Restaurante Origem: comandados pelo chef Fabrício Lemos e a chef pâtissière Lisiane Arouca. (Leonardo Freire/Divulgação)
Repórter de Casual
Publicado em 5 de maio de 2023 às 07h00.
Curioso para saber quais são os melhores restaurantes nordestinos do Brasil? Para resolver essa questão, CASUAL Exame selecionou os representantes da boa gastronomia que foram reconhecidos por especialistas dos 100 Melhores Restaurantes do Brasil. Confira.
Pronto. No que se refere ao propósito número 1 do Origem — acabar com a ideia de que a culinária baiana se resume aos pratos típicos —, o chef Fabrício Lemos e sua mulher, a chef pâtissière Lisiane Arouca, podem se dar por satisfeitos. Inaugurado pela dupla em 2016, o restaurante já não se preocupa como antes em questionar os lugares-comuns da gastronomia local. No lugar do acarajé, por exemplo, o casal serve o que apelidou de abarajé, um abará que, depois de empanado, é frito. O shot de boas-vindas — sempre com cachaça e alguma fruta da época, como caju e jenipapo — equivale a um protesto contra a onipresença, na Bahia, das roskas, como as caipiroskas são chamadas localmente.
No Origem só há menu degustação, e o atual, a 250 reais (ou 510 reais, com harmonização), é dividido em 13 etapas e muda mensalmente. Começa com uma sequência de snacks, um melhor que o outro, a exemplo do peixe curado com sorbet de guacamole, amendoim, gergelim e molho aïoli com gengibre. Só depois vem o couvert, que antecede os quatro pratos principais — curado como uma carne de sol, o pato ganha a companhia de pirão de leite, purê, aipim e cebola caramelizada. Para encerrar, Arouca expede duas sobremesas que em geral não devem nada ao que veio antes.
Alameda das Algarobas, 74, Pituba, Salvador
Em relação à primeira edição do ranking “Os 100 melhores restaurantes do Brasil”, da EXAME Casual, o Manga deu um salto e tanto — pulou da 17a posição para a sexta. No Rio Vermelho, em Salvador, o restaurante ocupa um casarão pintado dessa cor e demorou para vingar. Inaugurado em 2018, abriu as portas oferecendo apenas menus degustação — servidos àquela altura, até onde se sabe, somente em outro restaurante da cidade, o Origem. Para cair nas graças do público local, o jeito foi acrescentar opções à la carte.
O Manga pertence a um casal de chefs, o baiano Dante Bassi e a alemã Katrin Bassi, que se conheceram quando ambos davam expediente no D.O.M, de Alex Atala, em São Paulo. O menu degustação elaborado a literalmente quatro mãos custa 295 reais (ou 510 reais, caso se opte pela harmonização de vinhos) e contempla dez etapas. Alterado aqui e ali de tempos em tempos, pode incluir pratos como vermelho frito — envolto em massa de cerveja, o pescado ganha a companhia de ouriço, alface, pepino e tobiko.
Sucesso absoluto, o crocante de cebola caramelizada com recheio de bijupirá defumado remete a um biscoito da marca Oreo (a pedida costuma entrar no menu degustação e à la carte custa 19 reais). Pode parecer difícil, mas tente guardar algum espaço para a sobremesa. Mesmo. Sumidade no assunto, Katrin expede opções fora da curva, como picolé de cajarana com chá de rooibos e chocolate branco (25 reais).
Rua Professora Almerinda Dultra, 40, Rio Vermelho, Salvador
O tradicional Mocotó dispensa apresentações. Na ativa desde 1973, atrai uma multidão até o bairro da Vila Medeiros, na zona norte paulistana – quase na vizinha Guarulhos (SP). Se nem todo mundo conhecia o chef do empreendimento, Rodrigo Oliveira, em breve será diferente, pode apostar – ele é o novo jurado do MasterChef Brasil, em substituição a Henrique Fogaça. Do baião-de-dois (a partir de 28,90 reais) à carne-seca desfiada com cebola roxa e finalizada com manteiga de garrafa (84,90 reais), todos os pratos costumam provocar elogios sem fim da clientela.
Avenida Nossa Senhora do Loreto, 1100, Vila Medeiros, São Paulo
Mais que preparar comidas saborosas, o Dona Mariquita presta um serviço ao resgatar receitas que eram servidas em feiras livres e barracas de rua pela Bahia. E, não à toa, o cardápio é dividido pelas influências gastronômicas – como “comida de baiano” ou de origens africanas. Toda a experiência é fiel à proposta de Leila Carreiro, que fundou o restaurante em 2016 e, até hoje, comanda a cozinha no boêmio bairro do Rio Vermelho. Há desde entradinhas, como mini acarajés com vatapá e camarões secos (por 40 reais), até pratos substanciosos como rabada com agrião (80 reais) e feijoada de frutos do mar (250 reais).
Rua do Meio, 178, Rio Vermelho, Salvador
Uma das grandes novidades gastronômicas de São Paulo em 2022, o restaurante do soteropolitano Rodrigo Freire, advogado e cozinheiro, presta tributo à cozinha baiana, mas de olho na contemporaneidade (o arrojado projeto arquitetônico não deixa mentir). Para tapear a fome a cozinha expede bons tira-gostos como pastel de arraia com leite de coco e azeite de dendê (37 reais) e camarão empanado com crocante de tapioca (37 reais). Para acompanhar, peça um dos drinques criados pelo bartender Christopher Carijó. O arroz que junta sobrecoxa de frango desossada, molho de camarão seco, castanha e farofa de banana da terra (77 reais) é um dos pratos principais mais solicitados.
Rua Fradique Coutinho, 276, Pinheiros, São Paulo
https://www.instagram.com/preto.cozinha/
Como o próprio nome indica, o ponto-forte do restaurante comandado por Ricardo Silva é a carne, ainda que a relação com o carvão seja mais próxima que a comum: o cozinheiro prepara os cortes diretamente sobre a brasa, que garante mais crosta e sabor defumado. Na lista de inovações, o chef também já maturou peças de bife ancho na cera de abelha por 90 dias. Por outro lado, há preparos cotidianos, como fraldinha (300g por 139 reais), chorizo (300g por 119 reais), e prime rib (500g por 229 reais), todos com acompanhamentos. O menu executivo custa 74,90 reais.
Rua Professor Sabino Silva, 5, Chame-Chame, Salvador
https://www.instagram.com/restaurantecarvao/
É na beira do lago – que pertence a um parque de wakeboard – que o Zoi propõe a conexão com a natureza ao redor. Prova disso é a decoração minimalista e as paredes de vidro, que ainda garantem vista privilegiada do pôr do sol. Só que também vale guardar parte do entusiasmo para o cardápio, que capricha nas opções e na apresentação. Entre os clássicos, há camarão rosa grelhado sobre farofa de tapioca frita (97 reais) e cordeiro cozido durante 40 horas com cuscuz marroquino (72 reais). Também dá para pedir menu de almoço (64 reais) e até combinados de sushi.
Avenida Hermenegildo Sá Cavalcante, S/N, Edson Queiroz, Fortaleza
Inaugurado em 2022, já virou um dos mais queridinhos de Recife. O cardápio já diz a que veio com a seção que lista petiscos para comer com as mãos, a exemplo do camarão empanado na farinha de tapioca acompanhado de molho tarê de rapadura (90 reais). O pão de açaí cozido no vapor, outro acepipe imperdível, é incrementado com camarão frito empanado na tapioca, maionese com toque de jambu, molho de cupuaçu e castanha do Pará (45 reais). Bater o martelo no prato principal não é fácil. Duas escolhas certeiras: peixe branco grelhado na manteiga ao molho de coco (160 reais) e moqueca de frutos do mar (260 reais).
Rua Baltazar Pereira, 130, Boa Viagem, Recife
https://www.instagram.com/voarrestaurante
Comandado pelo chef Thiago das Chagas, é uma parada quase obrigatória nos passeios de sábado pela região do Pátio São Pedro, em Recife. Auto-definido como uma marisqueria pernambucana, serve pratos substanciosos como arroz de camarão (109,90 reais, para duas pessoas) e baião de dois de peixe (42,90 reais). A caldeirada do mar com legumes orgânicos (58,90 reais) é outro hit do cardápio, que também lista drinques autorais. O mameluco junta vodca, xarope cítrico e folhas de hortelã (25,50).
Pátio de São Pedro, casa 33, bairro de São José, Recife
https://www.instagram.com/saopedrorestaurante
Entre se manter religiosamente fiel à culinária local e criar identidade própria, o restaurateur Edinho Engel bateu o martelo na segunda opção. E realizou isso com maestria: o cardápio do Amado, um clássico de Salvador, é recheado de criações próprias, mas que prestam tributo à baía de Todos os Santos. É o caso da salada de camarões e palmitos grelhados, guarnecidos de rúcula, tomates assados e citronete de maracujá (66 reais), e da casquinha de aratu com farofa de licuri (43 reais) – também chamada de palmeira sertaneja. Também há surpresas, como o cupim prensado à cavala (110 reais) e o confit de pato com arroz incrementado com quiabo (136 reais). A paisagem, vale dizer, é de tirar o fôlego.
Avenida Lafayete Coutinho, 660, Comércio, Salvador
http://www.amadobahia.com.br/
A proposta do chef Pedro Godoy é reinventar a culinária regional, mas não a ponto de assustar a clientela que torce o nariz para receitas inventivas demais. Para abrir o apetite da freguesia, ele expede, por exemplo, sanduichinhos de pernil com molho demi-glace, maionese e queijo parmesão (45 reais) e charutinhos com recheio de tartar de atum e cobertura de molho aïoli de wasabi com ervilha crocante (42 reais). A 100 reais, o pappardelle ganha a companhia de camarão empanado ao molho de coco e queijo, além de amêndoas tostadas e de molho teriyaki. Outro hit, o arroz de polvo é servido com berinjela empanada, tomate confitado, batatas salteadas, amendoim e aïoli de pão torrado (100 reais).
Rua Djalma Farias, 170, Torreão, Recife
https://www.instagram.com/arvorestaurante/
Poucos restaurantes conseguem representar tanto a cultura baiana como o Casa de Tereza – que faz diversas referências à história local e também às religiões de matriz africana. Tanto é que os menus degustação (350 reais para duas pessoas) homenageiam os Orixás e incluem até oferenda aos santos. No cardápio há pratos típicos da região, como as lascas de fumeiro em caramelo de laranja e cebolada (64 reais), além das generosas porções para duas pessoas do bobó de camarão (169 reais), da carne de sol com abóbora, aipim e feijão verde (153 reais) ou da moqueca de peixe (156 reais).
Rua Odilon Santos, 45, Rio Vermelho, Salvador
https://www.casadetereza.com.br/
Especializado em pescados, o restaurante de Angeluci Figueiredo se encontra na Ilha dos Frades, que fica a 1h30 de barco de Salvador – o empreendimento da chef é o principal chamariz. Decorado com galhos secos e flores desidratadas – substitutos daqueles guarda-chuvas coloridos que eram mantidos abertos, sobre as mesas –, o estabelecimento virou parada obrigatória de anônimos e famosos de passagem pela capital baiana. Um dos habitués é o artista plástico Vik Muniz, que tem casa em Salvador e elegeu como prato preferido o bife com batata frita, arroz e feijão do Preta. Para quem não tem planos de ir embora, a chef inaugurou em março de 2020 uma pousada ao lado, a Pretoca.
Rua Cláudio Leal Borges, 22, Ilha dos Frades, Salvador
https://www.instagram.com/restaurantepreta/