coroar Netflix e acirrar as discussões políticas no Brasil com uma eventual premiação do documentário "Democracia em Vertigem"

"O Irlandês": filme de Martin Scorsese e Netflix corre o risco de sair de mãos vazias do Oscar neste domingo (9) (Divulgação/Divulgação)

"O Irlandês": filme de Martin Scorsese e Netflix corre o risco de sair de mãos vazias do Oscar neste domingo (9) (Divulgação/Divulgação)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 7 de fevereiro de 2020 às 07h33.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2020 às 10h29.

São Paulo — Acontece neste domingo 9, no Dolby Theatre de Los Angeles, a noite mais aguardada do ano para os fãs de cinema e tapete vermelho: a cerimônia do Oscar.

A edição 2020, que pelo segundo ano consecutivo não trará um host (deu muito certo em 2019), promete focar mais nos filmes e na festa (haverá apresentação musical de Elton John e da ganhadora do Grammy Billie Eilish) e menos em alguma questão política.

É que os últimos anos foram quentes, com debates relevantes e urgentes tomando conta da cerimônia, fato que, inclusive, espantou a audiência mais conservadora e republicana (até Donald Trump comemorou as quedas na audiência em seu Twitter).

Teve ano que o movimento #MeToo, sobre assédio na indústria do cinema e a necessidade de mais representatividade feminina, principalmente na categoria de melhor direção, foi o foco da festa. Em outro ano, a questão do racismo serviu de centro para a cerimônia, que cobrou mais atores negros, latinos e asiáticos entre os indicados.

Mas esse ano a Academia parece não ter dado muito bola para os debates dos últimos anos. Entre os diretores indicados, apenas homens. Entre os vinte atores indicados nas quatro categorias de atuação, apenas Cynthia Erivo ("Harriet") não é branca. Resta aos vencedores aproveitarem o tempo de discurso para falar algo a respeito.

Joaquin Phoenix criticou a falta de diversidade no Bafta, em Londres, quando foi escolhido Melhor Ator por "Coringa". A chance de fazer o mesmo domingo é grande. Veganismo também pode estar na pauta do ator, que é vegano desde a infância. Ele elogiou os organizadores do Globo de Ouro, em janeiro, por terem servido um jantar plant-based.

Quanto aos indicados e vencedores, há sempre possibilidade de uma surpresa, mas em 2020 é improvável que algo saia do roteiro. É que os prêmios dos sindicatos, dados antes do Oscar, historicamente coincidem com os vencedores do Oscar, com poucas exceções.

Assim, basta olhar para o PGA (do sindicato dos produtores) e para o DGA (do sindicato dos diretores) para apostar que "1917" será o grande vencedor da noite, com seu diretor Sam Mendes também saindo premiado (mas Quentin Tarantino ou Bong Joon-ho podem atrapalhar a festa de Mendes).

Nos últimos quinze anos, em cinco oportunidades o PGA não coincidiu com o Oscar de Melhor Filme. O coreano "Parasita" é o grande azarão, mas seria disruptivo demais para a velha e conservadora Academia de Hollywood dar o prêmio máximo a um filme falado em coreano. Mesmo assim, os prêmios de Melhor Filme Internacional e Melhor Roteiro Original estão praticamente garantidos a ele.

A não ser que haja uma grande reviravolta entre os votantes, os quatro atores premiados serão Laura Dern ("História de Um Casamento"), Brad Pitt ("Era Uma Vez em Hollywood"), Renée Zellweger ("Judy") e Joaquin Phoenix ("Coringa"). Eles já levaram tudo até então: Globo de Ouro, SAG, Bafta. No Oscar não deve ser diferente. Adam Driver, Scarlett Johansson e Antonio Banderas podem surgir como azarões.

Por fim, os brasileiros devem ficar especialmente atentos à transmissão do Oscar domingo à noite. É que o documentário "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, concorre a Melhor Documentário ao lado de nomes fortes como "For Sama" e "Honeyland". O Brasil não demorou em arrastar a cerimônia para a sua polarização "esquerda X direita", que só cresce desde 2013.

A Secretaria Especial de Comunicação Social usou as redes sociais para atacar a diretora, que deu uma entrevista na TV americana falando sobre sua interpretação dos anos recentes (Dilma, Lula, Lava Jato, Bolsonaro etc). Petra qualificou o ataque de "criminoso".

Pedro Bial também escreveu texto inflamado, criticando a qualidade do filme. Já militantes de esquerda sonham com a vitória do filme da Netflix. Seria, oficialmente, o primeiro Oscar do Brasil - mas o cinema parece ter ficado um pouco de lado nessa torcida.

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