A ex-capitã da seleção feminina de futebol do Afeganistão, Khalida Popal. (CAMILLE BAS-WOHLERT/AFP)
AFP
Publicado em 26 de agosto de 2021 às 16h31.
Última atualização em 26 de agosto de 2021 às 18h34.
Ela deixa de dormir, mas não se rende. Na Dinamarca, onde mora, a ex-capitã da seleção feminina de futebol do Afeganistão organiza a expatriação de jogadoras ameaçadas pelos talibãs e deseja continuar seu combate pela emancipação das mulheres em seu país natal.
"Conseguimos levar 75 pessoas do Afeganistão, principalmente jogadoras e seus familiares", para a Austrália, afirma Khalida Popal, sentada na arquibancada do estádio do FC Nordsjaelland, clube da primeira divisão dinamarquesa, do qual é coordenadora do departamento comercial.
Refugiada no país escandinavo há dez anos – porque estava sob ameaça no Afeganistão –, a jovem não descansa. Presa ao celular, ela organiza, junto com outros atores como o Sindicato Mundial de Jogadores de Futebol (FIFPro), a retirada das jogadoras.
Sua caixa de mensagens não para de receber novos pedidos de ajuda.
Popal recebe relatos de jogadoras apavoradas, algumas delas perseguidas pelos islâmicos, outras agredidas e proibidas de jogar futebol, já que a prática esportiva feminina é proibida pelo Talibã.
"Tive de tomar as rédeas, junto à minha equipe, para ajudar as jogadoras a sair do Afeganistão. Elas choravam, queriam ser protegidas", conta.
"Disse a elas para se unirem, manterem a esperança, não desistirem. Foi o mais difícil", acrescenta, sem dar os nomes das atletas e das militantes que permanecem no país.
"Estamos tentando que mais jogadoras consigam sair do Afeganistão. Faremos tudo o que for possível para retirar nossas jogadoras de lá", afirma, com convicção.
Para ela, o futebol é uma paixão, mas, acima de tudo, uma ferramenta de emancipação primordial para as mulheres afegãs. Tudo o que ela aprendeu na quadra, começando pela superação e pelo espírito de equipe, coloca em prática agora.
Popal ainda se lembra de sua infância no Afeganistão, roubada pelos talibãs.
"Não pude ir à escola nem ter atividades sociais. O futebol foi nossa revanche contra os talibãs, nossa forma de mostrar que são nossos inimigos", confessa a jovem de 34 anos.
Depois de um início tímido há 15 anos, a prática do futebol entre as mulheres foi crescendo. Até que desapareceu, de um dia para o outro, com a queda de Cabul em 15 de agosto.
"Começamos com um grupo pequeno e aumentamos até 3.000 ou 4.000 meninas e mulheres", conta Khalida Popal. "Tínhamos árbitros, treinadores, mulheres treinadoras", lembra.
"Todas essas conquistas desapareceram com a queda de Cabul. É muito triste", suspira.
O futuro dessas jogadoras é incerto. Elas "talvez voltem a jogar futebol, mas não jogarão mais pelo Afeganistão, já que não terão país nem seleção nacional", desabafa.
Os talibãs "mudaram a bandeira do Afeganistão, a bandeira pela qual jogávamos com orgulho", lamenta. "Tiraram de nós o nosso orgulho".
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